O pedido de empréstimo de R$ 1,5 bilhão feito pela governadora Raquel Lyra ao Legislativo estadual dificilmente será votado ainda neste semestre. A matéria, que ainda aguarda o parecer do relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), deputado Waldemar Borges (PSB), enfrenta um cenário de paralisação na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), influenciado não apenas pelo calendário junino, mas também por tensões políticas entre o Executivo e a base oposicionista. Mesmo que Borges consiga finalizar seu relatório até a reunião da CCJ marcada para esta terça-feira, o trâmite legislativo impõe outras etapas que, por ora, tornam improvável a votação em plenário antes do recesso.
De acordo com o presidente da CCJ, coronel Alberto Feitosa (PL), a matéria, após passar pela Justiça, ainda precisará ser encaminhada à Comissão de Administração Pública, o que inviabiliza sua chegada ao plenário em tempo hábil. Ele afirmou que a votação do pedido de empréstimo ficará, na prática, para o segundo semestre. Embora o recesso parlamentar oficial só comece em 1º de julho, a prática já consolidada na Alepe é de que as atividades legislativas se encerrem logo após o São João, diante da dificuldade de quórum em meio às festividades do período. Como o dia 24 de junho é feriado, a reunião da CCJ desta semana será a última do semestre, encerrando, de forma antecipada, o funcionamento das demais comissões.
Nos bastidores, o atraso no andamento do projeto vem sendo atribuído à insatisfação de parlamentares da oposição com o não pagamento das emendas impositivas. Deputados relataram, sob condição de anonimato, que até o momento nenhuma emenda de 2025 foi paga pelo Governo do Estado, e que há pendências ainda relativas ao ano de 2024. O impasse tem gerado desgaste no relacionamento entre o Legislativo e o Executivo, com reflexos diretos na tramitação de pautas prioritárias do governo. Um deputado oposicionista revelou que a demora no pagamento das emendas tem sido vista como um desrespeito à autonomia da Casa e ao papel do parlamentar na execução das políticas públicas.
Para membros da oposição, o adiamento da votação de projetos importantes tem funcionado como uma espécie de recado político à governadora. A estratégia seria utilizar o controle que os opositores têm sobre as principais comissões — Justiça, Finanças e Administração — como forma de pressionar o Palácio do Campo das Princesas a cumprir com os compromissos assumidos com a base legislativa. O parlamentar ouvido por este blog ressaltou que a situação chegou a um ponto insustentável e que a governadora precisa aproveitar o recesso para repensar sua relação com a Alepe. Ele disse estar esgotado com os embates constantes e alertou que o clima de tensão é prejudicial para todas as partes envolvidas, inclusive para a população.
Apesar do impasse, o ambiente ainda é de expectativa. Parlamentares aguardam um possível gesto do Governo do Estado durante o recesso, o que poderia destravar a pauta no retorno dos trabalhos legislativos em agosto. Até lá, o projeto do empréstimo bilionário permanece estacionado, como símbolo de um embate político que mistura calendário festivo, estratégia legislativa e cobrança por reciprocidade institucional.
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