quarta-feira, 16 de julho de 2025

COLUNA POLITICA | NA LUPA 🔎 | POR EDNEY SOUTO

A LUZ QUE NÃO SE APAGA: SARNEY AOS 95 ANOS
UM SENHOR DO TEMPO E DA PALAVRA

José Sarney completa 95 anos em 2025, e o tempo não foi capaz de apagar a força de sua presença na história política, literária e intelectual do Brasil. Longe da caricatura de um ex-presidente isolado pelo tempo, Sarney chega à nona década de vida em plena atividade: agora, até nas redes sociais. Recentemente, inaugurou seu perfil no Instagram e, para surpresa de muitos, interage com frequência, comentando a política nacional, dividindo lembranças históricas e compartilhando reflexões poéticas. Vamos dar uma passada NA LUPA desta quarta-feira. 

REDES SOCIAIS: O NOVO PALCO DE UM VETERANO
O ingresso de José Sarney no universo digital comprova que idade não é sinônimo de obsolescência. Com publicações que mesclam trechos de seus livros, imagens de sua juventude e análises discretas do cenário político atual, o ex-presidente já conquistou milhares de seguidores. Muitos jovens, inclusive, têm descoberto por ali a profundidade de sua obra e a importância de seu papel na redemocratização do país. Sarney não apenas acompanha os tempos — ele continua escrevendo sua própria história.

DA DITADURA À DEMOCRACIA: O LÍDER DA TRANSIÇÃO
Não se pode falar da história da democracia brasileira sem mencionar José Sarney. Foi ele quem, em um dos momentos mais tensos da política nacional, assumiu a Presidência da República após a morte de Tancredo Neves e conduziu o Brasil com equilíbrio e habilidade para longe do regime militar. Seu governo foi marcado pela Constituinte de 1988, pela liberdade de imprensa e pela retomada da soberania civil. Ao passar a faixa presidencial a Fernando Collor, simbolizou o fim de um ciclo autoritário.

UM DEFENSOR FIEL DO MARANHÃO
Nascido em Pinheiro (MA), Sarney nunca deixou de defender sua terra natal. Mesmo tendo se projetado nacionalmente como senador pelo Amapá, sempre manteve laços firmes com o Maranhão. Foi governador, deputado, articulador político e patrono de diversas iniciativas culturais e sociais no estado. Sua figura ainda inspira respeito em todas as regiões do Norte e Nordeste. Sarney não foi apenas um político — foi um arquiteto de pontes entre os Brasis tão diversos.

UM IMORTAL DAS LETRAS E DOS LIVROS
Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1980, Sarney não é um político que escreve. É, acima de tudo, um escritor que fez da política uma de suas muitas formas de expressão. Autor de dezenas de livros, entre romances, ensaios, crônicas e poesias, mantém vastas bibliotecas particulares. Sua paixão pelas letras é tão intensa quanto suas dedicação à vida pública. Leitor voraz, cita clássicos com a fluência de quem vive entre livros, e com a reverência de quem compreende seu poder.

CONSULTOR DAS CRISES E GUARDIÃO DA MODERAÇÃO 
Mesmo longe dos cargos eletivos, Sarney segue sendo uma das mentes mais consultadas da República. Em Brasília, ministros, ex-presidentes e líderes partidários visitam-no em busca de conselhos. Não é raro que, diante de turbulências institucionais, seja lembrado como voz da moderação. Seu estilo conciliador, tão raro em tempos de radicalismos, o transformou numa espécie de “oráculo político”. Aos 95 anos, ele é ouvido com atenção — e cada palavra tem o peso de décadas de história.

O LEGADO DE UM ESTADISTA INTELECTUAL
José Sarney reúne, em si, a rara combinação entre erudição e habilidade política. Foi um presidente que não se contentou em governar: ele refletiu sobre o ato de governar. Escreveu sobre o poder, sobre o Brasil profundo, sobre a solidão dos homens públicos e os caminhos tortuosos da democracia. Diferente de tantos que passaram pela política como administradores técnicos ou populistas, Sarney deixou um legado de pensamento, de moderação e de cultura. Um intelectual nato com alma de estadista.

UM HOMEM DO PASSADO QUE INSPIRA O FUTURO
A chegada de José Sarney aos 95 anos é um convite à reflexão sobre o Brasil. Sua longevidade ativa mostra que a experiência ainda tem lugar numa sociedade ávida por soluções rápidas. Ele é um arquivo vivo do século XX e um observador atento do século XXI. Mais do que ex-presidente, ele é testemunha da história — e, mais importante ainda, agente dela. Sarney chega aos 95 não como relíquia, mas como símbolo: de inteligência, de moderação e de amor pela pátria e pelas palavras. E, sobretudo, de permanência. É isso aí. 


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