quarta-feira, 18 de junho de 2025

MORAES AUTORIZA ACAREAÇÃO DE BRAGA NETTO E MAURO CID

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou nesta terça-feira (17) a realização de uma acareação inédita e de alto impacto político entre dois nomes centrais das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022: o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, e o general da reserva Walter Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa bolsonarista. A acareação está marcada para o dia 24 de junho e será realizada presencialmente na sala de audiências do Supremo, sob a supervisão da mais alta Corte do país.

O pedido partiu da defesa de Braga Netto, com a justificativa de que há contradições no depoimento de Mauro Cid que precisam ser sanadas. Cid, hoje um dos principais colaboradores da Polícia Federal nas investigações, firmou acordo de delação premiada e tem fornecido detalhes considerados cruciais sobre as articulações do núcleo político e militar que teria atuado para contestar o resultado das eleições e impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Os relatos de Cid envolvem diretamente integrantes da cúpula do governo Bolsonaro e das Forças Armadas.

Braga Netto, por sua vez, está preso preventivamente desde dezembro de 2024, acusado de participar do núcleo duro responsável por operacionalizar uma tentativa de ruptura institucional. Segundo as investigações conduzidas pela PF e acompanhadas pelo STF, ele teria participado de reuniões e deliberações estratégicas que envolviam planos para anular as eleições, convocar um estado de sítio e pressionar o comando militar a aderir a medidas de exceção. A prisão do general, um dos mais graduados a ser detido até agora, foi um marco simbólico na ofensiva judicial contra a articulação golpista.

A expectativa em torno da acareação é elevada, não apenas pela tensão entre os dois personagens, mas pelo potencial de novas revelações que o confronto direto pode proporcionar. Cid já apontou Braga Netto como uma das figuras influentes nas tentativas de elaboração de minutas de decretos de intervenção federal e reuniões paralelas com militares e assessores civis. A defesa do general nega todas as acusações e afirma que ele jamais participou de qualquer movimento que violasse a Constituição. A acareação, portanto, será um momento-chave para avaliar quem sustenta seus relatos sob pressão e diante do adversário direto.

No ambiente político e jurídico, o episódio é visto como mais um passo firme do STF e da Polícia Federal na reconstituição dos eventos que marcaram os bastidores do governo Bolsonaro após sua derrota nas urnas. A acareação também representa um recurso extremo no processo investigativo, utilizado quando versões contraditórias não podem ser dirimidas por outros meios. O gesto de Moraes, ao autorizar o encontro, demonstra que a Corte vê relevância concreta nas informações trazidas por Cid, mas considera necessário oferecer espaço para o contraditório de Braga Netto.

O procedimento será acompanhado por investigadores, advogados e representantes do Ministério Público, com possibilidade de perguntas cruzadas. Cid, que já prestou diversos depoimentos, terá que confirmar, frente a frente, as acusações feitas contra um de seus ex-superiores hierárquicos mais poderosos. Braga Netto, por sua vez, poderá reagir e tentar descredibilizar a delação do tenente-coronel, colocando em xeque a consistência da colaboração premiada que vem sustentando parte do avanço da investigação.

Esse será um dos momentos mais sensíveis da investigação sobre a trama golpista e poderá ter desdobramentos tanto no campo judicial quanto político. A presença de dois militares de alta patente, em lados opostos de uma investigação sobre ruptura institucional, materializa o conflito interno que se desenrolou nos bastidores do poder no final do governo Bolsonaro.

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