domingo, 6 de março de 2011

CORTAM CANA E COSTURAM BECAS - ISSO É CULTURA É MARACATU RURAL

Mãos que cortam cana e costuram suas fantasias
Golas imensas, repletas de lantejoulas. Lanças com muito adereços. Um trabalho feito por homens que participam do Maracatu Rural




Confira o vídeo com os mestres do maracatu de Nazaré da Mata. Imagens: Daniel Leal/DP/D.A Press
O Mestre Zé de Carro, 58 anos, tem habilidade para desenhar e ajudar na confecção das roupas dos caboclos de lança. Foto: Cecilia de Sa Pereira/DP/D.A PressO colorido que chama a atenção das pessoas por onde passa faz parte de uma grande tradição. As vestes volumosas com a gola imensa e brilhante, a lança repleta de adereços e o chapéu cheio de vida compõem a base da fantasia utilizada pelos caboclos de lança, figuras símbolo do maracatu rural. Vendo de longe, certamente, ninguém imagina que boa parte da produção dessas roupas parte de homens. Sobretudo dos que trabalham no corte da cana-de-açúcar. Profissionais tidos em geral como brutos, eles dão aula de sensibilidade, criatividade, conhecimento e amor pela cultura.

O Mestre Zé de Carro não sabe ler. Assina o seu nome e só. Durante anos trabalhou nos canaviais cortando cana. Poderia ser apontado como homem ignorante, rústico. Muito pelo contrário. Repleto de sabedoria e uma criatividade sem igual para compor versos, José Manoel da Silva, 58 anos, o Zé de Carro, também surpreende com a habilidade para desenhar e ajudar na confecção das tradicionais roupas dos caboclos de lança. ´Tem que cortar o tecido, fazer os riscos, os desenhos e colocar as lantejoulas uma a uma. Isso com a paciência e a rapidez que a prática do tempo dá para a gente.`, explicou Zé do Carro, um dos responsáveis por fazer de Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte do estado, a ´Terra do Maracatu`.




Confira o vídeo sobre a programação do Carnaval de Nazaré da Mata. Imagens: Daniel Leal/DP/D.A Press Mestre e presidente do maracatu mais antigo do Brasil, o Cambinda Brasileira, fundado em 1918, Zé de Carro admite que o brilho especial do grupo também tem um toque feminino. ´Não dá para fazer tudo. Minha esposa e as mulheres têm grande contribuição em tudo`, disse. Em média, toda a vestimenta de um caboclo de lança, aliados aos adereços, que incluem a lança, o meião e o surrão (responsável pelo barulho dos chocalhos), pesa entre cinco e seis quilos.

No Maracatu Estrela Brilhante, o artista é Manoel de França, o Mestre Baroxinha, 43, que além de cantar e administrar o seu grupo, também ajuda na confecção das fantasias de carnaval e até faz o modelo dos desenhos que compõe o manto. ´Eu cresci vivendo o maracatu. Aprática do tempo ajuda a gente. Não sou profissional de costura, mas eu tenho muito prazer e orgulho no que faço. Tudo por amor pela cultura`, afirmou.



Com inúmeros CDs gravados e incontáveis composições, o Mestre João Paulo, 60, do Maracatu Leão Misterioso aprendeu a essência da cultura nos canaviais. ´Escutava os versos e decorava`, disse. Em relação à fabricação das roupas, a exceção. ´Todo mestre sabe fazer. Mas eu não tenho muito tempo para isso`, admitiu.

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