“Boa noite, presidente. A galera está me pressionando aí porque Eduardo, todo mundo, assinou essa CPI de abuso da autoridade do TSE e do STF. E eu não assinei até agora porque não queria entrar nessa bola dividida, com medo de prejudicar até o senhor mesmo nas decisões lá. O que você acha aí, mais ou menos?”, questiona o parlamentar, em áudio divulgado pelo jornal *O Estado de S. Paulo*. O conteúdo das conversas revela um nível de articulação que extrapola os limites da atuação institucional, e indica uma movimentação política paralela a partir da qual Bolsonaro tentava manter influência sobre o Congresso e, ao mesmo tempo, retaliar cortes e decisões judiciais que o atingiam diretamente.
Além da tentativa de CPI, os áudios também registram desabafos do ex-presidente sobre a cobertura negativa da imprensa, especialmente a respeito do caso das joias sauditas e acusações de corrupção. Ele se queixa da forma como é retratado na mídia, principalmente quando associado à “extrema direita”, termo que o incomoda profundamente, segundo interlocutores próximos. Em um trecho curioso, surge ainda a figura do ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, que teria oferecido a Bolsonaro uma viagem de 14 dias a Israel com todas as despesas pagas. A proposta, embora generosa, não teve sua aceitação confirmada.
A preocupação com a perda de apoio do agronegócio também é evidenciada nos áudios, apontando para o receio de Bolsonaro em ver sua base de sustentação política fragmentada com a ascensão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva ao terceiro mandato. Essa inquietação reflete a estratégia do ex-presidente de manter canais abertos com setores conservadores e economicamente relevantes, mesmo afastado do poder e sob investigação. Hoje réu no STF e alvo de múltiplos inquéritos, Bolsonaro está submetido a medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes: utiliza tornozeleira eletrônica, tem horários e deslocamentos limitados, está proibido de acessar redes sociais e não pode manter contato com seu filho Eduardo Bolsonaro, que se encontra nos Estados Unidos, afastado temporariamente do mandato parlamentar.
Em paralelo, a PF segue analisando um segundo celular do ex-presidente, apreendido recentemente em nova operação. As revelações desta segunda-feira somam-se a um crescente acervo de provas que sustentam as investigações sobre tentativas de obstrução institucional e conspirações políticas promovidas por Bolsonaro no pós-governo.
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