A abertura do 33º Festival de Inverno de Garanhuns foi mais do que apenas o início de uma programação artística. Ela representou um verdadeiro encontro entre o passado e o presente da cultura popular nordestina, sob o signo do brega — um gênero que há décadas traduz sentimentos do povo com simplicidade, paixão e identidade. A Praça Mestre Dominguinhos, coberta por capas de chuva coloridas e guarda-chuvas abertos, virou um mosaico de gente reunida por um mesmo propósito: celebrar a música que fala diretamente ao coração.
Logo no início da noite, por volta das 19h30, a Banda Kitara deu início à festa com um show marcado por emoção dupla: além da performance, a banda realizou a gravação de seu novo DVD ao vivo, eternizando aquele momento num dos palcos mais emblemáticos da cena cultural do Brasil. Com um repertório que mistura clássicos do brega com composições autorais, os músicos contagiaram o público, que reagia a cada refrão com palmas, gritos e danças improvisadas no meio da multidão. A vibração da plateia foi tamanha que mesmo com a forte chuva, ninguém arredava o pé.
Na sequência, o palco recebeu Conde Só Brega, um dos nomes mais lendários do gênero. Com seu estilo inconfundível e um domínio absoluto do palco, ele conduziu o público por uma viagem afetiva que passou por músicas como Garçom Amigo, Duas Vidas e Volte Pra Mim. Cada música era acompanhada por milhares de vozes, criando uma atmosfera quase religiosa de devoção ao ritmo e às memórias que ele evoca.
Quando Priscila Senna surgiu, envolta em luzes roxas e fumaça, o clima esquentou ainda mais. Sua performance foi marcada por uma carga emocional forte, com canções como Cachorro Combina com Cadela e Revanche mexendo profundamente com os fãs. Em um gesto de generosidade e valorização do talento feminino local, a cantora convidou ao palco três artistas pernambucanas: Carina Lins, Andrielly Souza e Luanny Vital. As três dividiram o microfone em diferentes momentos, arrancando aplausos do público e emocionando familiares e amigos presentes. Foi um dos pontos altos da noite, mostrando que o festival também abre espaço para novos nomes e reafirma a importância da representatividade feminina na música.
Já passava da meia-noite quando Tayrone surgiu com seu show romântico. O cantor baiano, conhecido por sua mistura de arrocha com brega, transformou a praça num grande palco de paixões. Casais dançavam coladinhos, amigos se abraçavam e muitos choravam discretamente enquanto o artista entoava hits como Alô Porteiro, Vai Passar e Tá na Sofrência. O artista agradeceu ao público pela energia e destacou a importância de cantar em Garanhuns, que chamou de “capital do sentimento”. Mesmo com a chuva persistente, o público resistiu até o fim, numa prova de amor que só um festival como o FIG é capaz de provocar.
Nos bastidores, o clima era de comemoração e expectativa. Além dos artistas, produtores, técnicos e agentes culturais celebravam o sucesso da abertura. O prefeito Sivaldo Albino fez questão de aparecer entre o povo, cumprimentar artistas e dar entrevistas reforçando a importância do FIG como patrimônio cultural do povo pernambucano. Ao anunciar nomes como Raphaella Santos e Tarcísio do Acordeon para a edição 2026, Sivaldo mostrou que o planejamento para manter o FIG em evidência nacional já está em andamento, mesmo durante a atual edição.
Com uma abertura tão marcante, o sentimento é de que esta 33ª edição será histórica. A chuva, longe de atrapalhar, deu um charme especial à noite — e serviu de metáfora perfeita para o espírito do festival: mesmo sob qualquer tempo, a cultura permanece firme, viva e em movimento. A cidade de Garanhuns, conhecida por suas paisagens frias e seu povo caloroso, reafirma seu lugar no calendário nacional como um polo de resistência, celebração e fomento da cultura brasileira. E a programação apenas começou.
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