segunda-feira, 2 de junho de 2025

PROTAGONISMO NACIONAL PODE AFASTAR FUSÃO PODEMOS + PSDB

As conversas em torno da fusão entre o Podemos e o PSDB, que vinha sendo apresentada como uma estratégia de fortalecimento do chamado centro político brasileiro, estão esbarrando em um impasse difícil de contornar: o comando nacional da nova legenda. O entrave principal gira em torno da presidência do partido que viria a surgir da união. A deputada federal Renata Abreu (SP), atual presidente nacional do Podemos, não abre mão de continuar à frente da legenda unificada, uma exigência que vem sendo encarada com resistência e até rejeição por parte das lideranças históricas do PSDB. Tucanos influentes não admitem abrir mão da hegemonia partidária para uma sigla considerada menor e sem o mesmo histórico de protagonismo político.

Nos bastidores, aliados de Renata Abreu dizem que a parlamentar entende ser a figura mais adequada para liderar a possível nova agremiação por representar uma gestão moderna, pragmática e com uma agenda mais conectada às redes e ao eleitorado emergente. Já os tucanos, embora fragilizados por sucessivas derrotas eleitorais e pela perda de quadros relevantes, ainda mantêm a estrutura partidária mais capilarizada nos estados, com maior número de prefeitos e vereadores e mais tradição de comando político. Essa diferença de visão e de peso nas decisões tem dificultado avanços concretos.

Além disso, as conversas entre os dois partidos, que se intensificaram nos últimos meses com a aproximação das eleições municipais de 2024 e a necessidade de criar uma força alternativa aos polos Lula e Bolsonaro, não conseguiram ainda definir como se daria a unificação das direções estaduais e municipais. Em alguns estados, os dois partidos disputam as mesmas lideranças, o que gera atritos e desconfianças. Os tucanos querem preservar seus diretórios, enquanto o Podemos insiste em dividir o comando de forma equânime, com foco no futuro e não no passado político das siglas.

A dificuldade em acomodar interesses e vaidades vem sendo acompanhada de perto por observadores do cenário político, que enxergam no episódio uma síntese dos problemas enfrentados pelo centro político brasileiro: dificuldade de unidade, excesso de personalismos e ausência de um projeto comum. As tratativas, que até pouco tempo eram celebradas publicamente por lideranças dos dois lados, hoje estão cercadas de silêncio, com interlocutores admitindo, sob reserva, que o processo esfriou. No entorno de Renata Abreu, há quem já diga que o PSDB tenta “engolir” o Podemos, usando a fusão apenas como forma de recompor sua musculatura política às custas de uma legenda menor, mas em crescimento.

Por outro lado, tucanos históricos ainda veem na fusão uma chance de revitalização, desde que consigam manter a direção estratégica do partido. A dificuldade de encontrar uma fórmula de consenso pode acabar enterrando de vez o projeto, antes mesmo que ele saia do papel. A possibilidade de recuo passou a ser tratada como real nos dois lados, com aliados mais próximos afirmando que, caso a presidência não seja resolvida a favor do PSDB, a fusão dificilmente seguirá adiante. A construção de uma nova legenda, portanto, caminha na corda bamba, refém da disputa pelo topo da pirâmide e da incapacidade de costurar uma aliança com base no equilíbrio e na confiança mútua.

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