A nova pesquisa realizada pelo Instituto Simplex sobre a disputa para o Senado em Pernambuco acendeu um alerta no meio político local. O levantamento mostra a ex-deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) na dianteira da corrida, em posição de destaque frente a outros possíveis postulantes. A liderança da neta de Miguel Arraes não é surpresa: além do recall das eleições anteriores, Marília construiu uma forte conexão com o eleitorado lulista, que tem enorme peso no estado e se mantém fiel a figuras associadas ao campo progressista.
O cenário traçado pela sondagem revela uma disputa potencialmente apertada e com forte influência da polarização política nacional. Marília aparece bem posicionada em um ambiente onde dois terços do eleitorado ainda guardam lembranças das eleições de 2022, nas quais ela disputou o Governo do Estado e obteve expressiva votação, principalmente no Recife, na Região Metropolitana e em municípios do interior com forte base petista. Seu discurso combativo, de oposição aos grupos tradicionais, ainda ressoa entre eleitores que se identificam com o legado de Arraes e com o ex-presidente Lula, reforçando sua presença como uma figura emblemática da esquerda no estado.
Contudo, esse mesmo eleitorado é disputado diretamente com o atual senador Humberto Costa (PT), que também figura como possível candidato à reeleição. A pesquisa sugere que, se ambos estiverem no páreo, dividirão votos na mesma faixa ideológica, o que pode abrir caminho para que um nome de centro ou até mesmo de direita conquiste uma das duas vagas em disputa. É esse o cálculo que preocupa tanto o PT quanto os articuladores da base lulista: o risco de dispersão interna que favoreça adversários mais distantes do espectro progressista.
A força de Marília na disputa está ancorada não apenas no seu sobrenome, mas em sua atuação combativa no Congresso e em sua presença constante nas redes sociais, onde mantém um público fiel e engajado. Ainda assim, o tamanho do seu partido, o Solidariedade, considerado de estrutura modesta, pode limitar seu poder de articulação nas alianças majoritárias. Além disso, ela sofre resistência velada de setores da esquerda que a veem como uma figura autônoma demais, capaz de tomar rumos distintos do consenso petista — o chamado “fogo amigo”, que historicamente tem tentado minar suas candidaturas nos bastidores.
Marília também enfrenta o desafio de manter a visibilidade em meio a um cenário eleitoral que ainda está em construção. Embora lidere a pesquisa neste momento, o quadro pode mudar à medida que outras candidaturas forem oficialmente lançadas e as campanhas ganharem as ruas. Apesar disso, a ex-deputada segue sendo uma das personalidades políticas mais conhecidas e carismáticas do estado, com alto índice de lembrança e com capacidade de mobilização em palanques populares, especialmente nos grandes centros urbanos e nas regiões mais carentes.
Outro fator que pesa a seu favor é a baixa rejeição entre o eleitorado feminino e jovem, o que pode se consolidar como uma vantagem estratégica em uma campanha com duas vagas em disputa. Mesmo enfrentando adversidades estruturais e políticas, seu nome permanece forte e competitivo, com potencial para influenciar o desenho final das chapas proporcionais e majoritárias que ainda estão sendo montadas nos bastidores da política pernambucana. A pesquisa da Simplex, portanto, não apenas aponta uma liderança momentânea, mas também antecipa uma disputa marcada por rivalidades internas, alianças imprevisíveis e um eleitorado ainda fiel às heranças políticas do passado.
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