Em uma ação interestadual coordenada pelas polícias civis de São Paulo e Pernambuco, foi apreendido na manhã desta quarta-feira (4), no Recife, um adolescente de 17 anos considerado um dos líderes de uma rede criminosa virtual voltada à prática de crimes sexuais e psicológicos. A apreensão ocorreu após o monitoramento de mensagens em grupos da chamada "deep web", realizadas por agentes especializados conhecidos como "observadores digitais".
O jovem, reincidente, já havia sido internado em novembro de 2024 por envolvimento com o mesmo grupo. Na ocasião, permaneceu sob custódia por 45 dias, mas, ao ser liberado, retornou imediatamente às práticas criminosas. Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), sua atuação é ligada à disseminação de estupros virtuais, pornografia infantil, indução à automutilação, racismo, homofobia e ameaças terroristas. Ele também é acusado de cyberbullying e violência psicológica contra mulheres.
A investigação, que se estendeu por meses, identificou ao menos 200 vítimas em vários estados. A estratégia do adolescente incluía o uso de dados falsos em sistemas públicos e privados para chantagear e expor suas vítimas. Em mensagens interceptadas, ele chegou a debochar da Justiça brasileira, comemorando a primeira vez em que foi solto.
Durante a operação, batizada informalmente de “Digital Shadows”, também foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão, além de duas prisões temporárias. A ação se estendeu a outros estados: além de Pernambuco e São Paulo, também houve desdobramentos na Bahia, Minas Gerais e no Distrito Federal.
Outro menor, residente no interior paulista e apontado como cofundador da comunidade criminosa, também foi apreendido. A rede usava servidores estrangeiros e plataformas de difícil rastreamento, o que demandou cooperação técnica entre diferentes delegacias especializadas em crimes digitais.
Um dos pontos mais graves revelados na investigação é que a conta bancária utilizada para movimentar recursos obtidos com a venda de conteúdo ilegal estava registrada em nome do pai do adolescente. O homem chegou a ser preso na primeira fase da operação e segue respondendo judicialmente por associação criminosa e favorecimento à pedofilia.
A polícia classificou o grupo como uma “rede descentralizada com forte apelo ideológico misógino e extremista”, e alerta que novas apreensões podem ocorrer nos próximos dias. O caso reacende o debate sobre a eficácia das medidas socioeducativas e o papel das famílias e das escolas no combate à radicalização digital entre jovens.
O adolescente será encaminhado novamente para internação provisória em unidade especializada. A Promotoria da Infância e Juventude já foi acionada e deve pedir a prorrogação da medida, argumentando risco à ordem pública e à integridade das vítimas.
As autoridades reforçam o pedido para que pais fiquem atentos ao comportamento dos filhos nas redes sociais e denunciem qualquer sinal de abuso, aliciamento ou participação em grupos suspeitos. A Polícia Civil disponibiliza canais anônimos para denúncias sobre crimes virtuais.
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