Duelo de titãs entre Félix (Mateus Solano) e Eron (Marcello Antony): novela dá sentido aos versos de Marina Lima – se todo mundo é mesmo gay, o mundo está na mão deles (Divulgação)
Paulinha (Klara Castanho) está sequestrada no Peru, Valdirene (Tatá Werneck) descobriu que está grávida, Patrícia (Maria Casadevall) e Michel (Caio Castro) querem usar o apartamento de Perséfone (Fabiana Karla) para encontros românticos e Nicole (Marina Ruy Barbosa) é uma assombração que pouco aparece. Mas, apesar da fartura de tramas e assuntos, o que causa mesmo suspense em Amor à Vida (Globo, 21h15) são as histórias vividas pelos personagens homossexuais.
Os dramas gays dominam a novela não só por causa da frequência com que são mostrados, mas também pela consistência dos personagens e seus diálogos. Depois de Félix (Mateus Solano) tomar a novela para si, é a vez de Eron (Marcello Antony) dizer a que veio e assumir seu papel de “lacraia do olho azul”. Primeiro, ele tratou de ter uma recaída, traindo o marido, o doce NIko (Thiago Fragoso), com a amiga e “barriga solidária” Amarilys (Danielle Winits). No mesmo dia, assumiu o posto de Felix no San Magno e deixou claro – numa conversa que foi puro duelo de titãs – que pretende mantê-lo. “Eu tomei o seu lugar”, disse – enfim alguém a enfrentar o malvado favorito do horário nobre de igual para igual.
Félix foi escorraçado “desse hospital”, como eles dizem na novela, porque o pai, César (Antonio Fagundes), implica com sua orientação sexual. E não é que colocou outro gay no lugar?
A novela demonstra como os preconceitos podem ser incoerentes e, para isso, dedica uma parte considerável de suas cenas aos personagens homossexuais – todos masculinos, por enquanto – que, não por acaso, têm o melhor texto. Ainda que soe um pouco exagerado para uma parte dos telespectadores, é uma maneira inteligente de se aproveitar das discussões do mundo real sobre direitos civis e homofobia, canalizando a curiosidade da maioria sobre o estilo de vida da minoria. Nesse campo, Amor à Vida tem se esmerado em fugir do maniqueísmo, do preto no branco, dando todas as nuances possíveis a esses personagens.
A partir deles, criam-se situações realmente novas na teledramaturgia, amparada em clichês desbotados há tempos. O maior prejuízo, entretanto, vem da comparação: talvez seja por isso que os héteros da novela pareçam tão esquemáticos e desinteressantes.
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