A avaliação, contam aliados próximos, não é fruto de estratégia para despistar adversários. É convicção. Formado no Exército e moldado pela lógica da gestão pública, Tarcísio carrega uma visão pragmática sobre prioridades, riscos e tempo de entrega. É o engenheiro militar que calcula cada passo e o gestor que prefere concluir antes de avançar.
A trajetória reforça essa postura. Antes de ingressar no primeiro escalão do governo Bolsonaro, Tarcísio serviu também à administração da então presidente Dilma Rousseff, do PT, construindo uma carreira técnica longe das disputas partidárias. Foi Bolsonaro quem o tirou dessa zona de conforto e o convenceu a disputar o governo de São Paulo, mesmo sem o histórico de quem já enfrentou as urnas. A vitória o transformou no principal nome da direita fora da família Bolsonaro — e justamente por isso o governador sente-se devedor ao ex-presidente, hoje detido, mas ainda figura central no campo conservador.
O vínculo pessoal e político pesa. Tarcísio repete a interlocutores que não “abandona amigo ferido”, reforçando o reconhecimento a Bolsonaro, que o projetou nacionalmente. Ele teme, porém, o imprevisível. O humor do bolsonarismo pode ser explosivo — e mudanças repentinas de orientação, declarações intempestivas ou ataques internos fazem parte do histórico da direita radicalizada.
A preocupação aumenta com os movimentos de figuras como Eduardo Bolsonaro, que já afirmou, mais de uma vez, que não se importa em dividir a direita se achar necessário. “Estou me lixando se falarem que divido a direita”, disse o deputado recentemente, alimentando especulações sobre rachas e ataques futuros caso Tarcísio avance rumo ao Planalto sem o timing desejado pelo clã.
Ainda assim, dentro e fora do governo paulista, a pressão para que ele aceite o desafio nacional cresce diariamente. Financiadores, líderes partidários e analistas políticos insistem que seu desempenho, considerado moderado e articulado, o coloca como o único capaz de derrotar Lula ou o candidato petista em 2026. Tarcísio observa, escuta e calcula — mas evita se deixar arrastar pela onda.
Projetos estratégicos como obras de infraestrutura, programas de desburocratização e parcerias público-privadas ainda estão em fase intermediária, e, segundo ele, só ganharão maturidade durante um eventual segundo mandato. Abandoná-los agora seria, em sua avaliação, desperdiçar um legado em construção.
Entre a lealdade a Bolsonaro, o pragmatismo administrativo e a tempestade política que se forma ao seu redor, Tarcísio tenta segurar as rédeas da própria trajetória. A pressão cresce, mas o governador segue firme em manter o plano inicial: terminar o que começou em São Paulo antes de se projetar para Brasília.
Se conseguirá resistir até o limite, ninguém arrisca prever. Nem mesmo ele.
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