Em três décadas, entre 1976 e 2006, o escritório de Oscar Niemeyer foi contrato para elaborar, pelo menos, cinco projetos arquitetônicos de obras em Natal, cidade que estava em transformação pelo incremento da atividade turística e que precisava renovar sua arquitetura. Três deles nunca saíram o papel e os dois que foram concluídos na gestão do ex-prefeito Carlos Eduardo, estão abandonados atualmente. O primeiro projeto foi encomendado em 1976 pelo ABC Futebol Clube, que havia vendido sua sede na Rua Potengi e planejava passos mais largos num ambiente mais moderno e amplo. O projeto, segundo a Fundação Oscar Niemeyer, não foi concluído, assim como o do Costeira Palace Hotel, na Via Costeira, encomendado em 1983 e o da sede da Companhia de Álcalis do Rio Grande do Norte (Alcanorte), projetada em 1980, no governo Lavoisier Maia Sobrinho.
Oscar Niemeyer tinha medo de avião e, sempre que possível, evitava voar. Dentro do País, preferia viajar de carro e, nas viagens intercontinentais, gostava de ir de navio. Embora a maioria de suas obras tenham sido grandiosas e de alto custo financeiro, muitos projetos foram doados pelo arquiteto por questões éticas e de amizade.
Carioca, filho de Oscar de Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho nasceu no dia 15 de dezembro de 1907, no bairro das Laranjeiras. Casou-se com Annita Baldo quando tinha 21 anos e ficou viúvo em 2004. Dois anos mais tarde, casou com sua secretária, Vera Lúcia Cabreira. Com a primeira mulher, teve uma filha, Anna Maria Niemeyer. Deixou netos, bisnetos, trinetos e muitos amigos.
A torre de Natal
Oscar Niemeyer
É importante - esta é a preocupação de qualquer governante - deixar como lembrança de sua passagem pelo cargo uma obra que a justifique.
Do prefeito Pereira Passos, ficou a Avenida Rio Branco, que construiu, arrasando o morro Castelo, fazendo uma ligação espetacular entre a zona portuária do Rio e a Avenida Beira Mar. Lembro, apesar de algumas críticas que ainda surgem, os elogios de Le Corbusier, em sua primeira viagem ao Brasil. É claro que a avenida poderia ser diferente e os prédios mais bonitos, mas a coragem do velho prefeito ficou marcada para sempre.
Fatos semelhantes vêm ocorrendo por toda a parte. Basta lembrar a atuação de Haussman, abrindo as grandes avenidas em Paris, ou o exemplo do Ring na Viena do século XIX.
Mas nem sempre são com obras de grande porte que se enriquece e se modifica a fisionomia de uma cidade. É sempre o contraste que consegue o efeito desejado ou qualquer coisa que falta à cidade, que os moradores nunca pensaram possuir e que surge criando um ponto de atração inesperado.
Dizem que o museu que desenhei na entrada de Niterói deu nova vida àquela cidade, levando os que visitam o Rio a estender o seu passeio até Niterói, curiosos de verem o novo museu, o que antes não acontecia.
Esse contraste que uma obra arquitetônica inovadora cria num ambiente mais singelo se repete agora em Natal.
É um local bonito, perto do mar; no entanto, quando for construída a torre que projetei, com um memorial no alto da cobertura, é com novo entusiasmo que os moradores dessa cidade visitam aquele lugar. Todos querem ver o memorial e, quando possível, levam os visitantes a acompanhá-los, e para eles surge um espetáculo inesperado: a cidade a se estender junto ao mar, bela e acolhedora como nunca a imaginaram.
Lembro, satisfeito, quando o prefeito Carlos Eduardo Nunes Alves me procurou, orgulho da obra que estava concluindo: "Ah, como é bonito [disse-me ele] ver a cidade do alto, prolongando-se próxima ao mar!" e senti, agradecido, a importância que ele dava ao meu projeto. Já não era apenas a satisfação de ver concluído um trabalho diferente e bem elaborado, mas a alegria de constatar que o povo de Natal, sem distinção de classe, dele iria usufruir.
Foi um desses momentos especiais em que a vida, tão precária, nos permite sorrir um pouco.
(in Nosso Caminho, revista de arquitetura, arte e cultura)
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