quarta-feira, 25 de junho de 2025

EM IGARASSU NOMEAÇÃO EM PREFEITURA DO RECIFE, TEVE RESPOSTA IMEDIATA DO PALÁCIO

A recente nomeação de Miguel Ricardo para a Secretaria de Saneamento do Recife, feita pelo prefeito João Campos (PSB), movimentou os bastidores da política da Região Metropolitana e expôs com mais nitidez a disputa de forças entre o grupo do gestor recifense e o núcleo político da governadora Raquel Lyra (PSDB). A escolha de Miguel, filho do deputado estadual Mário Ricardo (Republicanos), marca não apenas a entrada formal do parlamentar no campo socialista, mas também a reorganização dos tabuleiros em Igarassu, cidade que se torna peça-chave na estratégia para 2026.

No dia seguinte à nomeação, o PSD – partido comandado em Pernambuco pela governadora – reagiu de forma direta e calculada ao novo arranjo político. Anunciou a pré-candidatura de César Ramos, atual secretário de Governo de Igarassu e filho da prefeita Elcione Ramos, como postulante a uma cadeira na Assembleia Legislativa de Pernambuco. A decisão do Palácio do Campo das Princesas revela a importância que o governo estadual atribui ao município, tanto do ponto de vista simbólico quanto eleitoral.

A rivalidade entre Elcione e Mário Ricardo é antiga, marcada por rompimentos públicos, embates eleitorais e trocas de acusações intensas na última disputa municipal. Embora tenham caminhado juntos em eleições anteriores, a relação política se deteriorou e passou a refletir diretamente nos palanques locais. Elcione, aliada de primeira hora da governadora Raquel Lyra, tem defendido um modelo administrativo que se distancia do que ela classifica como "velhas práticas" da política local. Mário Ricardo, por sua vez, tenta reconstruir sua influência com o suporte do PSB, que enxerga na aproximação com o deputado uma oportunidade de ganhar musculatura fora da capital.

César Ramos, com trânsito nas bases comunitárias e presença constante na articulação de políticas públicas em Igarassu, desponta como nome capaz de rivalizar com o grupo de Mário Ricardo em uma disputa estadualizada. A pré-candidatura dele é interpretada por aliados como um movimento de proteção do espaço político da prefeita Elcione, diante da ofensiva que vem sendo articulada por João Campos e seus aliados. O PSB, ao atrair Mário para seu projeto, não apenas sinaliza um novo eixo de poder metropolitano, mas também desafia diretamente o domínio tucano sobre a região.

A entrada de Miguel Ricardo na gestão da capital também foi lida como uma tentativa do PSB de mostrar força e capacidade de agregação, num momento em que João Campos busca ampliar sua base com vistas a uma possível candidatura majoritária em 2026. A estrutura da Secretaria de Saneamento é estratégica: além de lidar com investimentos pesados em obras, tem grande visibilidade em bairros populares e, portanto, repercussão eleitoral.

A movimentação também revela a antecipação da guerra eleitoral para além dos mandatos em curso. O PSD de Raquel Lyra, ao lançar um nome da confiança de Elcione, tenta impedir que Mário Ricardo se firme como única liderança estadual de Igarassu, oferecendo ao eleitorado local uma alternativa já consolidada na gestão municipal. Ao mesmo tempo, a aposta em César pode garantir um palanque leal em um dos maiores colégios eleitorais da RMR.

Nos bastidores, interlocutores do governo estadual afirmam que o lançamento de César Ramos também carrega a intenção de enviar um recado ao PSB: o campo governista não pretende assistir passivamente ao avanço de João Campos sobre as cidades estratégicas da Região Metropolitana. A disputa, que começa a se desenhar, deve se intensificar nos próximos meses, com implicações tanto na eleição municipal de 2024 quanto no xadrez estadual que se arma para os próximos anos.

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