O clima entre os grupos se manteve tenso até os últimos minutos da véspera da eleição, refletindo a dificuldade de consolidação dos votos dentro da sigla. Dos 97 convencionais aptos a votar, muitos preferiram o silêncio ou se mostraram indecisos, mesmo sob a pressão direta das lideranças de ambos os lados. Embora os aliados tentem transparecer confiança, o sentimento geral era de imprevisibilidade, alimentado pelas trocas de acusações que dominaram a campanha interna. Raul Henry, que entrou na política pelas mãos de Jarbas e esteve ao lado do ex-governador desde a juventude, não escondeu sua mágoa com a escolha de Vasconcelos de apoiar o filho na disputa, considerando que Jarbas não estaria em plenas condições de avaliar os acontecimentos políticos recentes.
O tom da campanha foi marcado por declarações duras e ressentimentos explícitos. Jarbas Filho acusou Raul de ser ingrato e desleal, chegando a chamá-lo publicamente de mentiroso e covarde. Henry, por sua vez, afirmou que Jarbinhas instrumentalizou a imagem do pai para ganhar força dentro da legenda, desconsiderando o histórico de lealdade que ele próprio construiu ao longo de décadas. A divisão interna do MDB, que já vinha se intensificando desde as eleições de 2022, atingiu agora um ponto de ruptura que, segundo membros veteranos do partido, pode resultar no enfraquecimento político de quem sair derrotado, com o risco real de ser “arquivado” para os próximos pleitos.
A disputa também tem repercussões importantes no cenário estadual, uma vez que o posicionamento do MDB poderá influenciar diretamente nas alianças para o governo de Pernambuco. Caso Raul Henry vença, a tendência é de que a legenda siga alinhada ao prefeito do Recife, João Campos (PSB). Já se Jarbinhas assumir o controle, existe a possibilidade de aproximação com o grupo político da governadora Raquel Lyra (PSD), embora interlocutores do partido alertem que esse movimento não seria automático e dependeria de novas conversas. Internamente, o MDB conta com 11 prefeitos em exercício no estado, sendo que apenas dois declararam apoio a Raul Henry, enquanto os outros nove estão alinhados com Jarbas Filho, indicando uma base municipal mais ampla para o jovem deputado.
A eleição acontece das 9h às 13h na Câmara Municipal do Recife e mobiliza não apenas os filiados, mas todo o campo político estadual, que observa com atenção o desfecho de uma disputa que coloca frente a frente um herdeiro político e um herdeiro biológico do maior nome da história recente do partido. Em vídeos publicados nas redes sociais, tanto Raul Henry quanto Jarbas Vasconcelos fizeram apelos emocionais aos correligionários. O atual presidente lembrou da trajetória conjunta com Jarbas e do protagonismo que o MDB já teve em Pernambuco, ressaltando a importância de reconstruir a unidade. Já o ex-governador, em sua reaparição pública, pediu apoio à chapa liderada por seu filho, prometendo resgatar um MDB mais popular, independente e próximo da população.
A eleição de hoje, portanto, vai além da escolha de um nome: trata-se da definição do futuro da legenda no estado, do posicionamento político para os próximos anos e, sobretudo, do controle do legado de Jarbas Vasconcelos, que agora se vê dividido entre a fidelidade de um antigo aliado e o sangue de seu próprio filho.
