sábado, 2 de agosto de 2025

CEARENSES AVANÇAM SOBRE A SUDENE E AMEAÇAM RAMAL FERROVIÁRIO DE SUAPE: PERNAMBUCO REAGE PARA SALVAR SEU FUTURO ECONÔMICO

A disputa pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) trouxe à tona um embate político e regional que vai muito além de uma simples mudança administrativa. Tida por muito tempo como um órgão enfraquecido e relegado a segundo plano, a Sudene voltou ao centro das atenções depois que passou a integrar o projeto da Ferrovia Transnordestina como sócia. Isso reacendeu seu papel estratégico no desenvolvimento regional e, por consequência, despertou o interesse de grupos políticos que enxergam na autarquia uma ferramenta poderosa para influenciar decisões sobre investimentos e infraestrutura no Nordeste.

O foco da disputa atual está entre Ceará e Pernambuco. A polêmica teve início quando o governador do Ceará, Elmano de Freitas, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o empresário Benjamin Steinbruch, parceiro privado do empreendimento, solicitaram diretamente ao presidente Lula a demissão do atual superintendente da Sudene, Danilo Cabral, natural de Pernambuco. A intenção do grupo é substituí-lo por um nome cearense, reposicionando a influência sobre os rumos da ferrovia e do próprio órgão. Segundo informações de bastidores, Lula teria aceitado o pedido, mas a mudança só veio à tona nos últimos dias, causando forte reação em Pernambuco.

Danilo Cabral foi indicado pelo PT de Pernambuco, com aval dos senadores Humberto Costa e Teresa Leitão. Como o partido não recebeu nenhum ministério no governo federal, foi contemplado com cargos de relevância como a Sudene, duas diretorias do Banco do Nordeste e a Codevasf estadual. Agora, com a possibilidade concreta de perder a Sudene, o PT pernambucano se mobiliza para tentar reverter a decisão. Humberto Costa buscou interlocução direta com o Palácio do Planalto e com a ministra Gleisi Hoffmann, mas segundo apurou este blog, o padrinho da mudança é o próprio Rui Costa, hoje o homem mais influente do núcleo duro do governo Lula.

A substituição de Danilo Cabral não é apenas uma disputa de cargos: ela representa um ponto de inflexão no equilíbrio político-regional. Um dos principais temores manifestados por técnicos e especialistas é o impacto dessa decisão no traçado da Ferrovia Transnordestina. O professor Maurício Pina, da UFPE, especialista em mobilidade e ferrovias, alertou que a saída de Danilo pode comprometer a execução do ramal Salgueiro–Suape, essencial para que Pernambuco permaneça integrado à malha ferroviária do projeto. Segundo ele, os cearenses têm demonstrado pouco interesse em viabilizar esse trecho e querem concentrar os investimentos no Porto de Pecém, que já está prestes a ser beneficiado com a conclusão do primeiro trecho da ferrovia. Pina acrescenta que Danilo vem se dedicando intensamente ao tema e conduzindo audiências públicas no estado para garantir a execução do ramal pernambucano.

A preocupação é que, caso esse ramal não saia do papel, Pernambuco fique com um porto isolado, enquanto o Ceará contará com uma vantagem logística gigantesca, com 2.500 km de ferrovia convergindo para o Porto de Pecém. Isso colocaria Suape em desvantagem estratégica e impactaria negativamente o desenvolvimento econômico de Pernambuco nos próximos anos.

As reações à possível exoneração de Danilo começaram a se intensificar. Instituições importantes como a Federação das Indústrias de Pernambuco (FIEPE), o Conselho Regional de Engenharia (CREA) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) divulgaram uma nota conjunta defendendo sua permanência no cargo, destacando seu comprometimento com a causa nordestina e sua capacidade de articulação. Deputados federais como Augusto Coutinho e Carlos Veras também se posicionaram a favor de Danilo, além do senador Humberto Costa, que reafirmou seu esforço junto ao governo para tentar evitar a mudança.

Em Pernambuco, a Assembleia Legislativa também se uniu à mobilização. O presidente da Alepe, deputado estadual Álvaro Porto, divulgou uma nota dizendo falar em nome de todos os parlamentares estaduais e reafirmando o apoio à permanência de Danilo Cabral. Álvaro desmentiu boatos de que o superintendente estaria travando a liberação de recursos para o trecho cearense da ferrovia, ressaltando que, desde que assumiu o cargo, Danilo liberou R$ 1,8 bilhão para as obras no Ceará e assegurou outros R$ 3,6 bilhões.

Apesar da mobilização crescente em Pernambuco, fontes nos bastidores admitem que será difícil manter Danilo Cabral no cargo sem uma intervenção mais forte do governo estadual ou uma reconfiguração nas articulações políticas do PT. O episódio expõe com clareza as tensões que envolvem os interesses dos estados nordestinos dentro do governo federal, além de demonstrar como cargos estratégicos podem alterar profundamente o destino de grandes projetos regionais. A Sudene, que por muito tempo foi tratada como um órgão irrelevante, volta agora a ser peça-chave num tabuleiro em que cada movimento pode mudar o futuro logístico, político e econômico do Nordeste.

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