sexta-feira, 27 de junho de 2025

CID ACUSA ALIADOS DE BOLSONARO DE CERCO A PESSOAS DE SUA FAMÍLIA

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e peça central no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, prestou um novo depoimento à Polícia Federal e fez acusações graves contra aliados do ex-presidente. Segundo Cid, os advogados Paulo Cunha Bueno e Fábio Wajngarten — este último ex-secretário de Comunicação da Presidência — teriam tentado interferir diretamente no acordo de colaboração premiada firmado por ele. A denúncia, feita à PF na última terça-feira, indica que os dois teriam buscado contato com familiares de Cid, inclusive com sua filha menor de idade, numa tentativa de convencê-lo a desistir do acordo com os investigadores.

De acordo com a defesa do tenente-coronel, os contatos configuram uma clara tentativa de obstrução de Justiça. A acusação é de que Paulo Cunha Bueno teria abordado a mãe de Cid, Agnes, durante um evento realizado em São Paulo, com o objetivo de obter informações sobre o conteúdo da delação. Já Fábio Wajngarten, segundo o depoimento, teria feito várias tentativas insistentes de falar com a esposa do militar, Gabriela Ribeiro Cid, com o mesmo intuito. As ações não teriam parado por aí: Mauro Cid afirmou que tanto Wajngarten quanto o advogado Luiz Eduardo Kuntz — defensor de Marcelo Câmara, outro envolvido na trama golpista — mantiveram contato contínuo com sua filha, mesmo ela sendo menor de idade.

Esses contatos teriam ocorrido ao longo de 2023 e continuaram em 2024, período em que a colaboração premiada de Cid já estava em andamento. A gravidade da denúncia levou os advogados de Cid a entregar espontaneamente à Polícia Federal o aparelho celular da filha do militar, como forma de comprovar o teor das conversas e reforçar a denúncia de interferência externa. O caso já está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que classificou os atos como possíveis práticas de crime de obstrução de investigação. Moraes, que conduz o inquérito sobre a tentativa de golpe e o núcleo jurídico que tentava proteger os investigados, determinou que a Polícia Federal ouça os dois advogados citados: Paulo Cunha Bueno e Fábio Wajngarten.

A investigação contra eles está vinculada a um procedimento já em curso que apura se os defensores de Bolsonaro, junto com Marcelo Câmara e Luiz Eduardo Kuntz, agiram para acessar ilegalmente informações da delação de Cid. Na semana passada, Moraes já havia mandado prender Câmara justamente por indícios de que teria atuado nesse sentido. Com a nova revelação, o caso ganha contornos ainda mais delicados e expõe o nível de tensão entre os que integraram o núcleo mais próximo de Bolsonaro e os que agora colaboram com a Justiça. As novas diligências da PF podem ampliar ainda mais o alcance das apurações e trazer novas implicações para o entorno do ex-presidente.

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