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sĂĄbado, 6 de dezembro de 2025

COLUNA POLÍTICA | PERDENDO OU GANHANDO BOLSONARO QUER PROTAGONISMO | NA LUPA 🔎 | POR EDNEY SOUTO

JAIR BOLSONARO ESCOLHE “PERDER LIDERANDO A GANHAR LIDERADO” E REDEFINE A DISPUTA POLÍTICA PARA 2026


A LÓGICA DO CLÃ, O MEDO DE CEDER PODER E A GUERRA PELO CONTROLE DA DIREITA

A decisĂŁo de Jair Bolsonaro de indicar o filho, senador FlĂĄvio Bolsonaro (PL-RJ), como seu escolhido para disputar a PresidĂȘncia em 2026 desencadeou uma onda de repercussĂ”es e trouxe Ă  tona um aspecto fundamental da estratĂ©gia bolsonarista: a prioridade nĂŁo Ă© apenas vencer, mas vencer mantendo o comando. E, caso a vitĂłria nĂŁo seja possĂ­vel, Ă© preferĂ­vel perder liderando do que ganhar subordinado.

Essa interpretação revela um cĂĄlculo polĂ­tico profundamente pessoalista, onde o clĂŁ Bolsonaro se enxerga como nĂșcleo incontornĂĄvel da direita brasileira. E, dentro dessa lĂłgica, nenhum nome alternativo — por mais preparado ou competitivo — tem espaço para assumir o protagonismo que Bolsonaro se recusa a entregar.

O CLÃ BOLSONARO COMO CAPITAL POLÍTICO INTRANSFERÍVEL

PODER, CONTROLE E O RECEIO DE UMA SUCESSÃO QUE FOGE DO SEU COMANDO

Mesmo preso, sem direitos polĂ­ticos e cercado de investigaçÔes, Bolsonaro ainda mantĂ©m uma capacidade de influĂȘncia rara. A força de sua base se traduz em engajamento, capacidade de mobilização e uma espĂ©cie de fidelidade militante que poucos polĂ­ticos brasileiros sĂŁo capazes de despertar.

A leitura Ă© direta:
o capital político acumulado pelo clã é tão grande que entregar esse protagonismo a outro nome significaria abrir caminho para a dissolução dessa liderança familiar.

A lĂłgica bolsonarista funciona assim:
– O movimento existe porque Bolsonaro existe.
– A direita popular tem rosto, sobrenome e estilo prĂłprios.
– E qualquer tentativa de substituição Ă© vista como ameaça.

Nesse contexto, a escolha de FlĂĄvio Bolsonaro funciona como uma espĂ©cie de blindagem da “marca Bolsonaro”. Ao colocar o filho na disputa, o ex-presidente transmite a mensagem de que a famĂ­lia continua controlando o eixo do poder, mesmo nos momentos mais adversos.

POR QUE TARCÍSIO, RUEDA, CIRO NOGUEIRA E OS “NOVOS LÍDERES” NÃO DECOLARAM?

A DIREITA INSTITUCIONAL NÃO CONSEGUIU SUBSTITUIR O BOLSONARISMO

HĂĄ uma expectativa, principalmente no mercado e entre setores da elite, de que nomes como TarcĂ­sio de Freitas (Republicanos), AntĂŽnio Rueda (UniĂŁo Brasil) e Ciro Nogueira (PP) possam representar uma alternativa mais moderada e menos “personalista”.

Mas a realidade eleitoral Ă© outra:
– TarcĂ­sio Ă© gestor competente, mas nĂŁo mobiliza massas.
– Rueda nĂŁo tem capital popular.
– Ciro Nogueira Ă© forte nos bastidores, mas fraco nas ruas.

Esses nomes — apesar do peso institucional — nĂŁo formam um eleitorado prĂłprio, nĂŁo produzem comoção e nĂŁo conseguem acionar a mesma intensidade emocional que Bolsonaro aciona.

E é justamente isso que impede a entrega da liderança:
a direita sem Bolsonaro ainda nĂŁo aprendeu a dialogar com as massas.

LULA FAVORITO, MAS COM ALERTAS LIGADOS

SEGURANÇA PÚBLICA E A INFLUÊNCIA DE TRUMP PODEM MUDAR O JOGO

Mesmo com as movimentaçÔes da direita, Lula entra no cenårio de 2026 como favorito. Tem måquina, alianças e estabilidade institucional. Mas hå dois pontos sensíveis que podem virar o jogo caso não sejam observados com atenção:

1. Segurança pĂșblica

É o tema mais quente do país.
A pauta mexe com o cotidiano do eleitor e sempre favoreceu narrativas conservadoras. Qualquer fragilidade nessa ĂĄrea tende a inflamar o debate e fortalecer o discurso bolsonarista.

2. Donald Trump de volta Ă  Casa Branca

Trump retornando ao poder nos Estados Unidos implica impacto direto sobre redes sociais, algoritmos e narrativas.
Se ele adotar uma postura mais agressiva em relação Ă s big techs, o ecossistema digital no Brasil pode sofrer reconfiguraçÔes — e isso teria reflexos polĂ­ticos imediatos.

No campo das redes, onde Bolsonaro reina, o ambiente importa tanto quanto o candidato.

BOLSONARO NÃO ACEITA SER COADJUVANTE

E A DIREITA SÓ AVANÇA SE ELE PERMITIR

A frase que define o momento Ă© cristalina:

“É melhor perder liderando a ganhar liderado.”

Essa Ă© a lĂłgica interna do clĂŁ.
Bolsonaro não aceita a ideia de uma nova liderança da direita sem seu aval.
NĂŁo aceita sucessĂŁo.
Não aceita diluição.

Com Flåvio na cabeça da chapa, Bolsonaro deixa claro que:
– O projeto polĂ­tico Ă© familiar.
– A direita sĂł se reorganiza se ele estiver no centro.
– Qualquer nome fora desse cĂ­rculo serĂĄ tratado como intruso.

A disputa de 2026 começa marcada por esse choque de forças:
de um lado, um Lula favorito, mas atento;
do outro, uma direita que sĂł existe plenamente quando estĂĄ sob o comando do prĂłprio Bolsonaro — mesmo preso.

E assim, o Brasil entra em um novo capĂ­tulo de sua polĂ­tica recente:
um paĂ­s onde atĂ© a derrota precisa passar pelo comando de uma Ășnica famĂ­lia. É isso!

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