O Partido dos Trabalhadores em Pernambuco atravessa uma de suas fases mais fragmentadas e agitadas, às vésperas da eleição interna marcada para 6 de julho. Pela primeira vez em décadas, sete lideranças, cada uma representando distintas correntes e interesses, se colocaram como candidatas à presidência estadual da legenda, revelando um cenário de disputas internas sem precedentes. O deputado federal Carlos Veras, nome forte da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), entrou na disputa mesmo após ter dito publicamente que só seria candidato se houvesse consenso. A própria CNB, que domina a estrutura do partido no estado sob a liderança do senador Humberto Costa, acabou expondo sua própria divisão ao lançar não apenas Veras, mas também o secretário-geral do partido, Sérgio Goiana, e a prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado, como postulantes ao comando estadual. A multiplicidade de candidaturas desnuda um PT em ebulição, onde cada segmento luta para manter ou ampliar seu espaço num momento estratégico para a legenda, que é cortejada tanto pelo PSB do prefeito do Recife, João Campos, quanto pelo PSDB da governadora Raquel Lyra.
Carlos Veras, que hoje ocupa a primeira secretaria da Câmara dos Deputados, rebateu os questionamentos sobre sua capacidade de conciliar a função em Brasília com a gestão do partido em Pernambuco. Segundo ele, as atribuições administrativas da Câmara não o impedirão de liderar um processo de reorganização interna que considera essencial para preparar o partido para o pós-Lula. Para Veras, a unidade é imprescindível diante do fato de que, em 2026, será a última vez que o ex-presidente poderá concorrer. “Depois, Lula continuará sendo uma referência, mas não estará na urna. Precisamos desde já nos fortalecer para esta nova fase”, afirmou, em tom de advertência sobre a necessidade de convergência. O deputado ainda tentou amenizar as rusgas internas, dizendo-se próximo de todos os concorrentes: lembrou do apoio que deu a Fernando Ferro em sua primeira votação, das lições que aprendeu com Messias Melo no sindicalismo, da parceria com Osmar Ricardo, da amizade com Sérgio Goiana e da atuação conjunta com Márcia Conrado e Maria dos Prazeres.
A senadora Teresa Leitão também se posicionou no xadrez partidário, apoiando Messias Melo e rompendo, ao menos no Recife, com a hegemonia do grupo de Humberto Costa. Ela respalda Cirilo Mota para a presidência municipal da capital, enquanto Humberto aposta no ex-vereador Jairo Brito. Mesmo com essa fissura, Teresa ensaiou um gesto de pacificação, afirmando que está aberta ao diálogo e disposta a sentar à mesa para buscar entendimento, apesar de a CNB ter triplicado suas candidaturas. Esse gesto é visto por alguns como uma tentativa de evitar que a disputa interna se transforme em uma batalha fratricida, que poderia enfraquecer o PT num momento em que a legenda é cortejada para alianças estratégicas no estado.
A pluralidade de candidaturas — com Fernando Ferro, Messias Melo, Osmar Ricardo e Maria dos Prazeres se somando aos três da CNB — revela tanto a vitalidade quanto a tensão que atravessam o PT pernambucano. Veras, tentando se equilibrar no meio do turbilhão, afirma que o processo será um “debate saudável” e prega a necessidade de mobilizar a militância histórica do partido, convocando-a a participar ativamente da eleição interna. Em suas palavras, é preciso dar uma “sacudida” no PT, para que ele recupere sua força e relevância, num momento em que está na mira dos dois principais polos de poder do estado. Enquanto isso, o relógio corre rumo ao 6 de julho, quando a escolha entre sete candidatos pode seguir para um inédito segundo turno, caso o consenso apregoado por Veras não se concretize. O que se vê, até aqui, é um PT mais dividido do que nunca, mas paradoxalmente mais cobiçado pelos aliados e adversários da cena política pernambucana.
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