De assassino canibal a missionário na prisão: Jorge Beltrão, o homem que matou mais de 8 mulheres e agora prega o evangelho atrás das grades
Do horror absoluto à suposta redenção, a trajetória de Jorge Beltrão Negromonte continua a chocar o Brasil. Conhecido nacionalmente como um dos protagonistas do caso dos "Canibais de Garanhuns", Beltrão volta ao centro das atenções mais de uma década após ser preso — não por um novo crime, mas por um vídeo que viralizou nas redes sociais. Nele, o ex-criminoso aparece pregando em um culto evangélico dentro do presídio, já conhecido entre os detentos como “pastor Jorge”. Com terno, Bíblia nas mãos e discurso inflamado, ele lidera orações e fala sobre salvação e arrependimento. A cena, para muitos, soa como um absurdo, considerando o passado brutal do homem que confessou ter matado e devorado carne humana.Entre os anos de 2008 e 2012, Jorge Beltrão e suas cúmplices — a esposa Isabel Cristina e a amante Bruna Cristina — formaram um grupo responsável pelo assassinato de pelo menos oito mulheres, embora as investigações apontem para a possibilidade de mais vítimas. Os corpos eram esquartejados e enterrados no quintal da casa onde o trio vivia, no bairro Jardim Petrópolis, em Garanhuns, no Agreste de Pernambuco. Em alguns casos, parte da carne das vítimas era extraída, moída e utilizada na preparação de salgados — empadas e coxinhas — que eram vendidos na vizinhança. Jorge confessou que ele mesmo consumia a carne, dizendo que aquilo fazia parte de uma “purificação espiritual”.
As vítimas, geralmente mulheres em situação de vulnerabilidade social, eram atraídas com promessas de emprego ou ajuda financeira. Ao chegarem na residência, eram assassinadas com crueldade. Em depoimentos frios e detalhados, Jorge revelou como decapitava as mulheres, retirava os órgãos e preparava a carne para consumo. A motivação apresentada pelo grupo misturava delírios religiosos com teorias conspiratórias e uma espécie de "missão divina" de "limpar o mundo". O trio se autodenominava "o cartel" e agia com plena consciência, embora a defesa tenha tentado levantar a hipótese de insanidade mental.
Além dos assassinatos, o caso ganhou contornos ainda mais perturbadores quando foi descoberto que uma das vítimas tinha uma filha pequena, que foi sequestrada e criada por Jorge e Isabel como se fosse filha biológica. A criança viveu por anos em meio a uma rotina de seitas, violência e convívio com os assassinos de sua mãe. O Conselho Tutelar interveio após a prisão dos três, e a menina foi resgatada e encaminhada à proteção do Estado.Condenado a mais de 70 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, vilipêndio de cadáver e outros crimes, Jorge foi transferido para o Complexo Prisional do Curado, onde cumpre pena até hoje. Segundo agentes penitenciários, ele passou a frequentar cultos religiosos internos desde os primeiros anos de reclusão. Com o tempo, tornou-se figura ativa no grupo evangélico do presídio e, nos últimos anos, passou a liderar celebrações e a se apresentar como missionário. O tom é de alguém profundamente arrependido, que afirma ter “entregue a vida a Cristo” e renunciado à escuridão que o guiava.
No vídeo que circula nas redes sociais, Jorge prega com fervor, pedindo a outros detentos que entreguem seus pecados a Deus. “Hoje eu sou um novo homem, lavado e remido pelo sangue do cordeiro”, diz ele, rodeado de presos em oração. As imagens, apesar da aparência pacífica, causam indignação em muitas pessoas que não esquecem a monstruosidade dos atos cometidos.
O Estado não se pronuncia sobre a autenticidade do vídeo, mas confirma que Jorge participa de atividades religiosas dentro da penitenciária, como parte de um projeto de ressocialização. O Código Penal Brasileiro prevê esse tipo de ação como direito do reeducando, desde que haja bom comportamento e interesse em participar das iniciativas.
Enquanto isso, as famílias das vítimas seguem marcadas pela dor e pelo sentimento de impunidade moral. Para elas, nenhuma conversão é capaz de apagar o sofrimento causado. “Ele pode até ter se arrependido, mas a minha filha não volta mais”, disse em entrevista uma das mães das mulheres assassinadas.
Jorge Beltrão, o homem que enterrou mulheres no quintal da própria casa, que moía carne humana para rechear salgados e que chocou o país com seus crimes indescritíveis, agora prega amor e redenção dentro da prisão. Um símbolo da brutalidade que se transforma, ou tenta se transformar, em símbolo de fé. A sociedade assiste perplexa, dividida entre a crença no poder da mudança e o horror que nunca será esquecido.
Vídeo no nosso Instagram @blogdoedney
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