ISOLADA E SEM BASE: MARÍLIA ARRAES ENFRENTA O MAIOR DESAFIO POLÍTICO DE SUA CARREIRA
SOLIDARIEDADE ESVAZIADO E ALIADOS MIGRANDO PARA RAQUEL LYRA
Depois de ser protagonista de duas eleições majoritárias em Pernambuco, Marília Arraes vive um momento de profunda reacomodação política. Sem mandato e com o Solidariedade enfraquecido, a ex-deputada vê seus antigos aliados se aproximarem da governadora Raquel Lyra (PSDB), que vem consolidando uma ampla base de apoio no estado. A debandada começou de cima: André de Paula, que um dia foi aliado, hoje lidera o PSD como um dos pilares do governo estadual. Os irmãos Sebastião e Valdemar Oliveira, do Avante, seguiram o mesmo caminho, levando junto boa parte do grupo político que antes orbitava em torno de Marília.
DEBANDADA NA ALEPE E UM PARTIDO À DERIVA
Na Assembleia Legislativa, a situação é ainda mais delicada. A bancada do Solidariedade, que já foi um braço de sustentação do projeto político de Marília, praticamente se desfez. Fabrizio Ferraz, Luciano Duque e Gustavo Gouveia, Wanderson Florêncio embora ainda formalmente filiados à sigla, atuam de maneira alinhada ao Palácio das Princesas. Essa fidelidade ao governo de Raquel é vista como questão de tempo para se oficializar durante a janela partidária de 2026. A legenda, portanto, perdeu sua coesão e, com isso, sua relevância no jogo político estadual.
O PODER DE RAQUEL E O CUSTO DA INDEPENDÊNCIA
O fenômeno mostra com clareza o poder de atração que emana do Palácio das Princesas. Raquel Lyra abre espaço para quem decide se alinhar ao seu projeto. Em contrapartida, quem permanece fora do círculo de poder acaba isolado. Marília Arraes, que sempre se apresentou como voz da oposição e defensora da coerência política, hoje enfrenta o peso de ter ficado sem acesso às engrenagens que movimentam a política pernambucana. A força do idealismo, neste momento, parece insuficiente diante da influência de quem detém a caneta.
O REENCONTRO COM O PSB E A BUSCA POR SOBREVIVÊNCIA
Sem base e sem mandato, Marília se viu obrigada a reaproximar-se do PSB, partido que criticou duramente nos últimos anos — inclusive durante a campanha de 2022, quando foi adversária direta do grupo de João Campos. Essa reaproximação, mais pragmática do que ideológica, é um sinal de que ela busca espaço em uma possível aliança para 2026. No entanto, dentro do PSB, o terreno é hostil: João Campos tem sua própria articulação com o PT e com figuras nacionais, e não há consenso sobre abrir espaço para o retorno de Marília na chapa majoritária.
Marília aparece bem posicionada nas pesquisas para o Senado, liderando cenários com folga. Mas o problema não é o eleitorado — é a estrutura. A ex-deputada não tem hoje um partido com musculatura suficiente para bancar uma candidatura majoritária competitiva. O Solidariedade dificilmente formará chapa proporcional robusta, o que compromete o financiamento e o tempo de TV. Além disso, o espaço na chapa de João Campos já é disputado por pesos-pesados como Humberto Costa (PT) e Silvio Costa Filho (Republicanos), ambos com base consolidada e forte influência nacional.
Diante desse quadro, o caminho de Marília para o Senado parece cada vez mais estreito. Se não conseguir uma composição dentro do bloco de João, restará o “plano B”: disputar uma vaga de deputada federal. Ainda assim, mesmo na disputa proporcional, as dificuldades são grandes. Sem uma chapa forte, o Solidariedade corre o risco de não eleger nenhum deputado, o que poderia forçar Marília a buscar abrigo em outra legenda durante a janela partidária. O problema é que, com sua base fragmentada, a negociação por abrigo em outro partido se torna mais difícil.
A debandada dos antigos aliados não é apenas um golpe político, mas também simbólico. Ela reflete a percepção de que o poder é o grande catalisador das lealdades na política pernambucana. Enquanto Raquel Lyra concentra apoios e estrutura, Marília tenta reconstruir um espaço num terreno cada vez mais hostil. A ausência de mandato a impede de distribuir emendas, nomear aliados e manter sua base mobilizada — elementos essenciais para quem deseja sobreviver no jogo político.
O FUTURO INCERTO DE UMA LIDERANÇA EM RECONSTRUÇÃO
Hoje, Marília Arraes paga o preço de ter ficado fora do centro das decisões. A liderança que um dia simbolizou resistência e alternativa à velha política precisa agora de paciência e inteligência para se reinventar. O desafio é grande: reconectar-se com o eleitorado, reorganizar sua base e decidir se ainda vale a pena insistir na disputa majoritária. O tempo corre, e, em Pernambuco, o poder continua girando em torno de quem está no comando — não de quem ficou na oposição. Para Marília, o futuro depende da capacidade de transformar isolamento em oportunidade e fragilidade em estratégia. É isso!
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