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terça-feira, 2 de dezembro de 2025

CLÃ BOLSONARO À BEIRA DA RUPTURA: DISPUTA PELO COMANDO ABALA BASTIDORES DA DIREITA


A turbulência que há meses se insinua nos corredores do Partido Liberal (PL) finalmente veio à tona de forma explícita: Michelle Bolsonaro e os três filhos políticos do ex-presidente — Flávio, Eduardo e Carlos — protagonizam um racha que expõe a crise mais profunda já vista dentro do clã. O conflito, antes restrito a recados velados e desconfortos internos, ganhou contornos públicos, amplos e ruidosos, revelando um cenário de disputa direta por protagonismo e controle do bolsonarismo num momento de fragilidade da família.

O episódio mais recente, que detonou a crise, envolve uma articulação política conduzida por Michelle no Ceará. A ex-primeira-dama, que buscava ampliar sua influência no Nordeste e assumir uma posição central na condução do movimento, tomou a iniciativa de desautorizar intermediários partidários, provocando uma reação imediata dos filhos de Bolsonaro. O gesto, avaliam aliados, foi visto pelos herdeiros como uma afronta direta à autoridade do pai, hoje fora do tabuleiro político por causa de processos judiciais e do desgaste acumulado.

UM CONFLITO ALIMENTADO POR PROTAGONISMOS E IRONIAS

A disputa não se resume à divergência estratégica. Nos bastidores, o clima esquentou com trocas de farpas envolvendo expressões usadas pelo próprio Jair Bolsonaro em seus discursos de palanque, entre elas o já célebre “imbrochável”. O termo, que por anos serviu de marca discursiva do ex-presidente, virou munição irônica na troca de provocações entre Michelle e os filhos, evidenciando a deterioração das relações internas.

Interlocutores do PL relatam que houve quem tentasse minimizar o conflito, mas a crise ganhou peso suficiente para acender o sinal vermelho no partido. Reuniões de emergência foram convocadas para tentar reconstruir pontes e impedir que a disputa interna se transforme em fissura partidária num momento considerado crítico — faltando pouco para o início das movimentações oficiais para 2026.

PL PREOCUPADO COM RISCO DE IMPLOSÃO POLÍTICA

A direção da legenda avalia que o racha pode ultrapassar os limites domésticos e se transformar numa crise institucional dentro do bolsonarismo. A dúvida central que assombra aliados é clara: quem tem legitimidade para falar em nome da marca Bolsonaro? Com o ex-presidente silenciado pela Justiça, preso e afastado da linha de comando há meses, o espaço de liderança ficou aberto — e é exatamente esse vazio que agora se transforma em campo de batalha.

Michelle tenta ocupar essa lacuna com uma presença pública crescente, discursos organizados e articulações planejadas. Nos bastidores, a intenção é construir uma figura de liderança capaz de dialogar com setores mais amplos do eleitorado conservador, especialmente mulheres e evangélicos. Já os filhos defendem que a herança política e simbólica do pai pertence a eles — e apenas a eles — cabendo-lhes a missão de preservar a imagem construída ao longo dos anos.

BOLSONARISMO EM XEQUE: O QUE ESTÁ EM DISPUTA

A crise expõe um movimento que aliados vinham tentando evitar: a fragmentação visível do bolsonarismo. A falta de consenso sobre quem deve assumir o comando abre espaço para incertezas na base, desalinha as estruturas locais do PL e enfraquece a capacidade de articulação nacional do grupo.

A disputa também levanta questões sobre o futuro eleitoral da direita no Brasil. Sem um nome forte definido e com o principal símbolo do movimento fora de cena, o bolsonarismo tenta evitar que desentendimentos internos se transformem em perdas de apoio ou rupturas irreversíveis. Nas palavras de um dirigente do PL, que acompanha a crise de perto, “o maior adversário do bolsonarismo neste momento é o próprio bolsonarismo”.

UMA CRISE FAMILIAR COM REPERCUSSÃO NACIONAL

O que poderia ser apenas um conflito doméstico ganha repercussões que ultrapassam os limites da família. O embate entre Michelle e os filhos não só abala a unidade interna, mas impacta negociações, alianças e estratégias eleitorais em diversos estados. A disputa por protagonismo revela uma batalha por poder que vai moldar — ou desfigurar — o movimento político que marcou a última década no país.

Com o calendário eleitoral avançando e o clã Bolsonaro dividido, o futuro do bolsonarismo parece cada vez mais incerto. Resta saber se haverá espaço para reconstrução ou se a implosão anunciada se consolidará como novo capítulo da direita brasileira.

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