Por: Edways Couto
Aqui jaz o PSDB. O partido que por décadas foi um dos protagonistas da política brasileira, nasceu em 1988 como dissidência do MDB, liderada por nomes que marcaram a história do país, como Franco Montoro, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Foi sob a presidência de FHC que o Brasil implementou o Plano Real, estabilizando a economia e encerrando um ciclo de hiperinflação que corroía o poder de compra da população. Ao longo dos anos, o PSDB se consolidou como uma força nacional, governando o Brasil por dois mandatos consecutivos, entre 1995 e 2002, e comandando o estado de São Paulo por 28 anos. Também lançou candidatos competitivos à Presidência nas disputas seguintes, como José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves, que chegaram ao segundo turno em diferentes momentos, mas não conseguiram retornar ao Palácio do Planalto.
O ciclo, no entanto, foi perdendo força. Com o passar dos anos, o partido mergulhou em crises internas, perdeu espaço no Congresso e viu sua imagem se desgastar diante de escândalos, disputas regionais e uma dificuldade crescente de se posicionar ideologicamente num cenário cada vez mais polarizado. A derrocada ganhou contornos mais nítidos nas últimas eleições gerais, quando o PSDB sofreu sua pior derrota, com desempenho pífio nas urnas, queda no número de parlamentares e perda de influência em bastiões históricos. Recentemente, a legenda viu dois de seus últimos três governadores se afastarem: Raquel Lyra, de Pernambuco, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, ambos eleitos em 2022, tomaram rumos distintos, distanciando-se da executiva nacional e do que restava da direção partidária.
Nesta quinta-feira, em reunião de sua executiva nacional, com apoio das direções estaduais, o partido aprovou a fusão com o Podemos, uma legenda criada em 2017 que ainda trilha seus primeiros passos na política brasileira. O novo partido, que temporariamente será chamado de PSDB/Podemos, ainda busca um nome definitivo. A medida visa preservar direitos políticos e financeiros, como o tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão e o acesso ao fundo partidário, já que nenhuma das duas legendas, isoladamente, atingiria a cláusula de barreira estabelecida pela legislação. Juntas, somam 28 deputados federais e sete senadores. A expectativa é de que, após a aprovação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a nova sigla passe a atuar como uma frente unificada nas eleições municipais.
Durante o anúncio, o ex-senador e ex-presidenciável Aécio Neves afirmou que a decisão representa uma tentativa de resgatar valores políticos e oferecer ao país “uma alternativa vigorosa, honrada, ética e capaz de promover as transformações que os outros não fizeram”. Estavam ao seu lado o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, e o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, cuja permanência no novo projeto ainda é incerta. No Podemos, a expectativa é de que a deputada Renata Abreu, que comanda a legenda, assuma a presidência do novo partido. A decisão definitiva sobre a fusão do lado do Podemos será tomada em breve, e só então o processo será encaminhado ao TSE. Assim, encerra-se um capítulo da história política brasileira: o PSDB, que já foi símbolo de estabilidade econômica, hegemonia paulista e articulação de centro, deixa de existir como entidade própria.
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