sexta-feira, 30 de maio de 2025

COLUNA POLÍTICA | NA LUPA 🔎 POR EDNEY SOUTO

AS DINASTIAS POLÍTICAS EM PERNAMBUCO, NO NORDESTE ECOAM ENTRE O LEGADO E O 
LIMITADOR
No Nordeste brasileiro, o sobrenome costuma falar mais alto do que qualquer slogan de campanha. É quase um passaporte para o poder. As chamadas dinastias políticas seguem conduzindo o destino de estados inteiros há décadas. Em Pernambuco, os exemplos pululam: Campos, Arraes, Lyra e Coelho. Só pra ficar nesses, mas tem mais é como tem. No Ceará, os Gomes. Na Bahia, os Magalhães. A pergunta que ecoa é antiga, mas necessária: até que ponto herança política é virtude democrática e quando ela se torna obstáculo à renovação? Vamos dar uma analisada NA LUPA desta sexta-feira. 


FAMÍLIAS QUE DOMINAM A CENA
CAMPOS/ARRAES: TRADIÇÃO NO RECIFE E ALÉM
Desde Miguel Arraes até João Campos, passando por Ana Arraes, Eduardo Campos e Marília Arraes, a família cravou seu nome na história política de Pernambuco com forte apelo popular, carisma e construção de políticas públicas emblemáticas. Antônio Campos, irmão de Eduardo Campos tenta há anos se inserir no meio mas de forma independente de DNA. Ele agora deve ser candidato a deputado estadual para buscar uma vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco. 

GOMES NO CEARÁ: DISCURSO DURO E ESTRATÉGIA POLÍTICA
Os irmãos Ciro e Cid Gomes formam uma das forças políticas mais influentes do Ceará. O capital político construído por ambos se estende a prefeitos, deputados e aliados, sempre com o discurso reformista e um jogo político afiado. Ciro segue obstinado a buscar à Presidência da República, coisa que inculcou e não sai mais da sua cabeça. Ciro poderia ter voltado a ser governador ou senador mas não aceitou e seus irmãos entraram com tudo nesse vácuo e ocuparam os espaços. Tem gente no momento no Ceará que incentiva Ciro a disputar o governo estadual em 2026, mas ele desconversa. 

MAGALHÃES NA BAHIA: A ERA ACM
Na Bahia, o falecido Antônio Carlos Magalhães deixou uma herança simbólica e concreta. Seu neto, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e ex-candidato ao governo, ainda representa essa força política — mesmo que sob nova roupagem. Luiz Eduardo Magalhães filho do velho ACM era uma promessa não só para a Bahia, mas para o Brasil. Faleceu precocemente quando caminhava para o auge político. Devastado o pai tentou alcançar os espaços que seria de Luiz Eduardo, com ACM Júnior seu filho mais velho que foi senador. Mas a dinastia foi mantida via ACM Neto, que governou Salvador e agora quer disputar mais uma vez o governo do estado. 

CALHEIROS EM ALAGOAS

A família do senador Renan Calheiros tem uma influência na política. Acumulando mandatos no Senado Federal, Calheiros integra uma das famílias mais tradicionais da política em Alagoas, essa que é apoiada pelo presidente Lula.

O filho do senador, Renan Filho, também Senador e Ministro dos Transportes já faz história na política, já tendo ocupado o governo de Alagoas, assim como o posto de deputado federal e prefeito de Murici, assim como de seu pai. O irmão do senador, Olavo Calheiros, também já teve a candidatura lançada para deputado estadual.

Mas a grandeza da família Calheiros não para por aí, outros irmãos do senador, como Remi Calheiros e Renildo Calheiros, também já foram prefeitos de importantes cidades do estado. Renildo foi Prefeito de Olinda em Pernambuco e hoje é Deputado Federal por aquele estado


PERNAMBUCO: O EXEMPLO VIVO DAS DINASTIAS

João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos e neto de Miguel Arraes, é hoje prefeito do Recife. Assumiu o cargo em 2021 e representa o mais jovem rosto de uma linhagem que atravessa gerações com solidez. O irmão Pedro Campos segue João Campos e também ocupa o cargo de deputado federal. A continuidade da família no Legislativo fortalece a narrativa de sucessão natural e estratégica.

