Em meio a um cenário político marcado por embates acirrados e uma clara tentativa de capitalizar desgastes administrativos para fins eleitorais, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) voltou a protagonizar um episódio que revela mais sobre os interesses de alguns parlamentares do que sobre o que de fato é melhor para a população. Na manhã desta terça-feira, os deputados estaduais que presidem as comissões de Justiça, Finanças e Administração convocaram uma coletiva de imprensa para acusar o governo Raquel Lyra (PSD) de uso indevido de recursos de empréstimos, numa tentativa escancarada de travar a tramitação de um novo pedido de crédito no valor de R\$ 1,5 bilhão. A narrativa encampada por esses parlamentares, revestida de um verniz técnico que não resiste à menor análise, desconsidera a lógica básica da gestão pública e revela um esforço deliberado para gerar instabilidade e constrangimento institucional, às custas do progresso de Pernambuco.
O discurso de que o governo já dispõe de R\$ 9 bilhões e não teria utilizado quase nada é um exemplo evidente da desinformação proposital. Dos R\$ 9 bilhões mencionados, R\$ 1,5 bilhão corresponde, na verdade, a um refinanciamento de dívidas herdadas da gestão anterior, sob o comando de Paulo Câmara, o que por si só já anula parte substancial da argumentação dos opositores. Os R\$ 7,5 bilhões restantes, ao contrário do que se sugere, estão vinculados a uma programação financeira rígida, com parcelas a serem liberadas gradualmente, respeitando os critérios e prazos estabelecidos pelos convênios e instrumentos financeiros com o Governo Federal. Especificamente, o montante de R\$ 3,4 bilhões faz parte de um programa que prevê a liberação em três etapas: 2024, 2025 e 2026. O valor que já está efetivamente disponível para uso – cerca de R\$ 2,3 bilhões – já está sendo aplicado em obras concretas, como asfaltamento de rodovias e construção de moradias populares.
Os deputados que hoje se colocam como paladinos da responsabilidade fiscal parecem ignorar que a autorização legislativa é apenas uma das etapas do processo de captação e liberação de recursos. A burocracia que rege esses trâmites não permite a liberação imediata dos valores nem sua execução automática. Há um caminho legal, técnico e financeiro que precisa ser percorrido com rigor. No entanto, o que se vê na Alepe é uma tentativa de transformar esse processo em um instrumento de chantagem política, com objetivo claro de desgastar a atual gestão. O foco, ao que tudo indica, não está na análise criteriosa dos projetos ou na melhoria das condições de vida dos pernambucanos, mas sim na obstrução de ações do Executivo com olhos voltados para as urnas.
A insistência em sabotar a agenda da governadora por meio de expedientes regimentais e discursos inflamados não é apenas uma afronta ao princípio da harmonia entre os poderes, mas uma demonstração inequívoca de que parte da oposição está mais preocupada em criar narrativas do que em contribuir para soluções. A tentativa de ensinar o Executivo a governar revela, no fundo, a ausência de propostas concretas e o apego a uma prática política ultrapassada, que transforma disputas institucionais em palanques pessoais. Enquanto isso, obras importantes ficam paradas, projetos estruturantes são adiados e quem perde, mais uma vez, é a população.
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