Por Greovário Nicolas
A direita brasileira parece ter se esquecido de suas próprias bandeiras. O discurso de liberdade, pluralidade de ideias e renovação política tem sido sufocado por uma prática antiga e retrógrada: o coronelismo travestido de conservadorismo. O que se vê hoje é uma direita que implode por dentro, vítima da arrogância de suas cúpulas e da falta de diálogo com suas próprias bases.
Em diversos estados, lideranças locais que sempre estiveram na linha de frente, defendendo pautas conservadoras e mobilizando eleitores, estão sendo ignoradas ou descartadas. A razão é simples: o comando bolsonarista quer manter o controle total, impondo candidaturas e decisões sem ouvir quem realmente conhece a realidade política de cada região. Essa imposição autoritária cria um abismo entre as lideranças estaduais e o núcleo mais próximo da família Bolsonaro, que se fecha em torno de um pequeno grupo e despreza o capital político construído nas pontas.
O resultado é desastroso. Sem diálogo, sem escuta e sem valorização das bases, a direita se torna um movimento enfraquecido, dependente de figuras concentradas no poder, e incapaz de se renovar. O conservadorismo, que deveria ser uma força viva, plural e baseada na defesa da liberdade, está sendo transformado em uma estrutura hierárquica que lembra o velho sistema dos coronéis — onde poucos mandam e muitos obedecem.
A direita que nasceu para combater o autoritarismo agora reproduz, de forma ainda mais perversa, os mesmos vícios que criticava. Em vez de construir pontes e fomentar novas lideranças, prefere erguer muros, criar rivalidades internas e deslegitimar aqueles que não se curvam aos ditames da cúpula. O discurso de união virou retórica vazia, e o que resta é um cenário de desconfiança, disputas e vaidades.
Essa estratégia de controle total pode até garantir, por um tempo, a hegemonia de alguns nomes dentro do campo bolsonarista, mas cobra um preço alto: o esvaziamento político da direita como movimento de massa. Em vários estados, lideranças conservadoras estão abandonando o campo por se sentirem traídas, enquanto outras, sem acesso à família Bolsonaro, ficam paralisadas, sem apoio nem articulação.
A consequência é óbvia: o Centrão e a esquerda assistem de camarote à autodestruição da direita. Enquanto uns brigam entre si por espaço e reconhecimento, outros constroem alianças sólidas, ocupam o vácuo político e fortalecem suas bases. A imaturidade política e a falta de estratégia da direita transformaram um movimento que já foi forte e vibrante em uma força desorganizada, refém de sua própria soberba.
A direita precisa urgentemente reaprender a dialogar. Precisa entender que não há movimento político sem base, que não existe liderança sem representatividade, e que o verdadeiro conservadorismo se faz com valores, não com vaidades. Caso contrário, continuará sendo devorada por dentro, vítima de sua própria burrice política — e o país, mais uma vez, verá o poder voltar às mãos daqueles que sabem, com inteligência e articulação, fazer política de verdade.
Greovário Nicolas
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