Por Greovário Nicollas.
No cenário político contemporâneo, especialmente no interior do Brasil, fazer um sucessor tornou-se um verdadeiro “suicídio político”. A máxima que antes simbolizava continuidade e força passou a representar ruptura, ingratidão e destruição de legados. No Agreste Meridional e em tantas outras regiões do país, prefeitos que decidem “bancar” um nome para a própria sucessão acabam assistindo à metamorfose do aliado fiel em principal adversário — e, não raro, em algoz político.
A política municipal tem uma lógica simples e cruel: quem tem a caneta, manda; quem não tem, quer pegá-la. A situação governa, a oposição combate. Até aí, nada novo. O problema surge quando o criador fabrica a criatura — e esta, uma vez sentada na cadeira do poder, esquece quem a colocou lá. O prefeito que ousa fazer um sucessor descobre, cedo demais, que o poder é um território sem gratidão.
Hoje, quem consegue eleger o sucessor raramente consegue manter influência sobre ele. Ao contrário, o novo gestor tende a se afastar do antecessor, romper politicamente e, em muitos casos, transformar o ex-prefeito em seu maior inimigo. O resultado é devastador: aquele que um dia liderou o grupo político, agora precisa enfrentar dois oponentes — o antigo adversário e o novo “afilhado” político, agora fortalecido pela máquina pública.
Essa dinâmica explica por que tantos prefeitos, estrategicamente, preferem perder a eleição a colocar um sucessor no poder. Lançar um nome fraco, sem chances reais de vitória, tem se tornado a tática para manter-se como “plano B” da cidade — a reserva moral e política que pode voltar no futuro sem enfrentar a força destrutiva da ingratidão.
Um exemplo recente e emblemático vem de Capoeiras, no Agreste Meridional. O atual prefeito Nego do Mercado, que jamais teria conquistado o cargo sem o apoio decisivo dos ex-prefeitos Neném e Neide Reino, rompeu com seus criadores assim que consolidou o poder. Hoje, faz questão de apagar qualquer vínculo político com quem o ajudou a chegar lá. O casal, que já teve forte influência na cidade, agora precisará retornar às urnas para tentar manter viva sua trajetória política — enfrentando não só antigos adversários, mas também aquele que um dia chamaram de aliado.
O caso de Capoeiras é apenas um retrato local de uma realidade nacional: a política brasileira tornou-se um campo onde lealdade é artigo raro e poder é sinônimo de sobrevivência.
Fazer um sucessor, nos dias atuais, é um ato de coragem — ou de ingenuidade. Porque, em tempos de vaidades e ambições desmedidas, quem cria sucessor, muitas vezes, cria o próprio fim político.
*Greovário Nicollas é Articulista, Periodista e Colaborador do Blog do Edney.*
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