Sob o sol forte do Sertão pernambucano, a cidade de Salgueiro foi palco de um gesto político carregado de simbolismos nesta quarta-feira (28), durante agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em meio ao anúncio de uma importante obra na Transposição do Rio São Francisco, o palanque foi ocupado por duas figuras centrais do cenário político estadual: a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Ambos possíveis adversários na corrida ao governo de Pernambuco em 2026, os dois dividiram o mesmo espaço para declarar apoio ao chefe do Executivo federal, em um momento que misturou pragmatismo político e disputas veladas por protagonismo.
Raquel Lyra, ao ser chamada para discursar, foi recebida com uma mistura de vaias e aplausos pela plateia formada por militantes, autoridades e moradores da região. Ciente do peso simbólico de sua fala ao lado de Lula, a governadora evitou confrontos e adotou um tom conciliador. “A gente precisa continuar firmes, unidos. É importante dizer que há muito mais coisas que nos une nesse palanque do que nos separa”, afirmou, em mensagem direta à necessidade de unidade federativa e harmonia institucional. A fala teve como pano de fundo o esforço da gestora em mostrar sintonia com o governo federal, mesmo diante das tensões naturais do jogo político.
A governadora, que representa um partido da base de apoio ao presidente, foi além e exaltou a figura de Lula como agente de transformação histórica para os pernambucanos. “O senhor decidiu mudar o rumo da história desse povo”, declarou Raquel, ao lado do mandatário que ela já criticou no passado, mas que hoje busca prestigiar para manter o canal de investimentos e parcerias aberto. “O jogo está virando, presidente. A mudança está chegando. Só não vê quem não quer”, pontuou, numa tentativa de reforçar que os esforços conjuntos entre os entes federados estão surtindo efeito.
Durante o evento, Lula assinou a ordem de serviço para uma das intervenções mais esperadas da região: o aumento da capacidade de bombeamento do Eixo Norte da Transposição do Rio São Francisco. O investimento anunciado, da ordem de R\$ 491,3 milhões, será direcionado às estações de bombeamento intermunicipais EBI1, em Cabrobó; EBI2, em Terra Nova; e EBI3, em Salgueiro, todas em Pernambuco. Com as obras, a capacidade de vazão das águas do São Francisco será duplicada, passando de 24,75 m³/s para 49 m³/s.
A medida promete impactar diretamente a vida de cerca de 8,1 milhões de pessoas, beneficiando 237 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. O anúncio representou mais do que um gesto técnico: foi também um movimento político de reforço ao compromisso do governo federal com o semiárido nordestino, uma das regiões mais historicamente negligenciadas do país. Ao mesmo tempo, Lula demonstrou sua habilidade em construir uma frente ampla de apoio, reunindo lideranças de espectros distintos num mesmo palanque em nome de um projeto coletivo.
No palco, João Campos manteve a postura discreta, mas sua presença foi notada. Filho do ex-governador Eduardo Campos, o prefeito do Recife tem se consolidado como figura de destaque nacional dentro do PSB e se articula como nome forte para 2026. Raquel, por sua vez, se equilibra entre a gestão estadual e o xadrez político, tentando manter a harmonia com Brasília sem perder a identidade própria que a elegeu em 2022. Ainda que ambos evitem falar em sucessão estadual, o evento mostrou que a corrida já começou, e o tom adotado por Raquel — de cooperação e diplomacia — pode ser a chave para manter protagonismo num ambiente cada vez mais competitivo.
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