A postura adotada pelo deputado estadual Antônio Coelho ao condicionar a liberação de recursos para o São João à revitalização do campus da UPE em Petrolina levanta preocupações legítimas sobre os métodos e as consequências desse tipo de pressão política. Embora a defesa da educação pública no interior seja uma pauta nobre e necessária, o bloqueio de um projeto de crédito suplementar destinado às festas juninas — que representam não apenas uma expressão cultural, mas também um motor econômico vital para dezenas de municípios — revela uma escolha que pode penalizar setores que não têm relação direta com o problema apontado.
Ao usar sua posição como presidente da Comissão de Finanças da Alepe para travar o andamento da matéria, o deputado coloca em xeque uma tradição cultural que envolve centenas de artistas, produtores, técnicos, comerciantes e trabalhadores informais, além de impactar diretamente a economia de pequenas cidades que se preparam durante meses para o ciclo junino. Trata-se de uma medida que extrapola a cobrança legítima por investimentos públicos e assume contornos de chantagem institucional, ao subordinar uma política pública à resolução de outra, como se o estado só pudesse funcionar sob barganhas.
A população não deve ser colocada no meio de disputas políticas. A UPE de Petrolina realmente precisa de atenção, e isso deve ser exigido com firmeza pelo Parlamento, mas não à custa de paralisar outras áreas importantes da administração pública. O São João movimenta bilhões de reais em todo o Nordeste e é responsável por preservar uma identidade cultural que atravessa gerações. Travar esse processo como forma de pressionar o Executivo é uma estratégia que fere o princípio da coletividade, pois transforma uma questão regional — ainda que justa — em obstáculo para uma política pública estadual.
Ao tentar impor essa condição, o deputado também assume um risco político: o de ser responsabilizado por possíveis prejuízos a eventos tradicionais em cidades que dependem do apoio governamental. É preciso reconhecer que a articulação política se faz com diálogo, negociações e construção de consensos, não por meio de bloqueios que comprometem setores inteiros da sociedade. O papel de um parlamentar é fiscalizar, propor e cobrar, mas nunca colocar os interesses da população como moeda de troca para resolver impasses que precisam de soluções técnicas e administrativas.
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