A crise interna no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ganhou um novo capítulo com a demissão de Fábio Wajngarten da assessoria de comunicação do ex-mandatário. A decisão, tomada pelo presidente nacional do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, foi motivada por pressões da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que se sentiu traída após o vazamento de mensagens trocadas entre Wajngarten e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. As conversas, divulgadas pelo jornalista Aguirre Talento, do UOL, revelam que os dois assessores chegaram a manifestar preferência pelo presidente Lula em comparação a uma possível candidatura de Michelle ao Palácio do Planalto em 2026. A revelação causou incômodo imediato na ex-primeira-dama, que já nutria uma relação distante e tensa com Wajngarten há meses, marcada pelo afastamento pessoal e pela divergência de posicionamentos estratégicos no campo político e jurídico. Em uma das mensagens, datada de janeiro de 2023, Wajngarten compartilhou com Cid uma notícia que indicava que o PL cogitava lançar Michelle como candidata à Presidência. A resposta de Cid foi taxativa: “Prefiro o Lula”, ao que Wajngarten respondeu: “Idem”. O episódio gerou perplexidade entre aliados do ex-presidente, já que as mensagens foram trocadas em um momento em que Bolsonaro ainda estava elegível, e sua força política dentro da direita era incontestável. Michelle considerou a troca de mensagens um gesto de deslealdade e cobrou diretamente uma resposta de Valdemar Costa Neto, que decidiu pelo afastamento imediato do assessor. A situação foi agravada por outra fricção envolvendo o apoio público de Wajngarten ao ex-ministro da Justiça Anderson Torres, preso por suspeitas ligadas aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Eduardo Torres, irmão de Michelle, havia visitado Anderson e sugerido que ele se retirasse da vida pública, num gesto que refletia a tentativa da família Bolsonaro de se desvincular de figuras investigadas no inquérito do Supremo Tribunal Federal. Wajngarten, ao manifestar solidariedade ao ex-ministro, contrariou essa linha adotada por Michelle e Eduardo, alimentando o mal-estar. Na semana anterior à demissão, o próprio Jair Bolsonaro já havia reagido publicamente aos diálogos revelados. Em entrevista ao colunista Paulo Cappelli, do portal Metrópoles, o ex-presidente afirmou que a troca de mensagens era inaceitável e que pretendia conversar com Valdemar Costa Neto para adotar medidas. Bolsonaro reconheceu o papel de Michelle como uma figura de pulso firme dentro de sua equipe e indicou que ela era quem colocava “ordem na casa”, o que desagradava parte dos aliados. Ainda assim, demonstrou surpresa com a posição de Wajngarten e disse que, mesmo discordando do estilo de Michelle, os assessores deveriam respeitá-la. A saída de Wajngarten representa mais do que uma simples troca de cargos no staff bolsonarista. É reflexo direto da crescente influência de Michelle nas decisões políticas do PL e sinaliza a consolidação de sua presença como protagonista no projeto eleitoral de 2026, ainda que não esteja oficialmente confirmada como candidata. Internamente, a ala ligada à ex-primeira-dama tem fortalecido seu espaço no comando do partido, e a demissão de Wajngarten foi lida por interlocutores como uma vitória de Michelle sobre os remanescentes da antiga comunicação palaciana.
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