Alckmin foi direto: "Na realidade, o que ele fez foi colocar o boné do Trump e, na realidade, a maior vítima das tarifas é a economia paulista", afirmou, durante entrevista à Rádio CBN. O vice-presidente citou nominalmente empresas e setores afetados, destacando a Embraer — gigante da indústria aeronáutica com sede em São José dos Campos — além de setores estratégicos como a siderurgia, metalurgia e o agronegócio de alta produtividade, com destaque para o suco de laranja e o café, que têm grande volume de exportação para o mercado norte-americano. Segundo ele, o impacto das tarifas vai muito além do campo político e atinge diretamente a geração de empregos e a balança comercial brasileira.
A polêmica do boné ganhou ainda mais repercussão nas redes sociais após Tarcísio apagar a imagem em que aparecia com o acessório, publicada em sua conta na rede X. A exclusão da postagem foi vista como uma tentativa de minimizar os efeitos negativos do gesto, diante da reação crítica de setores da economia e da opinião pública. Apesar disso, o registro já havia circulado amplamente, alimentando críticas sobre a incoerência entre o simbolismo político e as consequências práticas das tarifas para a economia paulista.
Ao mesmo tempo em que Alckmin externava sua crítica, o governador Tarcísio de Freitas tentava mostrar proatividade. Em Brasília, reuniu-se com Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos, para tratar das tarifas anunciadas. Tarcísio afirmou, por meio das redes sociais, que a conversa abordou “as consequências da tarifa para a indústria e o agronegócio brasileiro, além dos impactos para as empresas americanas”. Ele também anunciou a intenção de dialogar com o setor produtivo paulista para construir uma resposta técnica ao problema. "Vamos abrir diálogo com as empresas paulistas, lastreado em dados e argumentos consolidados, para buscar soluções efetivas", escreveu o governador.
Nos bastidores, a movimentação do governador é vista como uma tentativa de equilibrar sua aproximação ideológica com o ex-presidente Trump e a necessidade prática de responder aos impactos econômicos que a política comercial norte-americana terá sobre o seu estado. São Paulo, maior parque industrial da América Latina, concentra uma fatia expressiva das exportações brasileiras afetadas pelas medidas americanas. A tarifa de 50% sobre o aço, por exemplo, atinge diretamente siderúrgicas instaladas no interior paulista, e o setor de sucos enfrenta ameaça real à sua competitividade internacional.
Durante a entrevista, Alckmin também aproveitou para reforçar a posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à soberania nacional e aos interesses comerciais do país. Segundo ele, o Brasil não aceitará interferências externas em suas decisões de Estado. “É nosso dever defender a soberania do país”, disse. A declaração ocorre em meio a um cenário internacional tenso, no qual o Brasil tenta negociar melhores condições comerciais com os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que se prepara para uma possível escalada protecionista em razão da corrida presidencial norte-americana.
Enquanto o governo federal articula sua reação diplomática, a cena protagonizada por Tarcísio de Freitas usando o boné de Donald Trump — ainda que posteriormente apagada — é vista por setores do empresariado com apreensão. O gesto simbólico, ainda que carregado de alinhamento político, destoa da urgência exigida pela situação econômica concreta. Para Alckmin, a contradição entre o marketing político e os interesses da indústria nacional precisa ser explicitada. Ele reiterou que o momento é de união em torno dos interesses do Brasil e de atuação firme para preservar os empregos e a competitividade das empresas brasileiras diante das barreiras impostas por Washington.
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