HUGO MOTTA E O TIRO PELA CULATRA QUE REANIMOU A ESQUERDA
O PLANO QUE SAIU PELA CULATRA
O que parecia ser uma movimentação técnica e de impacto político contra o governo Lula — a votação do projeto sobre a redução do IOF — acabou se revelando um erro estratégico que beneficiou, curiosamente, quem se pretendia enfraquecer: o Partido dos Trabalhadores. A iniciativa liderada pelo deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), ao tentar enquadrar o Executivo, reacendeu bandeiras que estavam adormecidas na esquerda e deu margem para um contra-ataque de comunicação extremamente eficaz. Vamos dar uma analisada aqui NA LUPA.
O IOF COMO GATILHO
A medida, que visava limitar a autonomia do governo sobre o IOF, foi recebida no Congresso como mais um gesto de contenção de gastos. No entanto, do ponto de vista político, foi rapidamente transformada pelo PT em um símbolo de resistência. O partido recuperou o discurso de que o Congresso age contra os interesses sociais, colocando o tema no coração da narrativa: a disputa entre elites políticas e as camadas mais pobres da população.
A NARRATIVA DO “ELES CONTRA NÓS”
O marketing do PT foi rápido e eficaz. A votação do IOF virou o combustível necessário para reacender a retórica clássica da esquerda: “eles contra nós”, “ricos contra pobres”, “mercado contra povo”. O erro tático de Hugo Motta foi oferecer o cenário perfeito para que Lula e seus aliados retomassem a linguagem que os levou a tantas vitórias eleitorais. E fizeram isso com precisão cirúrgica.
Ao judicializar a questão no Supremo Tribunal Federal, o governo federal mata dois coelhos com uma cajadada só. Primeiro, ganha tempo. Segundo, se posiciona como defensor dos programas sociais e, por tabela, das famílias brasileiras que mais dependem deles. Enquanto o Congresso se vê na defensiva, o Executivo ganha a narrativa popular. Para um governo combalido na popularidade, esse respiro caiu como uma luva.
HUGO MOTTA, O ARTÍFICE DO ERRO
Hugo Motta, até então discreto articulador, emergiu como protagonista do episódio. Mas não da forma como gostaria. Sua liderança na votação do IOF, a despeito da argumentação técnica, não foi acompanhada de uma estratégia de blindagem política. Ao deixar flancos expostos, deu ao PT o palco ideal para retomar protagonismo. A “bala de prata” se revelou um tiro pela culatra.
A REAÇÃO DA BASE GOVERNISTA
A base do governo federal, que vinha apática e dispersa, parece ter recebido com entusiasmo a nova oportunidade de confronto ideológico. Deputados petistas, líderes de movimentos sociais e até ministros passaram a vocalizar, em uníssono, que o Congresso age contra o povo. O IOF virou a bandeira simbólica de uma nova resistência. E quanto mais o debate avança, mais o PT se alimenta dele.
O RISCO DE FORTALECER LULA
Para setores da direita e do centro, o episódio serve como alerta. A tentativa de enfraquecer o governo pode, se mal calculada, produzir o efeito inverso: revitalizar Lula e preparar o terreno para 2026. Se a eleição presidencial já parecia difícil para o petista, agora surge uma chance real de reconfigurar sua imagem, principalmente entre os mais pobres e descontentes com o atual cenário econômico.
2026 COMEÇA AGORA
O episódio do IOF não é apenas um embate técnico ou jurídico. Ele se inscreve como o primeiro capítulo da campanha eleitoral de 2026. Hugo Motta, sem querer, antecipou o discurso eleitoral do PT. E o governo, que se via acuado e sem fôlego, agora tem bandeiras, argumentos e narrativa. Tudo isso, ironicamente, oferecido de bandeja por seus próprios adversários. Resta saber quem dará o próximo passo — e se ele será mais calculado do que o último. É isso aí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário