RAQUEL LYRA APERTA O BOTÃO DO SANEAMENTO E MUDA O JOGO EM PERNAMBUCO
UM LANCE DE ALTO RISCO QUE VIROU ATIVO POLÍTICO
Quando a governadora Raquel Lyra desembarcou na Bolsa de Valores de São Paulo, na manhã desta quinta-feira, 18 de dezembro, ela não foi apenas assistir a um leilão. Foi para assumir um risco calculado, daqueles que dividem opiniões, provocam resistência e, ao mesmo tempo, definem legados. Ao bater o martelo da concessão parcial da Compesa, Raquel não comprou apenas um modelo de gestão: comprou tempo político, narrativa administrativa e um lugar definitivo na história recente de Pernambuco.
A cifra de R$ 23,2 bilhões em investimentos não é apenas um número de impacto. É, sobretudo, um divisor de águas — literalmente. Em um Estado marcado por décadas de escassez hídrica, promessas eleitorais vazias e soluções improvisadas, o saneamento sempre foi tratado como discurso, nunca como prioridade real. Raquel decidiu inverter essa lógica. E, ao fazê-lo, colocou seu governo em outro patamar de cobrança e protagonismo.
A CONCESSÃO QUE TIRA O SANEAMENTO DA GAVETA
O modelo desenhado pelo Governo de Pernambuco, com apoio técnico do BNDES, enfrentou resistências históricas. Sindicatos, setores ideológicos e parte do funcionalismo viam na iniciativa privada um fantasma antigo. Ainda assim, a governadora avançou. Costurou o projeto desde os primeiros meses de gestão, promoveu audiências públicas, ouviu municípios, ajustou o desenho institucional e blindou o processo juridicamente.
O resultado foi um leilão disputado, cobiçado por grupos nacionais e internacionais, que garantiu não apenas investimentos robustos, mas também segurança jurídica e previsibilidade. A Compesa permanece responsável pela produção e tratamento de água, enquanto a distribuição e o esgotamento sanitário ficam sob responsabilidade dos concessionários. Um modelo híbrido que tenta equilibrar controle estatal e eficiência privada.
DOIS BLOCOS, UM OBJETIVO: UNIVERSALIZAR
A divisão da concessão em dois blocos não foi casual. Reflete a diversidade territorial e os desafios históricos do Estado. O bloco Região Metropolitana do Recife–Pajeú, com 150 municípios e Fernando de Noronha, ficou com o Consórcio Pernambuco Saneamento (Acciona e BRK), garantindo R$ 15,4 bilhões em investimentos e uma outorga de R$ 3,5 bilhões. Já o bloco Sertão, formado por 24 municípios, será operado pelo Pátria Investimentos, com R$ 2,9 bilhões em aportes e outorga de R$ 720 milhões.
Ao todo, R$ 4,2 bilhões em outorgas irão direto para a universalização do saneamento e infraestrutura hídrica, com prioridade absoluta para ampliar a distribuição de água. A decisão política de não usar esses recursos para tapar buracos fiscais é simbólica: Raquel escolheu investir no básico, no invisível, no que não rende placa imediata, mas transforma a vida das pessoas.
UM GOVERNO QUE DECIDE, MESMO QUANDO INCOMODA
Politicamente, o movimento é ainda mais profundo. A governadora assume o bônus e o ônus da decisão. Reposiciona sua gestão como uma que decide, não apenas administra a escassez. Ao colocar operadores privados na linha de frente da execução, transfere a eles o desafio de transformar metas contratuais em água nas torneiras e esgoto tratado, enquanto mantém para si o discurso do impacto social e da modernização.
É um cálculo fino. Raquel fala para fora — mercado, investidores, federação — como uma gestora confiável, moderna e capaz de estruturar projetos complexos. Para dentro, sinaliza que o governo não ficará refém de agendas corporativas quando o interesse público exigir mudanças estruturais.
O EFEITO METRÔ + SANEAMENTO: UMA VIRADA DE PERCEPÇÃO
O leilão da Compesa não acontece isoladamente. Vem logo após o acordo de cooperação técnica que garantiu R$ 4 bilhões para o Metrô do Recife. Dois gargalos históricos, dois símbolos do atraso administrativo do Estado, começam a ser enfrentados com soluções estruturadas. Juntos, saneamento e mobilidade formam um pacote poderoso de reposicionamento político.
Até pouco tempo, a principal crítica ao governo Raquel Lyra era a falta de entregas visíveis. O cenário muda. Não se trata apenas de obras, mas de decisões que reorganizam forças, constroem alianças e alteram a percepção de rumo. O governo deixa de ser visto como cauteloso demais e passa a ser identificado como estratégico.
O XEQUE-MATE NO TABULEIRO DO DESENVOLVIMENTO
A metáfora do xadrez não é exagero. Após organizar as contas públicas e reestruturar o orçamento estadual, Raquel movimenta agora as peças do desenvolvimento. A concessão da Compesa funciona como um xeque-mate simbólico em um problema secular. Água no Agreste e no Sertão sempre foi promessa. Agora tem contrato, prazo, investimento e fiscalização.
Ao puxar para si a responsabilidade de resolver, a governadora assume o risco máximo — e é exatamente aí que reside a força política do gesto. Resolver é raro. E quem resolve, marca época.
MAIS QUE UM LEILÃO, UM PROJETO DE ESTADO
O que se viu na B3 não foi apenas um evento econômico. Foi a afirmação de um projeto de Estado. Planejamento, diálogo federativo, parceria com o setor privado e foco social se combinaram em uma operação que reposiciona Pernambuco no mapa do saneamento nacional.
Raquel Lyra transforma um contrato técnico em ativo político de longo prazo. O saneamento deixa de ser promessa de campanha e passa a ser política pública estruturada. Água e esgoto tratados deixam de ser exceção e caminham para virar regra. No jogo político, isso não é apenas um lance ousado. É um movimento que muda o tabuleiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário