Uma reviravolta política sacudiu o município de Anadia, no interior de Alagoas, nesta terça-feira (11). O prefeito Victor Rocha (PP), que havia sido denunciado ao Ministério Público Estadual por suposto nepotismo desenfreado, decidiu exonerar todos os parentes ligados ao ex-prefeito Celino Rocha (PP), seu antigo aliado político e também ex-sogro. A medida, que pegou de surpresa até membros da base governista, expõe o rompimento definitivo entre os dois grupos familiares que dominaram a política local nos últimos anos.
O caso ganhou notoriedade em janeiro deste ano, quando Victor Rocha nomeou sete parentes diretos e indiretos para cargos de primeiro escalão, em um total de 12 secretarias municipais. A ação rendeu ao gestor o apelido de “campeão do nepotismo em Alagoas”, após denúncia formalizada ao MP. Entre os nomeados, estavam familiares de sangue, de afinidade e por relacionamento amoroso, o que despertou críticas intensas da população e de setores políticos adversários.
Todos esses nomes foram exonerados nesta terça-feira, em um gesto interpretado como um rompimento político e pessoal irreversível. Nos bastidores, fontes ligadas ao poder municipal confirmam que a ruptura entre Victor e Celino começou após o fim do relacionamento do prefeito com Karinne Rocha, filha do ex-gestor. Karinne havia sido nomeada, em janeiro, secretária de Administração e Planejamento, mas já não aparece mais como titular da pasta desde o término do namoro.
A sequência de exonerações representa uma mudança drástica na estrutura administrativa da Prefeitura de Anadia e pode alterar o equilíbrio político no município. Com a saída de toda a ala ligada a Celino Rocha, Victor Rocha tenta se firmar como uma liderança autônoma, afastando-se da sombra de seu ex-padrinho político — responsável por dois mandatos consecutivos à frente da cidade.
Embora Karinne Rocha não tenha sido oficialmente incluída no decreto de exoneração publicado nesta terça, ela também deixou de exercer qualquer função pública. Pessoas próximas ao grupo político de Celino afirmam que as demissões foram motivadas mais por “desgastes pessoais” do que por “decisões administrativas”. Já aliados de Victor sustentam que o prefeito estaria apenas “enxugando a máquina” e “colocando ordem na gestão”, em resposta à pressão popular e às investigações do Ministério Público.
O episódio evidencia uma tendência recorrente na política de cidades do interior alagoano: a ruptura entre sucessores e ex-prefeitos que os ajudaram a chegar ao poder. Casos semelhantes vêm sendo registrados em municípios como Rio Largo, União dos Palmares e Maragogi, onde antigas alianças desmoronaram após disputas internas por cargos e influência.
Com o afastamento de Celino e sua família, Victor Rocha tenta agora reconstruir sua base administrativa e política em Anadia, em meio às críticas e ao olhar atento da população. Enquanto isso, o Ministério Público segue analisando a denúncia que transformou o prefeito no símbolo maior do nepotismo político em Alagoas, em um episódio que mistura poder, família e desavenças pessoais — ingredientes que há muito fazem parte da rotina da política local.
