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terça-feira, 16 de dezembro de 2025

COLUNA POLÍTICA | ZEZÉ BOLSONARO| NA LUPA 🔎 | POR EDNEY SOUTO

ZEZÉ DI CAMARGO, O SBT E A INTOLERÂNCIA DISFARÇADA DE PRINCÍPIO

O pedido público feito por Zezé Di Camargo para que o SBT retire do ar seu especial de fim de ano não é um gesto de coerência artística nem de elevado princípio moral, como ele tenta fazer parecer. Na prática, trata-se de uma tentativa explícita de constrangimento político e veto ideológico contra uma emissora que ousou exercer algo básico em qualquer democracia: a pluralidade. Colocado sob a lupa, o episódio revela excessos, contradições e uma dificuldade clara de convivência com o diferente.

QUANDO A OPINIÃO VIRA PRESSÃO O PEDIDO PÚBLICO COMO INSTRUMENTO DE CONSTRANGIMENTO

Zezé não buscou diálogo interno nem solução contratual discreta. Preferiu o palco público, usando sua visibilidade para pressionar o SBT. Ao pedir que um especial já gravado seja retirado do ar, ele ultrapassa o direito à opinião e entra no terreno da intimidação pública, tentando impor sua visão política à linha editorial de uma emissora privada

O INCÔMODO NÃO É O CONTEÚDO, SILÊNCIO SOBRE ERROS, BARULHO SOBRE IDEOLOGIA

Em nenhum momento o cantor aponta falhas jornalísticas, desvios éticos ou problemas técnicos no especial de Natal. O desconforto nasce exclusivamente da presença institucional de autoridades da República na inauguração do SBT News. Ou seja: o problema não é jornalismo ruim — é jornalismo que não se curva a um único espectro político.

A MAIORIA IMAGINÁRIA, FALAR EM NOME DO “POVO” SEM QUALQUER LASTRO

Ao afirmar que o SBT “não condiz com o pensamento dele e de grande parte do povo brasileiro”, Zezé assume para si o papel de porta-voz de uma maioria abstrata. Não apresenta dados, pesquisas ou fatos — apenas transforma convicção pessoal em suposta vontade nacional. Um recurso retórico antigo, recorrente e perigoso.

ATAQUE ÀS HERDEIRAS, NÃO À IDEIA, PATRIARCALISMO E MORALISMO NO LUGAR DO DEBATE

A crítica editorial dá lugar ao ataque pessoal quando Zezé resolve atingir diretamente as filhas de Silvio Santos, sugerindo que elas não honram o pai. É uma fala autoritária e patriarcal, que ignora a autonomia das herdeiras e tenta transformar decisões empresariais em julgamento moral e familiar. O debate público é substituído por desqualificação pessoal.

“PROSTITUIÇÃO” COMO LINGUAGEM, DESQUALIFICAR PARA EVITAR O DIÁLOGO

Ao usar o termo “prostituindo” para definir a postura do SBT, Zezé abandona qualquer tentativa de crítica racional. A palavra não argumenta — agride. Para ele, dialogar institucionalmente com quem pensa diferente é sinônimo de degradação moral. É a lógica do “ou concorda comigo ou não presta”, incompatível com qualquer ambiente democrático.

O DESRESPEITO AO TRABALHO COLETIVO, O EGO ACIMA DA ARTE E DO PÚBLICO

Um especial de fim de ano envolve dezenas de profissionais, altos custos e planejamento. Ao pedir que tudo seja descartado por discordância política, Zezé demonstra desprezo pelo trabalho coletivo e pelo público. Age como se sua posição ideológica estivesse acima do esforço de técnicos, músicos, produtores e da própria audiência.

O PRECEDENTE PERIGOSO, SE TODOS EXIGIREM ALINHAMENTO, NÃO SOBRA DEMOCRACIA

Se a lógica defendida pelo cantor se tornasse regra, emissoras só exibiriam artistas ideologicamente alinhados — e artistas só aceitariam veículos que pensassem igual. O resultado seria censura cruzada, empobrecimento cultural e polarização permanente. Democracia não sobrevive quando toda divergência vira motivo para veto.

A GRANDE CONTRADIÇÃO! NATAL, AMOR E TENTATIVA DE SILENCIAMENTO

Zezé fala em Natal, amor e povo brasileiro, mas reage com exclusão, ataque e tentativa de silenciamento. O que o incomoda não é o SBT pensar diferente — é o fato de a emissora não se submeter à sua visão política. Ao pedir que seu especial não vá ao ar, ele revela não firmeza de princípios, mas dificuldade em conviver com a democracia real, aquela em que ninguém precisa pedir autorização ideológica para existir.

NA LUPA, o episódio deixa um alerta: opinião é direito. Pressão para calar, não. Quando a discordância vira veto, o problema deixa de ser político — passa a ser democrático. É isso!

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