A pressão exercida pelo bolsonarismo no Congresso para costurar, paralelamente, a anistia ampla aos condenados pelo episódio de 8 de janeiro, vinculada à reversão do “tarifaço” de 50% imposto pelos EUA, não surtiu efeito na Câmara. Deputados de diferentes bancadas mantêm os dois temas separados, contrariando o intento da família e dos aliados de Jair Bolsonaro.
A articulação envolvendo Eduardo Bolsonaro, atualmente fora do País, e o discurso agressivo de Flávio, que classificou as tarifas como um "empurrãozinho" para aprovar a anistia, não avançou no plenário. Ambos sustentam que sem esse gesto político, não há espaço para diálogo em Washington.
No entanto, entre bolsonaristas já há receio de que medidas protecionistas como essa prejudicam mais o agronegócio e ameaçam pautas prioritárias, como o PL de reciprocidade comercial. Parlamentares do setor rural manifestam preocupação com o impacto imediato nas exportações.
Por outro lado, o centrão e o PT consideram que vincular a anistia ao tarifão seria “desmoralizante” e daria ao Brasil a imagem de ceder por chantagem estrangeira. Em conversas internas, líderes como Lindbergh Farias reforçam que a chance de aprovação é “zero”.
Diante desse cenário, a Câmara não incluiu o tema da anistia na pauta antes do recesso que se inicia em meados de julho. A distensão dos temas, em lugar de fusão, foi consenso entre os líderes, inclusive entre aliados de Bolsonaro que ainda avaliam os danos econômicos do tarifaço.
No Planalto, o governo Lula respondeu ao tarifazo anunciado por Trump com a convocação da embaixadora em Washington e a ativação da Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada em abril, para eventual retaliação aos EUA.
O presidente Lula reforçou ao anunciar medidas técnicas de contramedida que nenhum país poderá “tutelar” o Brasil, e classificou o tarifão como tentativa de interferência política, alinhada aos interesses do bolsonarismo no exterior.
O anúncio da medida norte-americana, previsto para 1º de agosto, foi recebido com críticas unânimes no Plenário: deputados lembram que trata-se de um ataque “absurdo” à soberania nacional, e acusam Eduardo Bolsonaro de atuar como correspondente do “imperador Trump” em Brasília.
A legislação brasileira permite agora respostas comerciais equivalentes — como aumento de tarifas sobre produtos americanos ou suspensão de acordos comerciais. A regulamentação do decreto será finalizada ainda este mês.
Flávio Bolsonaro reclamou em entrevistas na TV que o governo Lula não tem visão estratégica, alertando que a taxação pode atingir até 650% se não houver trégua. Ele defende que a anistia seja tratada como primeiro passo político.
Entretanto, juristas ouvidos afirmam que os processos conduzidos pelo STF seguem com total regularidade e sem evidência de perseguição. Para esses analistas, a estratégia bolsonarista soa mais como embate político do que negociação diplomática.
No âmbito interno, parlamentares do PT e de partidos de esquerda rechaçam a ideia de negociar a reversão do tarifão com base em um gesto que favoreça Bolsonaro, e defendem que o diálogo seja conduzido no terreno técnico.
Na prática, a tramitação do projeto de anistia segue lenta, travada por obstruções regimentais promovidas pela ala bolsonarista, que entretanto permitiu a aprovação do PL de reciprocidade sem grandes embaraços.
O resultado é que, ao fim deste semestre, só a pauta tarifária receberá atenção da Câmara; a anistia ficou fora do radar, sem prazo para retorno, e associada a risco político de baixa legitimidade.
Ao longo das próximas semanas, a tramitação técnica sobre o decreto interministerial de reciprocidade será acelerada, enquanto o Congresso entra em recesso. O debate sobre anistia, por ora, só retorna como estratégia eleitoral em 2026, se houver mudança de cenário
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