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Nivaldo Cavalcanti trata sua filha Juliana como uma funcionária, sem regalias. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press |
Quatro empreendedores que construíram empresas com muito esforço e dedicação. Também são pais e, por uma obra do destino, viram os filhos seguir pelo mesmo caminho que escolheram. Filhos estes que, um dia, darão continuidade aos negócios. As relações ultrapassam a convivência familiar e passam a existir no âmbito profissional. Neste domingo, Dia dos Pais, o Diario mostra a história de Helson, João, Nivaldo e Severino. Chefes dos próprios filhos, eles contam como é o dia a dia de contribuir para a formação não apenas dos próprios filhos, mas de seus sucessores.
Com quarenta anos de profissão, o médico João Paiva, 66, tem a felicidade de ver três de seus cinco filhos exercendo a mesma ocupação que ele. Pai da cirurgiã obstetra Patrícia Paiva, 36, da dermatologista Virgínia Paiva, 30, da radiologista Cristiane Paiva, 32, e dos advogados Erivelto Paiva, 29 e Angélica Paiva, 32, ele construiu o Hospital Santa Genoveva, em Candeias. Especialista em ginecologia obstetrícia, todos os dias João atende suas pacientes e convive com, pelo menos, duas de suas filhas, além do filho, que também dá expediente no local. A parceria já dura quase 10 anos. “A iniciativa de vir trabalhar comigo foi deles. Eu os convidei, mas eles tiveram toda a liberdade para aceitar ou não”, lembra.
João Paiva divide com os filhos uma parceria que dura quase 10 anos. Foto: Arthur de Souza/Esp.DP/D.A Press |
Filho deu origem aos negócios
O sentimento do empresário Helson Barros, 67, pelo seu filho deu origem à empresa da família. Em 1987, Davi Barros, na época com 16 anos, era o tenista número 2 do Brasil. A rotina de viagens pelo país e pelo mundo fez com que Helson construísse um espaço voltado para tenistas. Foi assim que surgiu o Squash Tennis Center, em Boa Viagem. A decisão foi tomada para que Helson passasse mais tempo com o filho. “Eu queria acompanhá-lo em todos os torneios. Ficar mais próximo, mesmo que ele não seguisse a carreira profissional”.
Davi não seguiu carreira na área. Cursou administração, passou um tempo fora do país e retornou. A empresa de Helson cresceu e se tornou referência na região para os amantes do tênis. Hoje, Davi e sua irmã, Mônica Barros, além do cunhado, fazem parte da administração direta do negócio. “É assim há 10 anos, desde que eu deixei o emprego numa multinacional e decidi participar da gestão”, lembra Davi. Desde então, Helson deixa seus filhos gerirem toda a empresa e observa como tudo está sendo executado.
Acompanhar filho Davi (de branco) em campeonatos motivou Helson a abrir a Squash Tennis Center. Foto: Arthur de Souza/Esp.DP/D.A Press |
Sem regalias para a filha
Todos os dias, a administradora Juliana Cavalcanti, 30, e o empresário Nivaldo Cavalcanti, 65, seguem o caminho para o trabalho no mesmo carro. No trajeto até a empresa, nada de conversas sobre o almoço do fim de semana ou sobre a próxima viagem em família. Os assuntos de trabalho começam cedo e seguem até o fim do dia. Há 10 anos, eles formam uma parceria que ajuda na gestão da Teletáxi, empresa que existe desde 1985.
Juliana começou a atuar na empresa assim que entrou na faculdade de administração. Lá, era como se ela desempenhasse as atividades de uma estagiária. O dia a dia na companhia fez com que os conteúdos em sala de aula fossem assimilados rapidamente e ela levava muitas novidades que aprendia na universidade para a empresa. Sobre a escolha do curso, ela acredita que a influência do pai foi determinante. “Eu não fui forçada, mas sempre admirei a forma como ele faz a gestão e por isso optei pela mesma carreira”, diz. Ela exerce a função de gerente das áreas administrativa e financeira da organização.
Para Nivaldo, a convivência diária com a filha no ambiente profissional é muito benéfica. Ele diz que há uma complementaridade entre os dois. “Ela tem uma visão moderna do mundo dos negócios, enquanto eu estou apegado a modelos antigos de gestão. Essas duas formas de pensar, juntas, estão dando ótimos resultados. O aprendizado é mútuo”, comemora. E a reciprocidade não se limita ao aprendizado, já que os dois sentem muito orgulho um do outro. “É muito bom dividir, além do ambiente familiar, o cotidiano profissional com ele. Ele sempre foi alguém de extrema importância na minha vida”, declara Juliana.
Bio e Severino Inácio dividem a paixão à frente dos restaurantes do Grupo Ilha. Foto: Nando Chiappetta/DP/D.A Press |
Vocação desde criança
Enquanto a maioria das crianças com 6 ou 7 anos está brincando e aproveitando as férias, Severino Júnior (conhecido também como Bio) estava ajudando seu pai no caixa de um dos restaurantes que faz parte do Grupo Ilha, fundado há mais de 30 anos. O pai, que também se chama Severino (Inácio) fundou o grupo junto com o irmão. Além do nome, Severino e Bio têm outra coisa em comum: a vocação para os negócios.
A precocidade assustava os clientes. “Eles questionavam se o meu filho conseguiria contar as cédulas corretamente. Eu sempre confiei nele, desde pequeno. Via que tinha vocação para aquilo”, lembra Severino. Hoje, aos 26 anos, Bio é um dos braços do pai na gestão da empresa. A irmã e advogada, Suellen Lucena, 27, e o primo Renato Lucena, completam o time que coordenam a gestão do grupo junto com os sócios.
A atuação oficial dentro do grupo começou apenas em 2004, logo após Bio se formar em administração. Em quase 10 anos, ele desempenha funções executivas. É responsável por tocar projetos e ideias, tirá-los do papel e concretizá-los. “Como eu já conheço a empresa desde criança, a minha adaptação foi fácil. Eu conciliei os conhecimentos adquiridos na faculdade às necessidades da companhia, e deu tudo certo”, explica. Nesta relação entre pai e filho, ou se prefirem, entre chefe e empregado, o aprendizado é mútuo, e as conquistas também.
Gestão familiar precisa de atenção
De acordo com a advogada do escritório Queiroz Cavalcanti, Mariana Moura, a convivência entre pais e filhos no ambiente de trabalho tem um lado positivo. “A transmissão dos valores e cultura da empresa acontece de forma mais intensa”, diz. Outro benefício diz respeito ao senso de responsabilidade e comprometimento, que tendem a ser maiores.
Por outro lado, é preciso que as regras estejam claras. “O pai, que nestes casos é o principal gestor, precisa definir bem a função que cada filho vai ter e precisará atuar como profissional dentro do ambiente de trabalho”, orienta. Segundo ela, as possibilidades de conflitos são grandes, já que os envolvidos podem confundir os laços profissionais com os pessoais. Para que isso não aconteça, é preciso tratar os filhos como qualquer outro profissional. “É preciso chamar a atenção, quando necessário. Mas isso deve ser feito dentro da empresa, não em casa”, finaliza.
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