quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Onde a parte social é desenvolvida, o frio intenso não mata


Sem entender a onda gelada está a paisagista Ana Paula Hornbostel, 46 anos, brasileira radicada em Zurique, centro financeiro da Suíça, há 22 anos. Ela afirma nunca ter presenciado "frio como este". "Os meteorologistas dizem que não temos temperaturas tão abaixo de zero há 30 anos!", falou ao SRZD em tom de surpresa.
A suíço-brasileira destacou que, apesar de na cidade marcar aproximadamente -14ºC durante o dia, e nas montanhas -30°C, o país leva vantagem sobre a Itália, França e Leste Europeu, sem mortes e grandes problemas nos transportes.

De acordo com informações da agência "Efe" divulgadas no último sábado, foram cancelados 60 voos no aeroporto Leonardo da Vinci, e outros dez no terminal Ciampino, ambos em Roma.

Os trens italianos também enfrentaram dificuldades em razão das nevascas (responsáveis pela interrupção de saídas) e por causa da falta de estrutura adequada para aguentar o frio, com vagões sem aquecimento.
Ana Paula lembrou que a Suíça e outros países europeus utilizam a técnica do sal para derreter a neve nas vias de trânsito, mas nos últimos dias, a reação química necessária para o derretimento não está ocorrendo porque o sal também congela. "Há acidentes aqui, mas sem gravidades", frisou.
Segundo a paisagista, o Estado helvético, como contraponto dos países onde mendigos e idosos morrem, tem "um lado social que funciona muito bem", com abrigos públicos suficientes para receber os moradores de rua no inverno. "Aqui em Zurique, tem o Padre Sieber também, que angaria fundos para dar de comer, de vestir, dar assistência moral e religiosa. Só fica na rua quem quer", enfatizou.
Além do serviço social desenvolvido, o fornecimento de gás e energia é satisfatório. "A Suiça tem 556 centrais  de represas (de água) distribuídas entre os cantões (estados) Uri, Tessin, Graubünden e Wallis. Com essas represas é feita a energia", explicou Hornbostel.
Foto: Saara NummelaAo lado do país-sede da Organização das Nações Unidas na Europa, está a terra do Papai-Noel, Finlândia, com uma infra-estrutura desenvolvida. É o que aponta a estudante Saara Nummela, 20 anos, que disse ao SRZD que o país está preparado para resistir às baixas temperaturas do inverno.
Moradora de Kristiinankaupunki, a 340 quilômetros ao noroeste da capital Helsinque, Saara considera o inverno em questão normal para o país, e adverte que o frio maior ocorre, como sempre, na Lapônia, onde os termômetros chegaram a -40ºC durante a noite. Além disso, ela afirmou que o preparo do campo para suportar as baixas temperaturas é maior do que na cidade.
"Eu acho que as maiores cidades, têm problemas maiores, como trânsito engarrafado e manutenção de transportes públicos no frio, por exemplo. Quem mora no campo, como minha família, está tão acostumado a este tipo de inverno que acaba achando normal, e toma precauções, como, por exemplo, derreter águas dos canos que congelam", opinou. Mas, a imprensa local alerta que, no derretimento caseiro, há perigo de incêndio, o qual Saara garante não sofrer, já que o pai "sabe o que faz".
Questionada sobre a existência de moradores de rua e a maneira como o governo age em relação a este segmento da sociedade, a finlandesa respondeu que "o bem-estar social no país é tão bom que ninguém, na verdade, teria que viver como mendigo". A estudante disse ainda que não ouviu falar em mortes de moradores de rua, e ressalta que há muitos abrigos espalhados pelo país.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2011 mostra os dois países em posições de destaque: a Finlândia consta em 22º lugar, enquanto a Suíça ocupa o 11º lugar, ambos enquadrados em um padrão de desenvolvimento "muito alto". O relatório da ONU leva em conta a expectativa de vida ao nascer, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita (como indicador do padrão de vida) e a educação.
Frio intenso não é incomum, diz cientista
Segundo o diretor da divisão de aplicações de dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Omar Baddour, as baixas temperaturas são normais na estação do ano, e a sensação extrema aparece pois o começo do inverno foi mais quente do que o normal.
Baddour explicou à agência "Efe" que a causa do fenômeno seria uma oscilação negativa do Ártico, o que gerou as baixas temperaturas. "O fenômeno bloqueou a massa de ar mais temperado que normalmente entra pelo oeste", completou.
O especialista alertou que o frio pode continuar por duas ou três semanas, mas deve haver uma queda nos próximos dias, já sentida em alguns países.
SRZD

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