segunda-feira, 28 de julho de 2025

BOLSONARO É FLAGRADO EM ÁUDIOS ARTICULANDO CPI CONTRA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Na manhã desta segunda-feira (28), vieram à tona gravações inéditas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), revelando bastidores de articulações políticas que visavam enfraquecer o Supremo Tribunal Federal (STF) por meio da instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Os áudios, obtidos pela Polícia Federal durante operações em 2023, estavam armazenados no celular apreendido de Bolsonaro e mostram conversas com aliados próximos, sugerindo um esforço coordenado mesmo após o fim de seu mandato. Um dos principais interlocutores nos registros é o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ), conhecido por sua fidelidade ao ex-presidente. No diálogo, Hélio demonstra resistência em assinar a CPI de abuso de autoridade contra ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), temendo que isso pudesse prejudicar Bolsonaro no contexto das investigações em curso no próprio Supremo. No entanto, mesmo hesitante, acaba aderindo à proposta, após insistência do ex-presidente.

“Boa noite, presidente. A galera está me pressionando aí porque Eduardo, todo mundo, assinou essa CPI de abuso da autoridade do TSE e do STF. E eu não assinei até agora porque não queria entrar nessa bola dividida, com medo de prejudicar até o senhor mesmo nas decisões lá. O que você acha aí, mais ou menos?”, questiona o parlamentar, em áudio divulgado pelo jornal *O Estado de S. Paulo*. O conteúdo das conversas revela um nível de articulação que extrapola os limites da atuação institucional, e indica uma movimentação política paralela a partir da qual Bolsonaro tentava manter influência sobre o Congresso e, ao mesmo tempo, retaliar cortes e decisões judiciais que o atingiam diretamente.

Além da tentativa de CPI, os áudios também registram desabafos do ex-presidente sobre a cobertura negativa da imprensa, especialmente a respeito do caso das joias sauditas e acusações de corrupção. Ele se queixa da forma como é retratado na mídia, principalmente quando associado à “extrema direita”, termo que o incomoda profundamente, segundo interlocutores próximos. Em um trecho curioso, surge ainda a figura do ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, que teria oferecido a Bolsonaro uma viagem de 14 dias a Israel com todas as despesas pagas. A proposta, embora generosa, não teve sua aceitação confirmada.

A preocupação com a perda de apoio do agronegócio também é evidenciada nos áudios, apontando para o receio de Bolsonaro em ver sua base de sustentação política fragmentada com a ascensão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva ao terceiro mandato. Essa inquietação reflete a estratégia do ex-presidente de manter canais abertos com setores conservadores e economicamente relevantes, mesmo afastado do poder e sob investigação. Hoje réu no STF e alvo de múltiplos inquéritos, Bolsonaro está submetido a medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes: utiliza tornozeleira eletrônica, tem horários e deslocamentos limitados, está proibido de acessar redes sociais e não pode manter contato com seu filho Eduardo Bolsonaro, que se encontra nos Estados Unidos, afastado temporariamente do mandato parlamentar.

Em paralelo, a PF segue analisando um segundo celular do ex-presidente, apreendido recentemente em nova operação. As revelações desta segunda-feira somam-se a um crescente acervo de provas que sustentam as investigações sobre tentativas de obstrução institucional e conspirações políticas promovidas por Bolsonaro no pós-governo.

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