O seminário fez parte do cronograma previsto pelo Requerimento nº 81/2025, apresentado pelo deputado Luiz Gastão (PSD-CE), que ampliou a discussão para além de Brasília ao determinar uma série de audiências e estudos com participação paritária entre trabalhadores e empregadores. A presença de diferentes setores no Recife refletiu um esforço para reconhecer que a jornada 6x1 afeta regiões e categorias de formas distintas, criando não apenas tensões econômicas, mas também impactos sociais e de saúde pública que raramente chegam ao centro do debate político nacional.
Ao abrir os trabalhos, Pedro Campos destacou que a escala 6x1 deixou de ser uma questão meramente produtiva e passou a representar um ponto de desgaste estrutural nas relações trabalhistas contemporâneas. A defesa por ele apresentada pela extinção dessa jornada, sem redução de salário, surgiu como uma tentativa de romper com um modelo considerado por especialistas como biologicamente desgastante e socialmente disfuncional. Em suas palavras, o país se vê diante de “novos tempos”, em que a revisão da jornada se torna inevitável diante de um mercado que exige eficiência, mas não pode mais sustentar-se à custa de jornadas extensivas que sacrificam o trabalhador.
Entre os presentes esteve o deputado federal Leonardo Prates (PDT-BA), além do reitor da Universidade Católica de Pernambuco, Padre Pedro Rubens, que reforçou a necessidade de debates públicos amplos para que decisões estruturantes sobre o mundo do trabalho não se limitem a análises técnicas. A participação de entidades como a FIEPE, representada por Maurício Laranjeiras, e a FECOMÉRCIO, por Jullyane Vasconcelos das Chagas, demonstrou a preocupação do setor empresarial com os possíveis reordenamentos produtivos que uma eventual mudança na legislação pode gerar.
No campo sindical, o presidente do SINTEPAV/PE, Aldo Amaral de Araújo, levou ao encontro a realidade de sua categoria, destacando que, apesar de algumas convenções coletivas já terem implantado a escala 5x2, a redução efetiva da carga horária permanece sendo a principal reivindicação dos trabalhadores. O dirigente apontou que a adoção de escalas menos extenuantes esbarra nas negociações e encontra resistências diante da pressão produtiva em setores como construção, indústria pesada e serviços contínuos.
A presença de especialistas da área jurídica acrescentou novas camadas ao debate. Karina Vasconcelos, assessora da Escola de Ciências Jurídicas da Unicap, ressaltou que o Brasil insiste em tratar a discussão sobre jornadas como um embate direto entre empregado e empregador, ignorando que longas cargas de trabalho afetam todo o tecido social. Suas reflexões moveram o debate para além dos muros das empresas ao destacar que o desgaste físico e emocional gerado pelo 6x1 repercute na formação das crianças, na segurança pública, no aumento dos custos do SUS e no adoecimento silencioso dos trabalhadores submetidos a rotinas de sobrecarga.
A fala de Karina provocou reações de diferentes setores presentes, reforçando que a jornada 6x1 ultrapassa o plano econômico e se transforma em um problema público que se acumula nas estatísticas de estresse, afastamentos, acidentes e queda de produtividade — fatores que pressionam tanto o Estado quanto as empresas. Ao defender que a discussão seja despolarizada, ela trouxe para o centro da mesa a ideia de que a realidade laboral brasileira já não comporta uma visão estreita sobre o tempo de trabalhar, mas exige que se observe também o tempo de viver.
Para o representante da FIEPE, Maurício Laranjeira, a relevância do seminário não está apenas na disputa de posições, mas no reconhecimento de que o país atravessa uma transição silenciosa no mundo do trabalho. Ele ressaltou que o que se debate hoje é, ao mesmo tempo, o futuro da economia pernambucana e o da economia nacional, numa perspectiva em que produtividade e saúde laboral precisam caminhar juntas. Sua fala reforçou que o setor produtivo encara o tema com cautela, mas sabe que ignorá-lo significa manter um modelo que já não responde às demandas de uma economia mais tecnológica, mais integrada e mais dependente de mão de obra qualificada e saudável.
O seminário realizado no Recife passou, portanto, a ser visto pelos participantes como um termômetro do que ainda está por vir no relatório final da Subcomissão Especial. À medida que outras regiões do país recebem eventos semelhantes, novas realidades, discrepâncias e experiências estão sendo reunidas para formar um panorama que mostre o peso real da escala 6x1 no cotidiano brasileiro. O que se desenha, desde já, é um campo de força em que pressões sociais, exigências produtivas e limites humanos colidem, forçando o Estado a encarar um dos debates mais sensíveis da atual década.
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