quinta-feira, 15 de maio de 2025

DISPUTA PELO MDB-PE EXPÕE RACHA ENTRE HERDEIROS DE JARBAS VASCONCELOS.

A disputa pelo comando do MDB em Pernambuco, marcada para o dia 24 de maio, extrapolou os limites da política e se transformou em uma contenda familiar de proporções delicadas. No centro da polêmica está o deputado estadual Jarbas Vasconcelos Filho, o Jarbinhas, que tenta assumir o diretório estadual da sigla com o apoio declarado de seu pai, o ex-governador e ex-senador Jarbas Vasconcelos, figura histórica da política pernambucana. Ao enfrentar a atual gestão, comandada por Raul Henry, Jarbinhas acabou se deparando com uma adversária inesperada: sua própria irmã, a advogada Adriana Vasconcelos, que compõe a chapa de Henry como candidata à vice-presidência da legenda. O embate expôs não apenas divergências políticas, mas também mágoas pessoais e ressentimentos familiares que vinham sendo poupados dos holofotes até então.

Jarbas Vasconcelos, mesmo afastado da vida pública e com a saúde fragilizada, demonstrou vontade clara de apoiar o filho na condução dos rumos do partido no estado. Segundo fontes próximas à família, Jarbas não apenas acompanhou os diálogos internos, como foi decisivo para a articulação que garantiu a Jarbinhas o respaldo do senador Fernando Dueire, atual aliado da governadora Raquel Lyra. A movimentação indica um desejo do ex-governador de reposicionar o MDB no tabuleiro estadual, mais próximo do Palácio do Campo das Princesas, afastando-se do núcleo liderado pelo PSB de João Campos. Para Jarbas, a condução do MDB por Raul Henry já se alongava por tempo demais e precisava de renovação, algo que ele enxerga em seu filho e nos novos quadros que vêm sendo agregados à chapa.

A surpresa para muitos foi a postura adotada por Adriana Vasconcelos, que, em carta pública, posicionou-se contra o irmão e a favor da manutenção de Raul Henry no comando partidário. Na mensagem, Adriana questiona o envolvimento do pai na disputa, alegando que ele teria manifestado neutralidade e o desejo de não mais participar de embates políticos. Ao sugerir que Jarbinhas estaria instrumentalizando o pai em benefício próprio, a advogada produziu não apenas um ruído político, mas um abalo emocional que impactou os círculos mais íntimos da família. O gesto foi lido nos bastidores como uma atitude de profunda ingratidão, especialmente por partir de uma filha que, até então, era considerada discreta nas disputas da política estadual.

A declaração de Adriana veio na esteira de uma nota divulgada por Raul Henry, em que o dirigente minimiza a influência de Jarbas, alegando que o ex-governador, aos 82 anos, já não teria condições de discernir com lucidez os rumos políticos do MDB. A fala foi interpretada como um ataque direto à história e à dignidade de Jarbas, que dedicou décadas ao fortalecimento da legenda. A resposta de Jarbinhas não tardou: sem citar diretamente a irmã, ele acusou Henry de usurpar o partido e desferiu críticas duras à ingratidão do ex-deputado em relação à trajetória de acolhimento que sempre teve dentro do grupo liderado por seu pai.

O episódio evidenciou uma fratura que vai além do MDB e revela um conflito geracional e afetivo no seio de uma das famílias mais emblemáticas da política pernambucana. Enquanto Jarbas tenta, mesmo sem cargo, transferir sua herança política a Jarbinhas, o gesto é confrontado publicamente por Adriana, que parece adotar uma postura de negação dessa mesma herança. A ruptura se dá de maneira pública, em cartas e notas que contrastam visões de mundo, de lealdade e de poder. O posicionamento de Adriana, além de surpreendente, escancarou uma divisão familiar que poucos esperavam ver exposta em meio a uma eleição partidária, conferindo à disputa um caráter dramático e simbólico.

A antecipação do processo eleitoral pelo presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, veio como uma tentativa de contenção da crise que crescia fora de controle. A antecipação da votação para maio, antes prevista para agosto, reflete a gravidade da situação e a preocupação com a imagem do partido em um estado estratégico. O MDB pernambucano, que já teve protagonismo em disputas estaduais, agora se vê em um impasse que mistura sangue e ideologia, afeto e poder. O papel de Jarbas, mesmo fora da cena pública, permanece central. Seu apoio a Jarbinhas não foi casual, tampouco fruto de manipulação. Trata-se da expressão de um desejo político legítimo e de um gesto de confiança paternal que, ao ser contestado pela própria filha, ganhou contornos de tragédia familiar sob os olhos atentos de todo o meio político.

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