domingo, 13 de julho de 2025

BOLSONARISTAS RECONHECEM DESGASTE DE BOLSONARO COM TARIFA DE 50% DOS EUA E CRÍTICAS INTERNAS NO AGRONEGÓCIO

O anúncio da imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desencadeou uma série de reações dentro do cenário político brasileiro, principalmente entre os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Embora nas redes sociais o grupo bolsonarista busque atribuir ao atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva a responsabilidade pela medida, bastidores revelam um clima distinto, marcado por descontentamento e críticas internas que colocam em xeque a base de apoio de Bolsonaro, especialmente no setor do agronegócio.

Fontes próximas ao ex-presidente relatam que tanto Jair Bolsonaro quanto seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), têm sido alvo de questionamentos em grupos privados de WhatsApp, onde parlamentares e representantes do agronegócio expressam preocupação diante do impacto que a tarifa americana poderá causar na economia brasileira. A medida de Trump, vista por muitos desses interlocutores como um golpe contra os interesses do Brasil, é encarada como uma decisão que fere diretamente a cadeia produtiva e a competitividade do país nos mercados internacionais.

O sentimento predominante entre esses aliados é de que o ex-presidente não conseguiu estabelecer uma postura efetiva de defesa dos setores prejudicados pela nova tarifa, refletindo uma suposta falta de sensibilidade e empatia com os produtores rurais, que são diretamente afetados pela medida. Essa percepção tem provocado um esfriamento no apoio dentro de um segmento que historicamente foi um dos pilares da base bolsonarista, minando a força política do ex-mandatário junto a esse público específico.

Parlamentares alinhados à direita e com forte ligação ao agronegócio avaliam que a reação de Bolsonaro diante da situação não correspondeu à expectativa dos ruralistas, que esperavam posicionamentos mais firmes e articulados para evitar ou mitigar os efeitos das barreiras tarifárias impostas pelo governo norte-americano. O cenário, portanto, revela uma certa fragmentação interna, com o ex-presidente lidando com críticas que se intensificam conforme o impacto da tarifa começa a se refletir no cotidiano dos produtores.

A medida anunciada por Trump representa um revés econômico que vai além do simples aumento de custos para exportadores brasileiros, pois interfere na competitividade do Brasil em setores estratégicos, o que gera apreensão em toda a cadeia produtiva, desde os agricultores até as indústrias ligadas à exportação. A imposição das tarifas eleva o custo dos produtos brasileiros no mercado americano, um dos principais destinos das exportações agropecuárias do país, e pode acarretar uma perda significativa de participação, prejudicando a balança comercial.

Além das preocupações econômicas, o episódio expõe uma fragilidade política na articulação do bolsonarismo junto aos segmentos produtivos, principalmente em um momento delicado para o país, em que o agronegócio enfrenta pressões para manter a estabilidade dos mercados internacionais e proteger seus interesses comerciais. A falta de reação contundente por parte de Bolsonaro, em contraste com a reação esperada, demonstra um desgaste que pode impactar sua capacidade de mobilização e apoio futuro entre esses grupos.

Enquanto a narrativa oficial nas redes sociais tenta responsabilizar o atual governo pela imposição das tarifas, o que prevalece nos bastidores é o reconhecimento de que a decisão partiu do governo americano e que a gestão Bolsonaro não adotou medidas preventivas ou de interlocução eficazes para evitar a imposição da penalidade. Essa desconexão entre o discurso público e as análises internas revela uma crise de comunicação e estratégia dentro do bolsonarismo.

Diante do quadro, o apoio dos ruralistas a Bolsonaro torna-se mais restrito, configurando uma base minoritária que não reflete a força política anteriormente atribuída ao ex-presidente junto ao agronegócio. Essa situação pode acarretar repercussões importantes para a estratégia política de Bolsonaro, uma vez que o setor rural sempre foi fundamental para sua eleição e sustentação política.

O descontentamento não se limita aos bastidores do agronegócio, mas também reverbera em setores ligados à direita que avaliam que a postura de Bolsonaro careceu de uma leitura mais aprofundada da conjuntura internacional, assim como de ações mais articuladas para defender os interesses nacionais diante de medidas comerciais restritivas impostas por países parceiros. A falta de um posicionamento proativo tem sido apontada como um fator que contribui para a fragilidade do discurso bolsonarista em temas econômicos sensíveis.

Ao mesmo tempo, a imposição da tarifa expõe desafios para o Brasil em sua inserção no comércio global, especialmente em um contexto de disputas comerciais e tensões geopolíticas que exigem uma atuação diplomática e econômica coordenada. A medida de Trump, além de impactar diretamente o agronegócio, reflete uma estratégia mais ampla dos Estados Unidos para proteger seus mercados e setores produtivos, o que coloca o Brasil em uma posição vulnerável se não houver resposta articulada e consistente.

Esse cenário de desgaste político para Bolsonaro, especialmente dentro do agronegócio, reforça a complexidade da situação e a necessidade de ajustes na estratégia de comunicação e articulação política do ex-presidente. Com o aumento das críticas e a percepção de enfraquecimento, o bolsonarismo enfrenta um momento delicado em que terá que lidar com a perda de apoio em segmentos que foram fundamentais para sua ascensão.

A imposição da tarifa americana e a reação interna dos bolsonaristas revelam, assim, um momento de tensão e desconforto na base do ex-presidente, que precisa ser entendido como parte das transformações e desafios atuais no campo político e econômico brasileiro, sobretudo em relação ao relacionamento comercial com os Estados Unidos e o impacto disso no futuro político do bolsonarismo.

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