segunda-feira, 26 de agosto de 2013

HISTÓRIA - Feira de São Cristóvão: um Nordeste inteiro no Rio de Janeiro

Um pedacinho do Nordeste em plena "Cidade Maravilhosa". Ao olhar em volta nem parece que você está em São Cristóvão, um bairro tradicional do Rio de Janeiro, antigo lar da família imperial brasileira. Ali, perto da Quinta da Boa Vista, do centro do município e da Avenida Brasil, a Feira de São Cristóvão conquista os visitantes por representar os costumes da região mais alegre do país.
Como tudo começou
Em 1945, os nordestinos começaram a chegar no Rio de Janeiro, no campo de São Cristóvão, exatamente ali onde se encontra hoje a Feira de São Cristóvão. Em meio à paus-de-arara lotados de retirantes que sonhavam em fazer a vida no Sudeste, a luta diária que se apresentava nos dias vindouros, o trabalho e o suor não eram suficientes para acabar com a alegria típica daqueles que viviam acima dos trópicos. Bastava anoitecer para deixarem um pouco de lado os problemas comuns da vida e abrir a alma para a cultura nordestina se fazer presente ao redor do Pavilhão de São Cristóvão.
A festa acontecia todas as noites: muita música e comidas rolavam até o sol raiar, tudo para os nordestinos matarem a saudade da terrinha, encontrarem conhecidos e receberem parentes que também estavam indo ao Rio de Janeiro tentar a sorte. Com o tempo, não apenas eles arrastavam pé e comiam queijo coalho, mas também cariocas, paulistas, estrangeiros, enfim, quem desse a cara por aqueles cantos. Aquele lugar ficou conhecido como a Feira dos Paraíbas.
Foi preciso então dar uma atenção maior àquele fenômeno, e em 2003 a prefeitura resolveu colocar a mão na massa: fez uma grande reforma no pavilhão de São Cristóvão, colocou a feira para dentro, organizou barracas e lojas e tornou o lugar em um grande centro cultural, o, oficialmente falando, Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, mais conhecido como a Feira de São Cristóvão ou Feira dos Paraíbas.
A Feira
E o que tem de bom na Feira de São Cristóvão? Ela é a alternativa que os cariocas e turistas de todos os cantos do Brasil e do mundo têm para experimentar um pouco do Nordeste, mesmo estando a pelo menos 2 mil km de distância de lá. Passeando por ali, você encontra aproximadamente 700 barracas e lojas, todas divididas por sete núcleos culturais, expondo bebidas, pratos típicos e artesanato genuíno. E ainda se depara com atendentes simpáticos que, provavelmente, vão te chamar para experimentar alguma coisa.
Os restaurantes são quase todos decorados tipicamente, não é difícil encontrar bonecos de Lampião e Maria Bonita servindo como itens de ornamentação. Aliás, são eles que deixam o lugar mais aconchegante. Experimentar um baião de dois ou macaxeira com manteiga de garrafa e carne seca é uma boa pedida.
Andando mais um pouco pelas ruelas da feira, você chega à Praça Catolé do Rocha e encontra diversos livretos fininhos, pendurados em cordinhas e pregadores de roupa; esta é a famosa Literatura de Cordel. Por ali, o som da viola combinado com o ritmo acelerado e chamativo da voz dos repentistas fazem todo mundo ficar boquiaberto com as façanhas de não tropeçarem em uma só palavra, improvisando versos em cantorias. É de impressionar.
Quem gosta de shows com a cara do Nordeste pode assistir aos de forró, maracatu, baião, xaxado e muito mais; eles acontecem nos palcos João do Vale e Jackson do Pandeiro. Tudo isso embalado a muita energia positiva, revelando a tal cultura a quem estiver na feira. Nomes consagrados da MPB e artistas anônimos revezam suas apresentações.
Esse bocado nordestino incrustado em pleno Rio de Janeiro pode ser conferido também nas várias pracinhas que viram pista para dançar forró - praças Padre Cícero, Frei Damião, Mestre Vitalino e Câmara Cascudo -, exatamente para o visitante poder usufruir com total intensidade o encontro com uma cultura única e genuinamente brasileira.
O fluxo de visitantes não para um minuto sequer, é gente de todo tipo: os funcionários de empresas próximas que vão ali para almoçar, pessoas que querem comprar comidas típicas, o pessoal que gosta de fazer uma social no fim do expediente e o público que quer curtir o lugar, conhecê-lo, dançar, cantar, se divertir a noite toda e sentir o Nordeste bem de perto. É um entra e sai intenso de pessoas de terno e gravata, ao lado das que estão de chinelos, de outras com roupas brilhosas, enfim, de tudo um pouco. São todas as tribos num lugar só, pois a Feira de São Cristóvão conquista todo mundo.
Faça as contas: se ela funciona de terça à quinta, das 10h às 18h e a partir das 10h de sexta só encerrando suas atividades às 21h de domingo, quantas pessoas você acha que passam por lá por mês? Pasme: aproximadamente 300 mil, uma quantidade muito maior do que o número de moradores de muitas cidades brasileiras, como Juazeiro do Norte e Porto Seguro, por exemplo. Para entrar, basta pagar R$3,00.
Uma coisa é certa: é improvável sair da Feira de São Cristóvão sem experimentar nada. Dar uma bebericada na cachaça da terrinha, comer aquele doce que só existe no Nordeste, almoçar um saboroso sarapatel, levar para casa uma posta de carne de sol para preparar para a família, comprar um artigo de couro, uma roupinha de renda, a tal farinha amarela que só tem por ali, dançar forró ou simplesmente conversar com os feirantes são situações corriqueiras. A Feira de São Cristóvão é, definitivamente, a cara do Brasil!

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