segunda-feira, 29 de setembro de 2025

COLUNA POLÍTICA | ELEIÇÕES 2026| NA LUPA 🔎 | POR EDNEY SOUTO

A GUERRA PELOS PREFEITOS: RAQUEL LYRA E JOÃO CAMPOS TESTAM FORÇAS PARA 2026

O XADREZ POLÍTICO ENTRE PALÁCIO DO CAMPO DAS PRINCESAS E PSB DO RECIFE

A eleição de 2026 em Pernambuco já começou a mostrar sua principal marca: a disputa aberta entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), pelo apoio dos prefeitos espalhados pelo estado. Nos últimos dias, os movimentos foram claros. De um lado, João conquistou o apoio do prefeito de Xexéu, Thiago de Miel, até então aliado do Palácio. Do outro, em menos de 24 horas, a governadora deu o troco, trazendo para o seu partido o prefeito José Martins, de João Alfredo, que deixou o PSB para reforçar a reeleição de Raquel.

PREFEITOS VIRAM MOEDA DE TROCA POLÍTICA

O apoio de prefeitos não garante vitória, mas ninguém duvida do peso dessa base. No interior, as prefeituras ainda são referência direta para a vida das pessoas, que dependem de serviços básicos como saúde, transporte escolar e até o lazer promovido pelas gestões municipais. Assim, quem soma mais palanques ganha visibilidade, estrutura e, principalmente, capilaridade para falar com o eleitor.

A FRAGILIDADE OCULTA DESSA ESTRATÉGIA

Apesar da festa com adesões, há uma fragilidade pouco comentada. Prefeitos não têm a mesma obrigação de fidelidade partidária que deputados. Trocam de sigla com a mesma facilidade com que se veste uma camiseta para disputar uma corrida de rua. Ou seja, a fotografia de hoje pode não se repetir no palanque de amanhã. Sem um fio condutor com parlamentares, esses apoios podem se desfazer com a mesma rapidez com que foram conquistados.

RAQUEL NA FRENTE COM 71 PREFEITOS FILIADOS

Raquel Lyra vem se preparando para essa guerra com antecedência. Apostando em um discurso municipalista, ela conseguiu atrair 71 prefeitos para o PSD, prometendo obras e ações em municípios grandes e pequenos. É uma forma de consolidar alianças e mostrar força política na base.

A AUSÊNCIA DOS DEPUTADOS NA COSTURA

O problema é que, até agora, a governadora parece mais focada em prefeitos do que em parlamentares. Deputados federais e estaduais são os verdadeiros articuladores da política: são eles que levam pleitos locais para Brasília e para a Assembleia, transformando-os em emendas, projetos e articulações. Ignorar esse elo pode custar caro. Sem a ponte com os deputados, o que parece um exército sólido de prefeitos pode ser, na prática, um castelo de areia — bonito por fora, mas frágil diante da primeira onda de pressões políticas.

JOÃO CAMPOS CORRE CONTRA O TEMPO

O PSB de João Campos conta atualmente com apenas 21 prefeitos. Para não ficar atrás, o prefeito do Recife está correndo contra o tempo. Sua estratégia é dupla: buscar os grupos de oposição locais onde o PSD está forte e, em alguns casos, tentar atrair diretamente prefeitos que estão no campo governista, como fez em Xexéu. Mas a reação imediata do Palácio mostra que Raquel não pretende ceder espaço sem travar uma disputa voto a voto. Mais na maioria dos casos ataca a oposição aos prefeitos que o palácio cooptou e consegue êxito simplesmente pelos grupos de oposição não terem atenção devida do palacio, umas adesões gratuitas digamos assim.

A LIÇÃO DA HISTÓRIA: APOIO NÃO É SUFICIENTE

A política pernambucana já mostrou que o apoio de prefeitos é importante, mas não é definitivo. Em 1998, por exemplo, Miguel Arraes tinha mais de 100 prefeitos ao seu lado, mas perdeu a eleição para Jarbas Vasconcelos com mais de 1 milhão de votos de diferença. Isso mostra que, além das bases, contam o carisma, a credibilidade e a capacidade de comunicação com o eleitorado.

O FUTURO DA ELEIÇÃO

O tabuleiro político em Pernambuco segue em movimento, e a disputa por prefeitos virou símbolo de força tanto para Raquel Lyra quanto para João Campos. Mas essa corrida tem limites: prefeitos não garantem sustentação duradoura sem o respaldo de uma base parlamentar sólida.
Raquel ainda tem tempo e inteligência para recalibrar sua estratégia, mas precisa agir rápido. Muitas oposições que perderam por margens mínimas seguem vivas, esperando apenas atenção para voltarem ao jogo. Em alguns casos, quem está fora do poder tem mais aceitação do que quem governa com a caneta na mão.
No fim, prefeitos podem render manchetes, mas deputados e articulação política real é que definem o futuro. Em política, a lógica não se reinventa: continua sendo jogada como sempre foi. É isso.

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