Ocidente teme represálias e fica em alerta
Aeroportos dos Estados Unidos e da Europa aumentaram a segurança nos terminais aéreos e estações de trem
FOTO: REUTERS
Europa parabeniza operação americana, mas se preocupa; líderes latinos evitaram comemorar a morte
Paris. O anúncio da morte de Osama Bin Laden desatou uma onda de temores nos países ocidentais em relação a atentados retaliatórios de aliados do líder terrorista saudita.
O governo americano aumentou a segurança em aeroportos e estações de trem e emitiu um alerta global para "potencial elevado de violência" no mundo.
O ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que iniciou a guerra contra o terror, comemorou a morte. "Foi uma vitória dos Estados Unidos, das pessoas que querem a paz no mundo e de todos aqueles que perderam familiares e amigos nos ataques", ressaltou.
A reação na Europa à notícia foi contida e preocupada. Os principais líderes europeus usaram quase as mesmas palavras: cumprimentaram os Estados Unidos pela operação, mas disseram ser hora de elevar a vigilância devido ao aumento do risco de novas ações.
O Reino Unido, principal parceiro dos Estados Unidos nas guerras do Iraque e do Afeganistão, pediu a seus cidadãos no exterior que não participem de comemorações e que evitem aglomerações de pessoas. O primeiro-ministro, David Cameron, afirmou que a morte trouxe "alívio", mas avisou que o Ocidente deve ficar "especialmente atento" nas próximas semanas.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, lembrou a prisão, na semana passada, de três membros de suposta célula da Al Qaeda na cidade alemã de Düsseldorf. Ela alertou contra a tentação de considerar o terrorismo uma ameaça controlada.
Na França, foram colocados mais policiais em pontos turísticos e nos metrôs. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, saudou a morte e elogiou a "tenacidade dos Estados Unidos", mas avisou que ela não assinala o fim da Al Qaeda.
Na Espanha, alvo de ataques da Al Qaeda em 2004, o chefe de governo, José Luís Zapatero, demonstrou alegria. "A satisfação pela noticia da morte de Bin Laden é inseparável da memória das vítimas causadas pelos horríveis atentados que nunca abandonarão a nossa memória", afirmou o líder espanhol.
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, afirmou que este "foi um grande resultado da luta contra o mal".
América Latina
Os governos do Equador, da Venezuela e do Uruguai afirmaram concordar com a luta contra o terrorismo, mas foram unânimes em dizer que nenhuma morte deve ser comemorada.
O vice-presidente da Venezuela, Elías Jaua, criticou "o uso do assassinato como instrumento para a resolução de problemas" e pediu um "questionamento ético". "Não deixa de ser surpreendente como o crime e o assassinato se naturalizaram e como eles são celebrados", afirmou Jaua.
"Se os Estados Unidos conseguiram matar Bin Laden, que eles festejem. Eu não festejo a morte de ninguém, mas também não estou de acordo com o que aconteceu em 11 de setembro", afirmou o ministro das Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño.
O chanceler uruguaio, Luis Almagro, também declarou ser contra uma "celebração" do ato, embora considere a morte "um golpe contra o terror".
Já o presidente do Peru, Alan García, associou a morte de Bin Laden à beatificação de João Paulo II, no que considerou ser seu primeiro milagre.
SURPRESA
Oriente Médio reage com frieza à morte
Jerusalém. Houve quem jurasse vingança, mas a morte de Osama bin Laden foi recebida com uma pitada de frieza pela maioria dos líderes e cidadãos do Oriente Médio, tanto pelos que lamentaram o fim do líder da Al Qaeda quanto pelos que não simpatizavam com ele.
Do Egito à Arábia Saudita, do Marrocos ao Iraque, a vida seguiu como antes, sem manifestações de tristeza ou de alegria. E poucos líderes regionais se pronunciaram, na tentativa de manter uma neutralidade ilusória no pisar de ovos da política do mundo árabe.
No Afeganistão, o presidente Hamid Karzai comemorou o fim de Bin Laden e o fato de que ele não foi encontrado em seu país. Isso provaria, segundo Karzai, que o Afeganistão "não é lugar de terrorismo". E que seria a hora de as forças internacionais se retirarem.
O governo do Paquistão, que foi palco de alguns protestos contra os Estados Unidos, ressaltou que colaborou com os agentes da inteligência americana.
Até mesmo a reação do Irã foi morna. O porta-voz da chancelaria, Ramin Mehmanparast, afirmou esperar que "esse desenvolvimento acabe com a guerra".
A Autoridade Nacional da Palestina (ANP) afirmou que "se livrar de Bin Laden é bom para a paz mundial".
Nem os israelenses demonstraram muita excitação. Talvez porque a morte de Bin Laden tenha sido numa data anual solene, o Dia do Holocausto. Ou talvez porque acreditem que, no lugar de Bin Laden, surgirão outros líderes, talvez mais extremistas ainda. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que a ação americana foi uma "vitória retumbante da justiça e da liberdade".
CONDENAÇÃO AO TERRORISMO
Brasil: notícia tem ´dimensão positiva´
Brasília. O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, afirmou que a notícia da morte de Osama Bin Laden tem uma "dimensão interessante e positiva" diante da onda de manifestações pró-democracia em diversos países árabes.
Patriota explicou que a figura de Bin Laden ajudou a estigmatizar a imagem do mundo islâmico "como um mundo onde as alternativas seriam entre a autocracia e o fundamentalismo islâmico". "Nós sabemos que não é esse o caso", completou o chanceler.
O ministro disse ainda que o governo brasileiro se solidariza com as vítimas dos desastres provocados pelo terrorista e "com aqueles que buscam justiça". Patriota reforçou a posição do Brasil de condenação a qualquer ato terrorista, independente de sua motivação, e afirmou temer possíveis reações.
Ontem, a embaixada do Brasil no Paquistão fechou as portas mais cedo. Patriota, conversou com o embaixador brasileiro no Paquistão, Alfredo Leoni, que relatou um "estado de alerta". O ministro das Relações Exteriores disse ainda que Leoni transmitiu "segurança e tranquilidade". Patriota lembrou que o Brasil não costuma ser alvo de atentados terroristas, mas que a vigilância será elevada.
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