MARÍLIA ARRAES: A VERSÃO DISSIDENTE QUE VOLTOU AO NÚCLEO FAMILIAR

Marília Arraes, prima dos Campos, trilhou caminho próprio, rompeu com o PSB e enfrentou o legado familiar em eleições majoritárias. Sua força mostra que a linhagem também pode se dividir em interpretações distintas de legado. Vereadora e deputada federal ela agora quer ser a senadora de João Campos. Não lhe falta credenciais pois tem luz própria, mas não deixa de estar inserida na dinastia que faz parte, primeiro com seu avô Miguel Arraes de Alencar, um Mito pernambucano e depois pelos primos da família Campos. Em tempo Marília Arraes elegeu sua irmã Maria Arraes deputada federal em 2022. 

PETROLINA A DINASTIA DOS COELHOS
Em Petrolina desde Nilo Coelho que governou Pernambuco e foi Senador que os Coelhos não saem do poder. Se formos falar em Coelho temos Ciro Coelho, a Paulo Coelho, Geraldo Coelho, Oswaldo Coelho, Fernando Bezerra Coelho, .o FBC, seu irmão ex-deputado Clementino Coelho e os seus filhos a saber: Fernando Coelho Filho, Antônio Coelho e Miguel Coelho. A força e influência do Grupo acima é impressionante e já projetam o deputado estadual Antônio Coelho para manter a prefeitura de Petrolina em 2028. Agora em 2026 a meta será eleger FBC e Fernando Filho ambos para deputado federal e Antônio Coelho renovar o mandato na ALEPE. O Miguel Coelho que foi prefeito de Petrolina deverá disputar uma vaga no Senado Federal. 


A DINASTIA DO INTERIOR: A FAMÍLIA LYRA
ORIGEM EM CARUARU
Raquel Lyra é hoje governadora de Pernambuco. Sua trajetória também vem da política familiar. Neta de João Lyra Filho (prefeito e deputado), filha de João Lyra Neto (prefeito, deputado e governador), Raquel percorreu o mesmo caminho. Sobrinha de Fernando Lyra um respeitado deputado federal e Ministro da Justiça na era da redemocratização, Raquel Lyra tem futuro e promete voos mais altos. Atualmente o presidente do seu partido, o PSD, Gilberto Kassab defende seu nome para vice de Luiz Inácio Lula da Silva. 

DEPUTADA, PREFEITA, GOVERNADORA
A carreira política de Raquel mostra a consistência da tradição familiar. Foi deputada estadual, prefeita de Caruaru por dois mandatos e agora governa o estado — a primeira mulher a fazê-lo na história pernambucana. Herança que pesa positivamente.  A política que passa de pai para filho tem benefícios inegáveis: experiência familiar, rede de contatos consolidada, capital político já existente e formação desde cedo para o debate público. É como se a política estivesse no DNA.


LIMITES À RENOVAÇÃO
Por outro lado, o domínio de poucas famílias impede o surgimento de novas lideranças, sufoca vozes independentes e fortalece oligarquias regionais. A política deixa de ser um espaço plural e se transforma num clube fechado. E o povo ? O eleitor, por vezes, reforça esse ciclo. O nome conhecido dá segurança, sugere confiabilidade. Mas, ao manter os mesmos sobrenomes no poder, o povo corre o risco de perpetuar estruturas pouco abertas à inovação. De todas as formas a governadora Raquel Lyra é uma vencedora. Nunca perdeu uma eleição e vai disputar mais uma vez o Palácio do Campo das Princesas com a caneta na mão. Tem um ano para entregar um leque de obras de grande e médias estruturas e manter o poder. 


O LEGADO TANGÍVEL
Apesar das críticas, é inegável que algumas dinastias deixaram legados importantes. Eduardo Campos reformou e transformou a educação e modernizou a gestão em Pernambuco. Miguel Arraes foi símbolo de resistência. João Lyra Neto investiu no desenvolvimento do interior e fez muito por Caruaru e como governador deu sequência a importantes ações e projetos. Isso solidificou de certa forma o nome da sua filha, Raquel Lyra que vem agindo com desenvoltura a frente do governo do estado. 


O LEGADO INTANGÍVEL
Mais do que obras, essas famílias deixaram visões de mundo, formas de fazer política, métodos de articulação e, em alguns casos, compromisso social que transcende a eleição. Enquanto não houver uma reforma política profunda e incentivo real à renovação, essas dinastias seguirão ocupando espaço. Com o mesmo sobrenome, mas rostos novos. Em Pernambuco, isso é visível, palpável e determinante. As dinastias políticas não são, por si só, um mal. Mas também não devem ser vistas como garantia de sucesso. A política precisa ser território de ideias, não de heranças. O nome pode abrir portas — mas quem entra deve provar por que merece ficar. É isso aí.

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