ELEITOR BRASILEIRO: DA INGENUIDADE AO CINISMO ELEITORAL
Há pouco mais de uma década, a crítica dominante era que o eleitor brasileiro “não sabia votar”. A avaliação, hoje, parece até otimista diante da realidade atual. O que se vê é um comportamento eleitoral ainda mais degradado, com escolhas pautadas por radicalismo, oportunismo e, em muitas localidades, pelo velho e ilegal comércio de votos. O eleitor não apenas mantém vícios antigos, como adquiriu outros piores. Vamos passar aqui essa realidade triste e vergonhosa NA LUPA.
RADICALIZAÇÃO E POLARIZAÇÃO COMO REGRA
A nível nacional, o eleitor médio parece ter abandonado nuances. Ou é esquerda ou é direita. PT ou PL. Cores e símbolos substituíram propostas e diagnósticos. A polarização não só empobrece o debate como exclui alternativas viáveis, impedindo que projetos de centro ou independentes ganhem espaço. O voto deixou de ser escolha racional para se tornar arma de guerra cultural. Aqui tudo não passa de uma estratégia de dividir para somar.
NOS GROTÕES, O VOTO TEM PREÇO
Enquanto nas capitais a disputa se dá no campo ideológico, nos pequenos municípios o jogo é outro: quem paga mais, leva. O comércio de votos, que deveria ser um resquício do passado, permanece vivo e bem adaptado. Cem reais, duzentos reais, uma promessa vaga — e a urna é conquistada. Essa prática corrói a democracia e mantém no poder quem melhor manipula a pobreza e a necessidade.
A BARREIRA DO DINHEIRO NAS ELEIÇÕES
Ninguém se elege sem dinheiro. Essa frase, dita à boca pequena por muitos políticos, é cada vez mais evidente. Campanhas milionárias não apenas garantem visibilidade, mas também acesso às estruturas de convencimento de massa. Os bem-intencionados, mas sem recursos, ficam confinados ao discurso, sem jamais alcançar o poder real. No Brasil, “liso” não se elege — salvo raríssimas exceções.
FUNDO PARTIDÁRIO: O CLUBE DOS CACIQUE
O fundo partidário e o fundo eleitoral, que deveriam democratizar as disputas, servem apenas para reforçar o poder de caciques partidários. A verba migra para candidatos escolhidos a dedo, muitas vezes sem mérito, mas com capital político interno. Jovens talentos e lideranças genuinamente vocacionadas são colocados à margem, sem recursos e sem chances.
A MORTE DA IDEOLOGIA E DOS PROJETOS
Redes sociais e comunicação digital poderiam ampliar o acesso à informação e o debate qualificado. O efeito, no entanto, foi o oposto: prevaleceu o imediatismo, a busca por curtidas e frases de efeito. Ideologias e projetos de longo prazo perderam espaço para narrativas rasas e polarizadas. O eleitor vota não pelo que acredita, mas contra quem odeia.
FESTIVAL DE AIJES E A IMPUNIDADE DISFARÇADA
As últimas eleições registraram um verdadeiro festival de Ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJEs). Denúncias de abuso de poder econômico, compra de votos e irregularidades diversas abarrotam a Justiça Eleitoral. O número é tão alto que a punição, quando chega, já perdeu o efeito prático — o político cumpre boa parte do mandato antes de ser cassado, se for.
O CICLO VICIOSO E A FALTA DE ESPERANÇA
No fim, a responsabilidade se dilui. Eleitor e político trocam acusações, mas o ciclo se repete a cada quatro anos. Sem dinheiro, sem ideologia e com uma democracia sequestrada por interesses de poucos, a renovação política fica cada vez mais distante. E o pior: cresce a parcela da população que prefere o ganho imediato, a venda do voto mesmo sendo ilegal, a qualquer perspectiva de mudança verdadeira. É isso aí.
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