Reconhecido pelo perfil conciliador e pela capacidade de diálogo com diferentes espectros ideológicos, José Múcio foi uma escolha estratégica de Lula para um ministério que, nos últimos anos, enfrentou forte polarização. Diferente de antecessores que adotaram posturas mais ideológicas ou confrontacionais, o ministro construiu uma relação baseada na diplomacia e na confiança mútua com os militares, o que tem sido apontado como fundamental para a estabilidade institucional das Forças Armadas.
A instalação da Escola de Sargentos em Pernambuco é tratada por Múcio como uma das principais bandeiras de sua gestão. Segundo ele, o impacto econômico e social do empreendimento será profundo: a escola deverá gerar cerca de seis mil empregos diretos e indiretos, além de movimentar uma folha de pagamento anual estimada em R$ 200 milhões. “Entre alunos, professores e toda a cadeia de serviços, muda completamente o cenário daquela região”, afirmou.
Um dos pontos mais sensíveis do debate tem sido a questão ambiental. O ministro rebateu críticas e esclareceu que houve uma redução significativa da área de supressão vegetal prevista inicialmente. “Quando cheguei ao ministério, o projeto falava em desmatar 90 hectares. Hoje, estamos falando em apenas 40 hectares. Em contrapartida, vamos plantar cerca de 400 hectares e agregar quase 1.500 hectares de área preservada. O ganho ambiental é muito maior”, explicou, destacando que muitas críticas partem de pessoas que desconhecem os números reais do projeto.
José Múcio também detalhou os motivos que levaram Pernambuco a ser escolhido. De acordo com ele, apenas três locais no Brasil reúnem as condições técnicas necessárias para sediar a ESE: Santa Maria, no Rio Grande do Sul; Três Corações, em Minas Gerais; e Pernambuco. “É preciso um espaço amplo para treinamentos específicos, inclusive de tiro, e essa estrutura já existe no quartel. Não estamos criando algo do zero, apenas agregando uma escola”, disse.
Sobre a demora na concretização do projeto, o ministro fez uma espécie de autocrítica. Admitiu que optou por avançar com cautela para que a sociedade compreendesse melhor os benefícios da iniciativa. “Talvez eu tenha protelado um pouco, porque queria que todos entendessem o quanto isso é bom para Pernambuco. Todos os estados querem essa escola, mas não têm espaço”, afirmou. Ele ressaltou ainda que o fato de ser pernambucano pesou na defesa intransigente do projeto: “Eu não poderia assumir uma possível perda para o meu Estado”.
Questionado sobre a possibilidade de Pernambuco perder a ESE para outro Estado, José Múcio foi enfático. “Não. Comigo no ministério, isso não sai. Em hipótese nenhuma.” Segundo ele, o custo total da obra deve girar em torno de R$ 2 bilhões, e o governo federal já assegurou R$ 150 milhões para o início das obras. “Consegui recursos que nenhum outro ministro tinha conseguido. Mesmo sem termos ainda o projeto executivo para gastar todo esse valor neste ano, fiz questão de garantir o dinheiro para assegurar definitivamente a escola aqui”, afirmou.
O ministro também comentou a parceria com a governadora Raquel Lyra (PSDB), rebatendo críticas de que o governo estadual não estaria colaborando. “Ela tem ajudado, sim. Falamos sempre, por telefone ou pessoalmente, e ela deseja que isso venha para cá. É uma oportunidade raríssima na história de Pernambuco, algo que talvez nunca mais se repita”, destacou, relatando inclusive a pressão de outros estados, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que ainda tentam atrair o empreendimento.
Ao abordar os desafios à frente do Ministério da Defesa, José Múcio foi direto ao apontar a escassez de recursos como o principal problema. Ele explicou que se trata de um ministério caro e pouco “rentável” do ponto de vista político. “Você compra um submarino de 100 milhões de euros ou um caça Gripen que custa dezenas de milhões de dólares e isso não dá voto. Em um país com tantas carências sociais, investir em defesa é sempre um debate difícil”, avaliou. Para ele, a solução passa por criar previsibilidade orçamentária, independentemente de governos ou partidos. “A defesa não pertence a partido político. Ela existe para que não nos ataquem. O Brasil tem petróleo, gás, água doce, sol e terra. Precisamos pensar menos em eleição e mais nas futuras gerações.”
Por fim, ao ser questionado sobre a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de integrantes da alta cúpula das Forças Armadas, o ministro adotou um tom firme e direto. “Isso é Justiça. Justiça você pode gostar ou não, mas não se discute”, concluiu.
A entrevista reforça o protagonismo de José Múcio Monteiro Filho não apenas como articulador político, mas como um dos principais fiadores de um projeto que promete marcar a história de Pernambuco e reposicionar o Estado no mapa estratégico da defesa nacional.
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