quarta-feira, 13 de agosto de 2025

ARTIGO: EDUARDO CAMPOS — UM FAROL QUE INSPIRA O AMANHÃ

Por Geovani Oliveira*
Este dia ficou gravado na minha alma como uma ferida aberta. Foi a data em que dois gigantes da política pernambucana — Miguel Arraes e Eduardo Campos — partiram para outra dimensão. Avô e neto, líderes populares que escreveram capítulos inesquecíveis da nossa história, cada um no seu tempo, cada um com seu brilho. Convivi com Arraes na minha juventude. Eu o seguia com o olhar atento, bebendo de sua inteligência política, admirando sua coragem. Ele era mito, exemplo, farol. Para mim, um jovem sedento por aprender, que vinha de uma família que respirava política, principalmente a municipalista, Arraes era mais que inspiração: era a certeza de que a política podia transformar vidas.

O tempo correu, e o destino tratou de cruzar meu caminho com o de Eduardo Campos. No plebiscito sobre o sistema de governo, ele era o coordenador estadual da Frente Presidencialista, e eu, junto com Tony Neto, liderava essa frente no Agreste Meridional sob sua supervisão. Reuniões no gabinete da Assembleia, entrevistas nas rádios, debates quentes… ali nasceu uma amizade que cresceria com força e respeito. Em 2006, estive ao seu lado na campanha que o levou ao governo do Estado. No seu primeiro mandato, ocupei a gerência dos servidores do Estado, na Secretaria de Administração comandada por Paulo Câmara, que mais tarde seria governador. Quando deixei o cargo para ser prefeito de Itaquitinga, por dois mandatos, Eduardo continuou presente.
Era impressionante: às vezes, bastava eu lhe entregar um bilhete num evento ou encontro rápido. Ele o guardava no bolso e, dias depois, me ligava com a solução na ponta da língua. Eduardo tinha esse dom raro: ouvir, registrar e agir. E sempre com aquele humor leve, que desarmava qualquer tensão. Mas também era um guerreiro implacável na defesa de Pernambuco. Com ele, não havia espaço para covardias. Era duro quando precisava, mas sempre verdadeiro com quem lhe era leal.

Até que um acidente aéreo muito estranho, doloroso, inaceitável, nos roubou o presidente que o Brasil precisava. Poucas semanas antes, ele havia me chamado, na casa de João Mendonça, em Belo Jardim, para disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa pelo PSB. Com sua partida, perdi não só o amigo, mas também a oportunidade. Os novos “donos” do jogo criaram obstáculos, e fui obrigado a retirar a pré-candidatura. Muito fizemos em Itaquitinga nos anos em que Eduardo governou Pernambuco. Depois, voltei à prefeitura com Paulo Câmara no governo, mas isso já é outra história.

O que fica? Fica a certeza de que Eduardo Campos foi o guardião de uma nova mentalidade, de uma maneira diferente de pensar e fazer política. Hoje, completam-se 11 anos do vácuo que sua ausência deixou, não só em Pernambuco, mas no Brasil. Mesmo mais de uma década depois, seus ensinamentos, planos estratégicos e sua visão de futuro ainda respiram entre nós. Nos dias sombrios de hoje, em que o Congresso virou território hostil às causas populares, lembro-me dele e renovo minha fé: precisamos mudar. Eduardo vive! Vive em cada um de nós que acreditamos que o Brasil e Pernambuco podem ser diferentes. Ele é, e sempre será, um farol a iluminar o caminho para o amanhã.

*Advogado, natural de Garanhuns, Ex-prefeito de Itaquitinga na Mata Norte.

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