A TRISTE DECADÊNCIA DO PT EM PERNAMBUCO: DO FERRO À FRAGILIDADE
Já foi o tempo em que o Partido dos Trabalhadores era uma força robusta em Pernambuco, referência nacional de militância combativa, identidade ideológica e liderança popular. Os tempos áureos, marcados por nomes como Fernando Ferro, João Paulo, Paulo Rubem Santiago, Jurandir Liberal e Henrique Leite, parecem cada vez mais distantes — como um passado em preto e branco que insiste em não voltar. Vamos dar uma analisada aqui NA LUPA desta quarta-feira.
O FIM DO “PT DE FERRO”
Hoje, o PT em Pernambuco está reduzido a uma caricatura do que já foi. Do ponto de vista ideológico, resta pouco. A legenda virou linha auxiliar de partidos com os quais, no passado, travava embates acalorados. Agora, contenta-se em ser cauda — e não cabeça — em alianças lideradas por Renildo Calheiros, Clodoaldo Magalhães, Joaquim Lira e João de Nadegi. Através de uma Federação com PT/PCDOB/PV, os maiores beneficiados dessa junção são exatamente os citados acima que se fossem montar chapas não teriam calda para suas eleições. O PT também virou muletas diz um filiado em reserva e membro da executiva municipal em Recife.
O SILÊNCIO DAS LIDERANÇAS HISTÓRICAS
O que mais impressiona nesse novo cenário é o desaparecimento político — e simbólico — de figuras históricas. Henrique Leite e Jurandir Liberal não têm mais protagonismo. João Paulo, ex-prefeito do Recife, hoje parece mais à vontade como figura decorativa em composições que priorizam cargos e não causas. O caso de Humberto Costa é emblemático. Outrora um dos maiores porta-vozes do campo progressista nordestino, hoje se vê aposentado de ideologia que defendia nos tempos de militância e vacas magras. Humberto Costa nada de braçadas no pragmatismo que lhe deu dois mandatos de senador e já olha para o horizonte se sentindo reeleito pra um terceiro mandato no Senado Federal em 2026. Seus antigos aliados reforçam o senador como símbolo de um pragmatismo que beira o personalismo.
FERNANDO FERRO: A VOZ DISSONANTE
Quem vocaliza o descontentamento que grassa entre antigos militantes é Fernando Ferro, ex-deputado federal por cinco mandatos e nome de peso da velha guarda do PT. Em declarações contundentes à imprensa, Ferro acusa o partido de “abdicar de seu papel político” e se contentar em ser um “sócio menor do PSB”. O PT virou um queijo do reino. Vermelho por fora e amarelo por dentro. Mais do que crítica, suas palavras são denúncia: “não entendo nem aceito essa submissão de colocar o PT no balaio do PSB a um ano das eleições”, disse, reafirmando sua candidatura à presidência estadual do partido. A declaração acima foi dada a imprensa essa semana quando o ex-deputado federal abordou temos sobre as eleições internas do PT em Pernambuco.
CORONÉIS DIGITAIS E SUBMISSÃO
Ferro vai além. Denuncia uma tentativa de hegemonia imposta pela corrente majoritária do PT no estado — a CNB, liderada por Humberto Costa — que, segundo ele, trabalha para manter o partido sob a tutela de “coronéis digitais e similares”. O ex-deputado aponta a interferência de “aliados” nas filiações para o Processo de Eleições Diretas (PED), com o objetivo de perpetuar o controle interno da legenda e sufocar vozes dissidentes.
A TRISTE REALIDADE ELEITORAL
Os números não mentem. O PT tem perdido espaço político e eleitoral nas últimas disputas. A votação de legenda despencou. Cadeiras nas câmaras municipais evaporaram. O partido não teve protagonismo em 2022 e parece caminhar para repetir o papel secundário em 2026, mesmo com a provável saída de João Campos da Prefeitura do Recife. O coice e a queda do PT veio no momento em que rifaram João da Costa, ex-prefeito do Recife indicado por João Paulo, mas que queria mandar no sucessor e na cidade. Como não foi possível veio o “coice e a queda” entregaram a prefeitura ao PSB e viraram “meninos de recado do PSB”. O preço que João Paulo e João da Costa pagaram foi alto demais. Sobrou o tombo maior para o PT, mas Humberto Costa enxergou na crise uma saída. Humberto foi da crise a euforia e dominou de vez. PT estadual.
O CASO VICTOR MARQUES: UM SÍMBOLO DO DESPRESTÍGIO
Um dos episódios mais simbólicos do esvaziamento do PT em Pernambuco foi o “processo humilhante” — nas palavras de Ferro — de escolha do vice-prefeito de João Campos. Após meses de expectativa, a legenda aceitou, passivamente, a imposição de um nome externo: Victor Marques, desconhecido do grande público e, segundo críticos, uma escolha feita para ser facilmente substituída quando necessário.
CANDIDATURAS “REBORN” E CARGOS COMO TROCA
Ferro ironiza a multiplicidade de candidaturas da CNB como algo semelhante a “candidaturas Reborn”, fazendo alusão aos tempos de “delírios digitais” em que o marketing vale mais do que a militância. Ele cita a desistência de Prazeres Barros, que, segundo relatos internos, teria aberto mão da disputa em troca de um pequeno cargo na Prefeitura. “Alguns colocam os nomes para conseguir vantagens pessoais ou criando dificuldades para ganhar facilidades”, disparou.
O RISCO DE EXTINÇÃO IDEOLÓGICA
A situação atual é vista por muitos como um processo de esvaziamento ideológico. O PT pernambucano, que já foi referência nacional, corre o risco de virar apenas uma legenda a mais, sem identidade, sem base, sem voz. A perda de quadros históricos e a fragilização da militância refletem uma crise de identidade: o PT, antes tribuna da esquerda, agora ocupa o canto da mesa.
UMA ELEIÇÃO INTERNA QUE PODE MUDAR RUMOS
No próximo dia 6 de julho, o PT realiza eleição para sua nova direção estadual. O pleito ocorre em meio a uma forte tensão interna. Fernando Ferro representa a ala que clama por soberania e resgate do protagonismo petista. Mas enfrenta uma estrutura poderosa, sustentada por anos de aparelhamento e alianças de conveniência. A eleição, embora interna, será decisiva para o futuro do partido em Pernambuco. Ou o PT se reencontra com sua história — ou segue se diluindo até virar um satélite irrelevante de forças que jamais compartilharam de seus valores.
UM CHAMADO À REFLEXÃO
A trajetória do PT em Pernambuco precisa ser revisitada, não com saudosismo, mas com autocrítica. Não se trata de voltar ao passado, mas de recuperar o fio da coerência, do enraizamento social e da combatividade política. Como alerta Fernando Ferro: “não é inteligente nem eleitoralmente consequente seguir nessa submissão”. Talvez ainda haja tempo. Mas o relógio político do PT pernambucano está perto da meia-noite. É isso aí.
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