Goiana
Grupos de Caboclinhos e as Pretinhas do Congo, em Goiana, repassam a cultura às futuras gerações
Muito além da dança de passos rápidos, dos acessórios coloridos e da música leve para os ouvidos, os caboclinhos têm uma vasta tradição religiosa. Os trajes alegres, repletos de plumas, bordados em lantejoulas, colares cheios de cor e as cabaças na cintura, escondem a crença e a fé que há em toda essa tradição. Nela, misturam-se os resquícios da cultura afro com a essência da indígena. As mãos munidas de arcos e flechas rememoram os seus guerreiros. Na mente, está sempre o respeito pelos antepassados e as homenagens aos guias espirituais que abençoam o carnaval de cada caboclinho.
Foto: Teresa Maia/DP/D.A.Press A tradição predomina na Zona da Mata Norte do estado e com mais força no município de Goiana, a 61 quilômetros do Recife. Lá, um dos mais conhecidos grupos de caboclinhos, o União Sete Flechas, com 20 anos de existência, possui na sua sede uma espécie de santuário. Antes dos cortejos pela cidade, na terça-feira de carnaval, todos os 11 caboclinhos do município passam obrigatoriamente em frenteao local. ´O Sete Flechas é o rei da mata. Ele é um espírito indígena, que abençoa os guerreiros antes da caça. E no carnaval é a mesma coisa. Todo mundo tem que pedir a autorização dele. Sem a bênção dele fica difícil`, avisa o mestre do União Sete Flechas, Nelson Cândido Ferreira, 69 anos.
Foto: Teresa Maia/DP/D.A.Press Segundo o mestre Nelson, o Sete Flechas é o seu guia e está sempre com ele mostrando como os caboclos devem agir. ´Quando as coisas estão dando errado, ele sopra no meu ouvido ou dá um sinal. Às vezes ele até incorpora em mim`, garante o mestre Nelson, que é respeitado por todos os 120 caboclinhos do seu grupo.
Misturando a tradição de cunho mais indígena com a afro (mais precisamente do candomblé), os caboclinhos, além de passar pelo Sete Flechas, devem oferecer aos caboclos três bodes a cada carnaval. O ritual acontece dentro da mata, onde só os participantes têm acesso. A chegada é no sábado. De lá eles saem apenas no domingo. ´Tem que matar no sábado e comer no domingo. Se não matar os bichos, eles morrem do mesmo jeito. Secos, sem uma gota de sangue`, contou Vanderluce Gonçalves, 58 anos, esposa do mestre Nelson.
Índios Tabajaras
Apesar do nome, o grupo de caboclinhos conserva muito mais uma tradição de cunho afro. Com 35 anos de existência, os Tabajaras são compostos por 60 integrantes e têm na figura de Neílton do Carmo, 67, a sua maior representação. Curandeiro (ou feiticeiro), ele afirma que algumas entidades protegem os seus caboclinhos durante as apresentações. ´Uruacati, Tapirati, Sete Flechas, todos eles são espíritos que estão sempre conosco`, explica Neílton do Carmo, que divide a sede com um terreiro de umbanda.
Durante as apresentações, Neílton, como curandeiro, representa toda a tradição da cura. Neto de índios, ele explica que mostrar de forma teatral como os seus antepassados faziam para se curarem é uma forma de manter viva a tradição. ´Mostramos o que ainda acontece com a gente. Mas na rua apenas encenamos para mostrar que por trás de toda a brincadeira do carnaval há uma crença e religião também. Temos que manter a nossa tradição `, disse.
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