O cenário da educação pública no Recife se tornou palco de intensas mobilizações e embates entre a categoria dos professores da rede municipal e a gestão do prefeito João Campos (PSB), após a deflagração de uma greve motivada pela insatisfação com a proposta de reajuste salarial apresentada pela Prefeitura. O impasse teve início quando a administração municipal propôs um aumento de apenas 1,5% nos vencimentos dos docentes, enquanto o magistério exige o cumprimento integral do Piso Nacional da categoria, que prevê um reajuste de 6,27%, conforme portaria do Ministério da Educação. O movimento grevista, liderado por sindicatos e apoiado por diversos coletivos educacionais, vem ganhando força não apenas nas escolas, mas também nas ruas do Recife, refletindo o clima de indignação crescente entre os profissionais da educação.
Nesta segunda-feira (12), o protesto assumiu contornos simbólicos e impactantes. Um dos principais pontos de circulação da capital pernambucana, a Avenida Conde da Boa Vista, foi palco de uma ação visual inusitada e provocadora. Um edifício comercial teve sua fachada transformada em uma tela de protesto por meio de projeções luminosas que exibiam frases contundentes direcionadas à gestão municipal. “A educação do Recife está em greve! João Campos, a culpa é sua”, dizia uma das mensagens projetadas, responsabilizando diretamente o prefeito pela crise instaurada nas unidades de ensino. A ação, que atraiu a atenção de pedestres e motoristas, gerou forte repercussão nas redes sociais e foi descrita como um grito silencioso, porém eloquente, dos profissionais da educação.
Enquanto as projeções dominavam a paisagem urbana da avenida, professores também se mobilizavam no nível do chão. Em meio ao vai e vem dos coletivos, distribuíram panfletos informativos à população, dialogaram com passageiros e comerciantes e buscaram explicar os motivos que os levaram à greve. Segundo os educadores, a pauta não se resume apenas ao reajuste salarial, mas a um conjunto de reivindicações que inclui melhores condições de trabalho, infraestrutura adequada nas escolas, respeito à jornada pedagógica e valorização profissional. “Estamos lutando para garantir o mínimo de dignidade. Não dá mais para aceitar salas superlotadas, falta de materiais básicos e um salário que não acompanha o custo de vida. Sem reajuste, sem respeito, sem condições dignas. Estamos nas ruas porque a sala de aula ficou insustentável”, declarou uma das coordenadoras do movimento, visivelmente emocionada após relatar episódios de adoecimento físico e psicológico entre os colegas.
A greve, que afeta milhares de estudantes e famílias, expõe o abismo entre as promessas de campanha e a realidade enfrentada pelos educadores no cotidiano escolar. A ausência de diálogo efetivo entre o executivo municipal e a categoria tem sido apontada como agravante da crise, uma vez que, segundo os representantes sindicais, as tentativas de negociação foram tratadas com desdém pela equipe da Secretaria de Educação. A mobilização segue sem previsão de encerramento e promete ampliar sua visibilidade nos próximos dias, com novas manifestações sendo organizadas em pontos estratégicos da cidade, sempre com o intuito de pressionar a gestão a rever sua proposta e atender às demandas dos professores que, diariamente, sustentam com esforço pessoal a base da formação cidadã do Recife.
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