quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Eduardo mostra que é do ramo e desembarca no dia certo

Por Fernando Castilho, especial para o Blog de Jamildo
As chances do governador Eduardo Campos virar presidente, como mostram as pesquisas, continuam pequenas. Mas, ele mostrou que é do ramo, ontem, ao desembarcar do governo Dilma no único dia que havia no calendário político do ano. O dia em que o ministro Celso de Mello, do STF, abriu a possibilidade dos réus do mensalão terem mais uma chance de pedir redução de suas penas.

Como se viu, abstraído os petistas de carteirinha, os familiares dos culpados e alguns advogados mais afinados com a doutrina do Direito, o Brasil e a torcida do Flamengo, do Corinthians, do Grêmio, do Santa Cruz e do Íbis queriam se livrar desse diabo de processo chamado de Ação 470. Bem da verdade, o cidadão comum desejava mesmo era ver a imagem de um delegado da Polícia Federal algemando José Dirceu, Delúbio Soares, João Paulo Cunha e José Genuíno. Mas, fazer o que? O ministro Celso pensa diferente.

E foi essa data que Eduardo Campos viu como a única janela temporal para mandar sua tropa ir para casa. Ou melhor: ir para a oposição ou, pelo menos, para um campo político cuja tese é mostrar à sociedade que o problema do Governo Dilma não é político, mas de gerenciamento. De dificuldades de tocar, com capacidade política, o gerenciamento do Estado brasileiro. Necessariamente nessa ordem.

Eduardo Campos não quer ser oposição ao modelo petista de governar com forte apelo social. Também não quer a porralouquice de Marina Silva que sonha com um governo azul beleza e que despreza o Congresso e os políticos impuros. E sabe que no campo do PSDB ele tem chance zero porque a vaga é de Aécio Neves e priu!

Sabe mais que nós todos juntos que a banda do PSDB estará no jogo de todo jeito. O PSDB vai estar na disputa porque, simplesmente, controla 70% do PIB brasileiro. Pode ser Aécio, Maria do Céu ou Carlinhos Bala. Com essa sigla, qualquer um vira um candidato competitivo. Então nesse campo ele sabe que não tem jogo.

Mas, no campo de cá pode ser que saia um caldo. Quem enxerga dois centímetros à frente do nariz sabe que as perspectivas da economia brasileira, em 2013, são de um crescimento minguado de, no máximo, 2,5%. Ano que vem o bicho também vai pegar seja porque vamos crescer menos ou porque os Estados Unidos vão voltar crescer em ritmo mais forte a ponto de retirar os estímulos à economia que desde 2008 vem mantendo. Vai faltar dinheiro para os emergentes porque o dólar de todo mundo está voltando para casa.

Tem mais: Lembra da imagem das caixinhas que Eduardo Campos sempre fala para esculhambar Dilma Rousseff em privado? Aquela em que ele diz que Dilma saiu abrindo um monte de caixinhas sem fechar nenhuma. A caixinha do setor elétrico, dos portos, dos aeroportos, das estradas, do setor de saúde e vai por aí?

Esse discurso é música para quem teve sua caixinha aberta. No setor elétrico e no de petróleo e gás, então, é uma festa. No setor elétrico, fora Dilma, todo mundo reclama do desmonte do setor que tinha um projeto de longo prazo e que ela desmanchou com a ideia de baixar a conta de luz. Não adiantou nada. O povo já nem lembra mais.

No de petróleo, o pessoal da Petrobras acusa Dilma e Lula de "quebrar" a empresa com o preço congelado da gasolina: É R$ 1 bilhão de prejuízo por mês. Para o pessoal do chamado “Partido Petrobras” a venda de ativos fora do Brasil como Graça Foster está fazendo, é a maior demonstração de que o Governo do PT acabou com a empresa para tentar controlar a inflação.

O que pouca gente sabe é que Eduardo Campos é o queridinho da base de cientistas da Petrobras desde que, como ministro de Ciência & Tecnologia, determinou que o Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes) deveria ter dois assentos no Conselho Nacional de Petróleo. Tem até uma placa homenageando-o na sede do Cenpes no Rio.

No setor empresarial, aquela conversa mansa de que é preciso fazer mais, cabe direitinho na legião de descontentes. De quem deixou de ser ouvido desde que Dilma sentou na cadeira do gabinete da presidência. Dilma fala de cima, é mal humorada e se irrita fácil com quem fala bobagem.

Agora imagina uma conversa dela com esse monte de deputado tabacudo que faz a base aliada? Ou imagina uma discussão dela mais aprofunda para discutir cargo com gente como Carlo Luppi (PDT), Roberto Jefferson (PTB), Waldemar Costa Neto (PR) e Ciro Nogueira (PP) que só estão interessados em manter uma base firme no Congresso sem a ajuda do PMDB ou do PT e do PC do B?

Eduardo Campos sabe disso e sabe que na base aliada seu partido é o único que tem cacife e coragem para desembarcar do governo. Porque talvez seja o único, depois do PT e do PSDB, que tem projeto de poder. Enquanto os demais partidos estão pensando nas suas bases em 2014, o PSB de Eduardo Campos quer comandar o processo.

Alguém pode dizer: mas para cachorro novo, o PSB está entrando muito na mata. Mas, e daí? Eduardo Campos tem o que nem PT e o PMDB e até mesmo o PSDB tem: tempo. Se não der certo agora em 2014, ele sai como uma liderança nacional. Se não chegar ao segundo turno sai da campanha podendo mandar o partido com uma força no Congresso que somente Ulysses Guimarães teve. Vai negociar com as ações em alta.

Só que ele não trabalha com isso. Ele acha que pode ir para a briga como uma alternativa a Dilma. E no afunilamento da campanha, chegar até ter o apoio do PT e "do resto" que apoia quem tiver chance. Bom, essa é a conta que ele faz ou que deixa transparecer para seu grupo.

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